31 julho 2008

26 julho 2008

Quinta da Fonte.

Quando há duas semanas ouvi as notícias sobre os episódios insólitos ocorridos em Loures, outras tantas coisas me ocorreram quanto às causas que levariam a toda aquela onda de violência, selvajaria e vandalismo.
Para vos dizer a verdade, achei que estava a complicar e fiquei calado... nem comentei com ninguém... não fosse estar a ser injusto e elitista ou demagôgo nas minhas conclusões.
Eis que esta semana, um amigo envia-me um email com um excelente artigo de um jornalista da minha maior simpatia e admiração: Mário Crespo. Leiam e comentem... se forem capazes...

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"Limpeza étnica

O homem, jovem, movimentava-se num desespero agitado entre um grupo de mulheres vestidas de negro que ululavam lamentos. "Perdi tudo!" "O que é que perdeu?" perguntou-lhe um repórter. "Entraram-me em casa, espatifaram tudo. Levaram o plasma, o DVD a aparelhagem..."
Esta foi uma das esclarecedoras declarações dos auto desalojados da Quinta da Fonte. A imagem do absurdo em que a assistência social se tornou em Portugal fica clara quando é complementada com as informações do presidente da Câmara de Loures: uma elevadíssima percentagem da população do bairro recebe rendimento de inserção social e paga "quatro ou cinco euros de renda mensal" pelas habitações camarárias.
Dias depois, noutra reportagem outro jovem adulto mostrava a sua casa vandalizada, apontando a sala de onde tinham levado a TV e os DVD. A seguir, transtornadíssimo, ia ao que tinha sido o quarto dos filhos dizendo que "até a TV e a playstation das crianças" lhe tinham roubado.
Neste país, tão cheio de dificuldades para quem tem rendimentos declarados, dinheiro público não pode continuar a ser desviado para sustentar predadores profissionais dos fundos constituídos em boa fé para atender a situações excepcionais de carência. A culpa não é só de quem usufrui desses dinheiros. A principal responsabilidade destes desvios cai sobre os oportunismos políticos que à custa destas bizarras benesses, compraram votos de Norte a Sul. É inexplicável num país de economias domésticas esfrangalhadas por uma Euribor com freio nos dentes que há famílias que pagam "quatro ou cinco Euros de renda" à câmara de Loures e no fim do mês recebem o rendimento social de inserção que, se habilmente requerido por um grupo familiar de cinco ou seis pessoas, atinge quantias muito acima do ordenado mínimo. É inaceitável que estes beneficiários de tudo e mais alguma coisa ainda querem que os seus T2 e T3 a "quatro ou cinco euros mensais" lhes sejam dados em zonas "onde não haja pretos". Não é o sistema em Portugal que marginaliza comunidades. O sistema é que se tem vindo a alhear da realidade e da decência e agora é confrontado por elas em plena rua com manifestações de índole intoleravelmente racista e saraivadas de balas de grande calibre disparadas com impunidade. O país inteiro viu uma dezena de homens armados a fazer fogo na via pública. Não foram detidos embora sejam facilmente identificáveis. Pelo contrário. Do silêncio cúmplice do grupo de marginais sai eloquente uma mensagem de ameaça de contorno criminoso - "ou nos dão uma zona etnicamente limpa ou matamos." A resposta do Estado veio numa patética distribuição de flores a cabecilhas de gangs de traficantes e auto denominados representantes comunitários, entre os sorrisos da resignação embaraçada dos responsáveis autárquicos e do governo civil. Cá fora, no terreno, o único elemento que ainda nos separa da barbárie e da anarquia mantém na Quinta da Fonte uma guarda de 24 horas por dia com metralhadoras e coletes à prova de bala. Provavelmente, enquanto arriscam a vida neste parque temático de incongruências socio-políticas, os defensores do que nos resta de ordem pensam que ganham menos que um desses agregados familiares de profissionais da extorsão e que o ordenado da PSP deste mês de Julho se vai ressentir outra vez da subida da Euribor. "

Já tinham visto as coisas nesta perspectiva? É o que dá terem pena dos coitadinhos em vez de ajudarem quem faz por merecer!

