29 janeiro 2009

Para ti...

...que estás a ser teimosa contigo mesma... se o passado ainda tivesse o peso que te impede de dar o próximo passo, nunca o ponderarias dar...

Sérgio


vai caminhando desamarrado
dos nós e laços que o mundo faz
vai abraçando desenleado
de outros abraços que a vida dá

vai-te encontrando na água e no lume
na terra quente até perder
o medo, o medo levanta muros
e ergue bandeiras pra nos deter

não percas tempo, o tempo corre
só quando dói é devagar
e dá-te ao vento como um veleiro
solto no mais alto mar

liberta o grito que trazes dentro
e a coragem e o amor
mesmo que seja só um momento
mesmo que traga alguma dor

só isso faz brilhar o lume
que hás-de levar até ao fim
e esse lume já ninguém pode
nunca apagar dentro de ti

(Mafalda Veiga - O Lume)

22 janeiro 2009

A música que gosto de ouvir quando entro para o carro de manhã...

...e nem é banda que aprecie muito!

Sérgio



An old fairytale told me
The simple heart will be prized again
A toad will be our king
And ugly ogres are heroes

Then you'll shake
Your fist at the sky
"Oh why did I rely
On fashions and small fry?"

All promises broken
Feed your people or lose your throne
And forfeit your whole kingdom
I'd sooner lose it than still live in it alone

You were our golden child
But the gentle and the mild
Inherit the earth, while

Your prince's crown
Cracks and falls down
Your castle hollow and cold
You've wandered so far
From the person you are
Let go brother, let go
Cos now we all know

Soon, someone will put a spell on you
Perfume, treasure, sorcery, every trick they know
You will lie in a deep sleep
That's when

Your prince's crown
Cracks and falls down
Your castle hollow and cold
You've wandered so far
From the person you are
Let go brother, let go
Cos now we all know

(Keane - The Frog Prince, Under the Iron Sea)

14 janeiro 2009

Austrália.


É um dos países que mais curiosidade tenho em conhecer e sobre o qual roda em mim uma imagem paradisíaca, mas também cheia de magia e sobrenaturalidade. Os próprios animais tão característicos como o canguru, o koala ou o ornitorrinco, demonstram o misticismo desta região, além de tudo o que ouvimos os nativos arborígenas. Sobre estes há muitas histórias e lendas... dizem que conseguem manipular as forças da natureza, como por exemplo a chuva ou um raio no meio de uma tempestade. Sobre os seus poderes espírituais muito mais se conta... por exemplo, diz-se que conseguem absorver a força de um animal, podendo saltar como um canguru, ou serem fortes como um gorila... É concerteza este contexto tão indefinido quanto misterioso, que levou (talvez pelo medo) a que os neozelandeses lançassem o preconceito sobre estes nativos... Um tanto ao estilo do que a igreja fez na Europa há séculos atrás em relação a outros inimigos que não conseguia vencer.

Austrália é também o nome da recente produção cinematográfica norte-americana. Daquelas que está condenada ao sucesso mesmo antes de estar terminada... e que me cria alguma alergia, fazendo perder qualquer vontade de ir ver o filme... Mas a verdade é que fui... ao fim de alguma insistência, acabei por ir... Não há nada como um bom convite!

Por detrás de uma historinha de amor e de um filme cor-de-rosa está uma mensagem profunda... ao alcance de quem a quiser enfrentar... porque o filme está longe de ser dirigido a mentes eruditas. Posso dizer-vos que adorei! E até deu para encher os olhos de água...

O mais importante na vida são as histórias... histórias do que vivemos e do que sentimos... do que outros viveram e como sentiram esses momentos... e como os contam. Esta é uma das mensagens mais giras do filme, especialmente porque narrada pela ingenuidade infantil de um miúdo arborígena.

Da história cor-de-rosa nada vou escrever... é igual às outras... e faria perder o interesse em que for ver o filme. Prefiro "picar" um tanto mais a curiosidade de quem me lê, com o que vou escrever a seguir. Ainda que de forma resumida... tal como a linguagem arbirígena...

