30 outubro 2007

O Culto da Imbecilidade.

Portugal é um país único e inédito em muitas coisas boas. Pena é, que grande parte da população continue a cultivar outras tantas más... só porque são tipicamente “nossas”, “portuguesinhas”.

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A televisão é responsável actualmente por parte desse culto. Como meio de comunicação determinante nos media, parece que a RTP1, SIC e TVI estão especialmente empenhadas, e em conluo, em embrutecer um bocadinho mais, aqueles que por natureza já têm uma forte tendência para o ser. E não são poucos...

Refiro-me a uma saga que começou com o Chuva de Estrelas (programa que nunca percebi se era de emitação ou interpretação, tal a volatilidade do juri) e Big Brother, e tem tido continuidade com a Operação Triunfo, Família Superstar e o outro dos casamentos da TVI, que nem me lembro agora do nome...

Nestes programas enaltece-se a imbecilidade e o “grunhismo”, visto que os herois são os que nada fazem com mérito... os coitadinhos! Não posso conceber que se dê tempo de antena a quem nada de bom tem para ensinar, melhorar a cultura ou a qualidade de vida dos tele-espectadores. O que se aprende a ver um Big Brother? Ou os Acorrentados? Piada?!... Do pouco que vi, só me ri dos responsáveis pelos programas: “Como é que alguém põe no ar isto?! Ahahahahah!!!”.

Quantos aos outros programas de suposta índole musical, o meu desagrado é enorme (sim, porque em relação aos outros o sentimento é mesmo de indiferença...). Realmente custa-me aceitar que num país cheio de excelentes músicos, que estudam, aprendem, compõem música e escrevem letras (originais!), se invista tanto naqueles que se limitam a tentar imitar artistas de suposto e questionável sucesso em matéria de desempenho musical. Pior: dá-se inclusivamente, tempo de antena e em directo, àqueles que o júri do programa eliminou por considerar inaptos... por serem medíocres! E arrogantes, porque não têm a hulmildade de aceitar uma opinião avalizada; nem o bom senso de algum dia ouvirem as suas “escabrosas” interpretações. Ou seja, além de burros são surdos! Como é que permitem que alguém que canta tão mal, actue num programa de televisão? Para massificar a mediocridade?! Porque investem tantos recursos em pessoas sem qualquer talento criativo ou musical, e que apenas pretendem “imitar”? E não me venham falar em proporcionar sonhos a quem, declaradamente, não tem capacidades... Aceitar as nossas incapacidades chama-se crescer e os programas de televisão não podem ser exclusivamente dedicados a crianças. Especialmente a crianças grandes...

Revolta-me que se premeie os que não têm talento, os que têm horizonte curto, em vez de se investir, incentivar e reconhecer o mérito dos que são empreendedores, originais, criativos e realmente têm talento; ou sejam, os que acrescentam valor ao país. É assim no panoráma músical e é a razão porque tão dificilmente os artistas portugueses conseguem chegar à ribalta internacional: porque ninguém investe neles; e são poucos, porque não se incentiva a atitude empreendedora e vencedora.

É assim na música e em tudo. Premeia-se o funcionário público que não se quer ver reconhecido pelo seu desempenho, mas sim pelos seus direitos adquiridos (sabe-se lá a fazer o quê!). O empreendedorismo empresarial e a criação de riqueza são mal vistos... a riqueza é a origem de todos os males; Portugal continua iluminado (ainda) por uma luz vermelha comunista, apesar do 25 de Abril ter acontecido há 33 anos. Porque não queremos um Portugal desenvolvido e em crescimento; não, queremos continuar pequeninos e medíocres... para podermos ter pena de nós mesmos e continuarmos a homenagear a nossa incapacidade, por exemplo, em programas de televisão. E assim também podemos continuar a culpar os políticos “...que só estão lá para se governarem a eles mesmos; sim, porque são todos iguais!”.

No outro dia falava com uma amiga que queria mudar de casa. Segundo ela, queria mudar, porque aquele prédio “é um prédio de ricos” e ninguém contesta as obras do condomínio. Obviamente, o problema estava nos ricos e não na necessidade de manter o prédio em condições apresentáveis...

Na semana passada, ouvi também muita gente queixar-se do bom tempo... era preciso vir chuva e frio, para ficarmos fechados em casa a molestarmo-nos contra o mau tempo. O bom tempo traz boa disposição e não havia nada de momento para culpar... Era preciso arranjar uma desgraça qualquer... sermos felizes é que nunca! Isso até seria pecado... e não haveria desculpa para nada se fazer.