Sérgio

21 julho 2008

If It Be Your Will - Thank You Mr. Cohen For Being Simply The Greatest...

Apesar de já terem passado mais de 36 horas, continuo em extâse...

A partir do momento em que Leonard Cohen entra em palco e diz "Hi! Good Evening! Thank you for coming tonight...", é impossivel não ficar imediatamente estarrecido... Assistir àquele concerto tornou-se um acto de veneração de quase 3 horas.

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As condições não eram nem de perto as adequadas. Estávamos ao ar livre, num parque de estacionamento, mais de 10.000 pessoas. Havia apenas duas barracas para comprar algo que se pudesse comer, 3 para bebidas e uma casa de banho individual... A quantidade de concertos que se sucede no Verão é vergonhosa: obriga o público a fazer escolhas (em Lisboa na mesma noite, Lou Reed; no Porto, a 3.ª noite do Marés Vivas com um cartaz quase tão bom quanto o Optimus Alive); os recintos não têm qualidade; os espectáculos são pouco rentáveis (o que levará á sua extinção...). Durante o resto do ano pouco há... a concentração de eventos em Lisboa é também, e só por si, esmagadora. Tudo indica que os espectáculos de música em Portugal são uma mina, que rapidamente se esgotará...

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Vi passar por mim Durão Barroso, Colin Farell e Tim Robbins. A plateia tinha uma quantidade de estrangeiros impressionante... e sendo dominada por pessoas com mais de 40 anos, de destacar a quantidade de miúdos (menos de 20 anos), que marcaram presença e cantavam as letras com igual desenvoltura ao que sucederia num concerto dos Tokio Hotel ou dos Likin Park. Este é o tipo de concerto que deveria ser assistido numa excelente sala de espectáculos, dando ao cantor o seu melhor ambiente intimista. Nunca esperei ver e sentir o que me foi presenteado... ao fim daquelas modestas palavras, o Passeio Marítimo de Algés (onde decorreu o fantástico Optimus Alive), tinha-se transformado na mais intimista sala de espectáculos, com a figura de Leonard Cohen a impor tal presença, que nos faz sentir insignificantes tal a sua delicadeza, tranquilidade, educação, elegância, serenidade, grandiosidade, e acima de tudo, humildade!

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O espectáculo é em tudo surpreendente. Leonard Cohen é um profissional, um mestre, um Senhor! Não, não me refiro só à arte da música e da poesia; refiro-me à arte de viver! E é isso que impressiona mais... a sua actuação transmite uma quantidade de sensações, sentimentos e emoções... passei o concerto com as lágrimas nos olhos e aquela comichão na ponta do nariz (e em grande esforço para que não fosse perceptível... a sensação permaneceu, quer ontem enquanto contava o que vi ao meu Pai, quer hoje enquanto escrevo...), arrepiado da ponta dos pés à ponta dos cabelos, e a transpirar... apesar da leve brisa que corria e de eu estar apenas de t-shirt.

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A surpresa começa logo com a entrada em palco: entra sozinho, seguido depois da banda, à hora estipulada (21h00 em ponto... esta não me surpreendeu, mas a maioria do recinto ainda mastigava qualquer coisa...), e a primeira coisa que fez, foi cumprimentar o público... Básico, óbvio e lógico... mas porque é que os outros artistas não o fazem? Não conseguem ser humildes? Serão assim tão grandiosos ou importantes?... Ou meramente insignificantes quando comparados com este Grande Senhor?... Fez um intervalo a meio do espectáculo de 20 rigorosos minutos. Vejo muitos concertos, mas só vi isto ser feito uma vez: pelo Bruce Springsteen, em Alvalade, 1993.

