24 janeiro 2006

O Fiel Jardineiro

Actualmente vou muito pouco ao cinema; consequência de ter de estudar... mas é de facto algo que muito aprecio. O ecrã grande fascina-me!
Na passada semana foi ver um filme que muito me agradou. Um filme diferente... violento, pesado... um drama que nos reduz à insignificância.

Em termos técnicos, destaque para o realizador Fernando Meireles e para as interpretações de Ralph Fiennes, Rachel Weisz e John Sibi-Okumu (diria mesmo, excepcionais!). O filme tem uma fotografia soberba e as imagens do Quénia são capazes de encantar qualquer um... mas há outras imagens excelentes! Deixo-vos um link do filme, porque não sou um especialista na matéria:

http://us.imdb.com/title/tt0387131/

“O Fiel Jardineiro” é um drama, que como quase em tudo na vida, se centra numa história de amor. A acção desenrola-se no Quénia e baseia-se no poder actual da industria farmacêutica, aliada aos lobbies da alta diplomacia em vários países. O cerne da questão está no valor da vida humana. Quanto vale a vida humana? Quantos milhões de dólares podem ser poupados, utilizando humanos como cobaias? Há vidas desprezáveis? Porquê? Porque não têm dinheiro? Porque vivem miseravelmente? Porque habitam países pobres e sobrepovoados, com taxas de natalidade elevadas? A quantidade de dinheiro que se possui e o lugar onde se nasceu são factores que podem tornar alguém mais ou menos valioso e importante (ou desprezável), que outro?
Neste filme vemos populações numerosas sem os cuidados mínimos de saúde, enquanto a elite se apodera dos fundos destinados aos cuidados de saúde desses povos para enriquecer, luxúriar e se excêntrizar. Pior ainda, vemos que os poucos cuidados de saúde que essa população recebe, são pagos a um preço bem alto, ainda que inconscientemente... não com um valor monetário, mas pondo a sua saúde em risco pelos efeitos secundários desconhecidos dos novos medicamentos não testados. Aliás, “em teste” nessas populações, quer estejam doentes ou não! E é claro, com o pormenor macabro da ignorância de quem os ingere...
No meio de toda esta insanidade, quem se tentar opor, paga com a sua vida... e com uma morte especialmente dolorosa...

O filme não termina bem, mas deixa-nos uma lição de valor, de consciência, de dignidade: se convivermos com esta injustiça sem nada fazer, mais vale não viver... ou então assumimos a nossa hipocrisia num comportamento indiferente e aplaudimos diariamente as acções dos poderosos, cada vez mais poderosos e impunes, tornando os indefesos cada vez mais insignificantes. Devemos ainda “rezar” para que um dia, na falta de mais cobaias insignificantes, não nos calhe a nós a vez...
Ficção ou não, alguma ponta de realidade inspiradora?! Tudo acontecia no Quénia... longe de nós, portugueses, europeus! Será que um dia poderemos ser nós as cobaias? Os mais fracos? No fundo, os desprezáveis...

Sérgio

2 comentários:

Anónimo disse...

Magnífico este filme, na minha opinião um dos melhores do ano 2005, apesar de ter gostado muito do argumento do filme "Colisão".

Filipe Carmo disse...

Já está na lista dos "a não perder" há algum tempo... infelizmente ainda não tive oportunidade de o ver...