Normalmente não gostamos de espanhois... mas podíamos por os olhos neles: na forma como defendem a bandeira; como dão preferência às coisas espanholas... que na maioria dos casos até ficam aquém das portuguesas (Espanha é um país que privilegia o preço em deteor da qualidade). Mas premeiam os que criam, os empreendedores, os vencedores... não os perdedores ou os que ficam em 2.º lugar, ou os que quase conseguiam se não fosse... o tempo, o árbitro, o azar...

É tudo uma questão de mentalidade e de vontade de fazer coisas válidas.

Não gosto de criticar; prefiro largamente falar do que de bom existe. Mas mesmo os optimistas são prejudicados por esta atmosfera. Porque são empreendedores sem que ninguém os ajude; pelo contrário, têm de lutar contra todos aqueles para quem nunca vale a pena fazer nada porque “...isto está tudo feito de uma maneira que um gajo está lixado!”. Experimentem procurar no mercado de trabalho pessoas com vontade de trabalhar, criar e inovar! Experimentem! Mas não vos aconselho a começarem pelos desempregados... e esqueçam os funcionários públicos e afins!

E voltando à televisão, sinto-me lesado. Porque é que se quero ver um filme, um programa musical, de desporto (não futebol), um documentário sobre um tema interessante, tenho de esperar que acabem todas as telenovelas, programas da treta e outros, para que lá para a uma da manhã, finalmente, no meio de 5 intervalos para anúncios, consiga ver o pretendido. Para os responsáveis de programação dos canais, cultura deve ser igual a insónias... ou igual a videotape...

Seguramente as desgraças atraiem desgraças... e por este andar nunca sairemos da cauda da Europa para lado nenhum. Mas pior do que isso, só mesmo condenar o sucesso e enaltecer a imbecilidade. Há que entender que tudo o que nos acontece é responsabilidade nossa: o que recebemos é o reflexo do que dámos... e não de entidades sobrenaturais, ou da sorte e do azar.

Sérgio

11 outubro 2007

Conversas Soltas II.

Ele andava a passear no jardim do hotel sozinho; pensava nas mais diversas coisas da vida, enquanto bebia o seu JB com cola. Aquele passeio era uma introspecção, daquelas que fazemos em instantes de isolamento a meio de uma festa com centenas de pessoas.

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Quando chegou à zona da piscina, viu-a a ela no meio de muitas pessoas, muitas delas conhecidas. Houve algum magnestismo fora do comum. Já se conheciam, mas naquele momento, ela atraiu o seu olhar de forma diferente... nunca tinha sentido um olhar tão absorvedor.

Dirigiu-se até ela e começou a conversar com os presentes; conversaram animadamente mais de uma hora, até que as restantes pessoas começaram a abandonar o grupo... Mas eles os dois continuram... como que presos por uma ligação entre os seus olhares.

Deitaram-se na relva fresca; a noite estava quente... e continuaram a falar sobre os dois... presos por um olhar directo e interior. Falaram bastante de si mesmos e da vida de ambos num passado recente... e o olhar prendia-os. Ele pegou na mão dela e a conversa tornou-se mais íntima... e o olhar mais preso, mais profundo.

Ali ficaram mais de uma hora; conversaram, sorriram, olharam o céu e as estrelas, disfrutaram do ambiente magnífico da piscina e dos jardins do hotel, numa noite quente.

Ele estava fascinado... havia conhecido uma pessoa nova! Uma pessoa nova dentro de outra que já conhecia. Ela era muito mais bonita no seu intimo, do que a mulher deslumbrante que exteriormente exibia. Ele estava seduzido, estarrecido e apaixonado. O tacto da mão dela era absorvedor; tanto quanto o olhar... não lhe apetecia largar aquela mão nunca mais; tal como aquele olhar.

De repente ela bocejou e referiu que estava cheia de sono; estava cansada, pois já na noite anterior havia-se deitado muito tarde. Levantaram-se da relva refrescante atordoados... sorriram, compararam alturas e despediram-se com dois beijos.

Ele dirigiu-se para o quarto, encantado, surpreendido, mas principalmente, apaixonado.

Voltaram a encontrar-se nos dias seguintes. O olhar dele mantinha-se... mas sem reflexo no dela. Cruzaram-se várias vezes, mas o reflexo no olhar dela apagou-se... ele era quase invisível para ela.

O tempo passa... ele continua apaixonado e à procura daquela pessoa, daquele olhar que teve o privilégio de conhecer naquela noite. Dela... nada se sabe... tornou-se invisível provavelmente.

Ele interroga-se diáriamente: o que terá acontecido àquela pessoa? O que terá acontecido naquela noite quente? O que lhe aconteceu a ele... não entende...

Sérgio

P.S.: Texto escrito em Maio de 1997.