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O concerto que assisti é reflexo da música que o Grande Mestre compôs ao longo dos seus 40 anos de carreira: um espectáculo simples em que nada é deixado ao acaso. Tudo é resultado de um esforço de apuramento e aperfeiçoamento. Aqui não há inspirações esporádicas... há um trabalho contínuo de consistência, reflexão e sistematização. Não há espaço para improvisos ocorridos do nada... Tudo é construído, pensado e reflectido com o objectivo final de ficar tão próximo da perfeição quanto possível. O resultado é de tal coerência, que não posso apontar um ou outro tema como pontos altos do concerto... todo o encadeamento é tão interligado, que o espectáculo é um ponto alto de ponta a ponta. Uma constância de grandeza!

A carga emocional foi muito grande e acho que ainda não recuperei o meu descernimento por completo... Temas como Tower of Song, Hallelujah, If It Be Your Will, I'm Your Man, Suzanne, The Future, Bird on a Wire, Sisters of Mercy, Dance Me To The End of Love, So Long Marianne, The Stranger Song... enfim!... causaram um efeito na multidão, ao qual Leonard Cohen agradecia com frases sentidas e respeitosas como "...thank you! You sing so lovelly... you're so kind... thank you for your kind attencion...". Fez agradecimentos o concerto todo... agradeceu por termos vindo até ali, agradeceu os aplausos, os cânticos, as palmas, o país maravilhoso que temos, as pessoas simpáticas e bonitas, o cenário natural incrível onde tudo acontecia, e sentiu-se honrado por vir a um país com uma música e cultura tão bonita e especial como o nosso.

A grandeza deste homem leva a que elogie e agradeça aos excelente músicos que o acompanham, constantemente, ao longo da noite. No seu fato escuro e usando um chapeu escuro também, os gestos suaves e elegantes sucederam uns atrás dos outros. Não tenho dúvida em elegê-lo como a elegância em pessoa. Nunca imaginei existir alguém com uma presenção tão sedutora, tão elegante, tão acolhedora.

Aos 73 anos Leonard Cohen é o Mestre, o Senhor, o Grande, o Exemplo, a Elegância. Não necessários muito momentos para perceber isso na tranquilidade e constância do seu sorriso. Impressiona a sua destreza física; capaz de cantar em "cocaras" vários minutos, ou pular ao longo do placo com supless, elevando-se a mais de 20 cms do solo. A sua voz mantem-se igual ao que sempre conhecemos: plena de charme, envolvente, sedutoramente rouca, meiga em simultâneo e possante quando o pretende.

Convivo com uma sensação de bem-estar única desde Sábado... de bem com a vida... de tranquilidade... Parece que aprendi alguma coisa só em ver um concerto. Tudo corre bem a partir daquela presença... A viagem de regresso ao Porto foi óptima, a companhia excelente (já o tinha sido na ida... já agora, excelente Focus!); fui jogar futebol com algumas horas de sono, mas senti-me lindamente; passei um dia encantador com a família; hoje de manhã fui às Águas de Gaia fazer uma reclamação por me terem cortado a água indevidamente na empresa, com tão boa disposição, que ainda me agradeceram por o ter feito.

Se algum dia se cruzarem com Leonard Cohen, façam-lhe uma vénia de joelhos. É obrigatório! Eu, assim o farei.

Sérgio

16 julho 2008

Leonard Cohen ao vivo em Algés.

Ora aí está um concerto a não perder; nem que fosse pelo facto de dificilmente haver outra hipótese de o voltar a ver.

Foi este o sentimento que me levou a ir ver a Rickie Lee Jones na passada semana, e para vos dizer a verdade... saí um tanto desgosto... A voz tão característica e única está lá, imaculada. A figura é que está um tanto decadente. E nesta caso, fazer piadas com essa decadência não cai muito bem; ou pior ainda, fazer um espectáculo minimalista em que apenas é acompanhada por uma excelente voz e instrumentista (cujo nome não consigo encontrar... penso chamar-se Petra Haden), em nada contribui para que a imagem final seja boa. Falrou lá a banda "toda". Apesar disso, o concerto teve momentos excelentes, ou não fosse a matéria-prima (a música de Rickie Lee Jones), só por si, soberba. Outra coisa cómica, é que esta tournée de Rickie Lee Jones decorre inteiramente nos EUA, com uma excepção: Vila Nova de Famalicão... fica em caminho entre Boston e Detroit!

Mas em relação ao Sr. Cohen, estou certo que vou ver o mestre dos mestres em palco. A sua música não se adequa muito a um espectáculo como o previsto em Algés... ao vivo sim, mas mais intimista.

Lembro-me sempre das palavras de Nick Cave, que afirmava algo mais ao menos assim: saber apreciar a música de Leonard Cohen é, só por si, sinal de que somos uns privilegiados... e esse sentimento torna-nos as pessoas mais cool do mundo...

Ao contrário de muitos músicos, a presença deste senhor e a sua genialidade musical melhora com tempo... amadurece! Vou à espera de encontrar um concerto simples, mas marcante... pela consistência da música e pela imagem do mestre. Tal como referia Bono sobre o mestre Cohen, trata-se de alguém que se movimenta, descontraidamente, em terrenos onde muito poucos de nós, algum dia sonharemos alcançar. Independentemente de quão lata seja a nossa interpretação destas palavras, concordo inteiramente.

A obra de Leonard Cohen tem marcado intensamente o panoráma músical dos últimos 40 anos. É minha percepção que este homem conseguiu um feito único: a intemporalidade. Mais coisas?! Só futuro as dirá...

Sérgio



Give me back my broken night
my mirrored room,
my secret lifeit's lonely here,
there's no one left to torture
Give me absolute control
over every living soul
And lie beside me,
baby,that's an order!

Give me crack and anal sex
Take the only tree that's left
and stuff it up the hole
in your culture
Give me back the Berlin wall
give me Stalin and St Paul
I've seen the future, brother:
it is murder.

Things are going to slide, slide in all directions
Won't be nothing
Nothing you can measure anymore
The blizzard, the blizzard of the world
has crossed the threshold
and it has overturned
the order of the soul
When they said REPENT REPENT
I wonder what they meant
When they said REPENT REPENT
I wonder what they meant
When they said REPENT REPENT
I wonder what they meant.

You don't know me from the wind
you never will, you never did
I'm the little jew
who wrote the Bible
I've seen the nations rise and fall
I've heard their stories, heard them all
but love's the only engine of survival
Your servant here, he has been told
to say it clear, to say it cold:
It's over, it ain't going
any further
And now the wheels of heaven stop
you feel the devil's riding crop
Get ready for the future:
it is murder.

Things are going to slide...

There'll be the breaking of the ancient
western code
Your private life will suddenly explode
There'll be phantoms
There'll be fires on the road
and the white man dancing
You'll see a woman
hanging upside down
her features covered by her fallen gown
and all the lousy little poets
coming round
tryin' to sound like Charlie Manson
and the white man dancin'.

Give me back the Berlin wall
Give me Stalin and St Paul
Give me Christ
or give me Hiroshima
Destroy another fetus now
We don't like children anyhow
I've seen the future, baby:
it is murder.

Things are going to slide...

When they said REPENT REPENT...

(Leonard Cohen - The Future - 1992)

12 julho 2008

Rickie Lee Jones

Depois de um período longo sem escrever por aqui, parece que a inspiração regressou...

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Hoje à noite vou à Casa das Artes de Famalicão, ver e ouvir uma voz que me acompanha desde a infância. Ela mesmo, Rickie Lee Jones! A voz de menina sob a divagação do jazz-pop e do swing.

Já com 54 anos, mantem a mesma voz de minina e melhora a originalidade que sempre a caracterizou. Acompanhei a sua evolução musical desde o 1.º trabalho de 1979. Os ábuns sucedem-se com uma componente melódica invulgar. O ritmo jazz é suave e sincopado. A voz, essa é única e liga as duas componentes anteriores, da forma que só mesmo ela o sabe fazer.

Em 1989 faz um álbum fora de série: flying cowboys. A partir daí deixei de saber dela... Por incrível que pareça, desde então editou 9 álbuns!

Longe vão os tempos em que a sua beleza física encantava tanto quanto a sua voz, mas mesmo assim, é com grande curiosidade que logo vou estar frente a frente com esta respeitável senhora de 54 anos!


Sérgio