A mensagem que fica é que quando não amamos, quando fugimos dos nossos sentimentos, estamos mortos... vazios... e infelizes! Quando temos medo de amar e de sofrer a falta de outra pessoa, em vez de acreditar na magia dos sonhos e na nossa capacidade de os fazer acontecer, não seremos felizes, nem nunca viveremos plenamente. Sem o misticismo dos sentimentos a vida não tem côr nem sentido. No fundo, é atrás dos nossos medos que se esconde a nossa maior felicidade. E quando tudo parece perdido, basta continuar a acreditar para que a vida, por si só, nos traga a solução... e que neste filme surge através da música, a mais misteriosa de todas as artes (e a mais completa para mim). Basta para tal não travarmos o que naturalmente nos sucede: o sucesso dos nossos sonhos sobre o presságio dos nossos medos e receios.

No fundo, passamos a vida a contrariar a natureza e a nossa felicidade... mas se vivermos em sintonia com esta, poderemos beneficiar do que conspira em nosso favor. E é tão simples... Basta conseguirmos controlar o nosso cérebro que nos leva constantemente para o martírio de "supostos" erros no passado, ou para o planeamento e controlo absoluto de cada passo no futuro... deixando de viver e saborear o momento... o presente... a única coisa que realmente é real. Começa por ser um preconceito classificar certos actos como erros... sem estes não evoluiríamos; não saberíamos o que aconteceria se actuassemos de forma diferente... ou não actuassemos! O futuro deve ser construído a partir das vivências do presente e não abdicando destas, contrariando o leque de sentimentos, habituando-nos a viver sem sentir o que o presente nos oferece, em prol de um suposto "planeamento" que vai contra o que mais natural seria: tirar partido das vivências presentes, em vez de tentar construir um futuro baseado apenas em pensamentos, preconceitos e ideias pré-concebidas.

Para viver feliz, em sintonia com a natureza e beneficiando da sua perfeição, é mesmo necessário fazermos a nossa "viagem ritual"... arriscar... enfrentar o desconhecido... sem ter nem saber quer armas vamos ter e que desafios vamos enfrentar.

Sérgio

11 janeiro 2009

I'm loosing you...

Dedicado à mulher mais misteriosa do mundo.

Sérgio






Here in some stranger's room,
Late in the afternoon,
What am I doing here at all?
Ain't no doubt about it,
I'm losing you,
Somehow the wires have crossed,
Communication's lost,
Can't even get you on the telephone,
Just got to shout about it,
I'm losing you,
Here in the valley of indecision,
I don't know what to do,
I feel you sliping away,
I feel you sliping away,
I'm losing you,
I'm losing you,
You say your not getting enough,
But I remind you of all that bad stuff,
So waht the hell am I supposed to do?
Just put a bandaid on it?
And stop the bleeding now,
Stop the bleeding now,
I know I hurt you then,
But that was way back when,
And well, do you still have to carrey that cross?
Don't want to hear about it,
I'm losing you,
I'm losing you.

(I'm loosing you, John Lennon)

Stay...

...don't stay in front of the computer... take the Craig Armstrong album, turn it on the stereo, and stay... with me... just earing it!

Sérgio



Green light, Seven Eleven
You stop in for a pack of cigarettes
You don't smoke, don't even want to
Hey now, check your change
Dressed up like a car crash
Your wheels are turning but you're upside down
You say when he hits you, you don't mind
Because when he hurts you, you feel alive
Hey babe, is that what it is

Red lights, gray morning
You stumble out of a hole in the ground
A vampire or a victim
It depend's on who's around
You used to stay in to watch the adverts
You could lip synch to the talk shows

And if you look, you look through me
And when you talk, you talk at me
And when I touch you, you don't feel a thing

If I could stay...
Then the night would give you up
Stay...and the day would keep its trust
Stay...and the night would be enough

Faraway, so close
Up with the static and the radio
With satelite television
You can go anywhere
Miami, New Orleans
London, Belfast and Berlin

And if you listen I can't call
And if you jump, you just might fall
And if you shout, I'll only hear you

If I could stay...
Then the night would give you up
Stay...then the day would keep its trust
Stay...with the demons you drowned
Stay...with the spirit I found
Stay...and the night would be enough

Three o'clock in the morning
It's quiet and there's no one around
Just the bang and the clatter
As an angel runs to ground

Just the bang
And the clatter
As an angel
Hits the ground

(Stay, U2 - Zooropa, 1993)

08 janeiro 2009

If only I could change your mind...

...seria uma possibilidade... mas preferia que me entendesses...

Sérgio



I prefer to spend my time in solitary ways
Keeping myself to myself
Can't pretend that it's been easy since you went away
Living with somebody else

If you should change your mind
If you should turn around and look behind
If you could see me the way I used to be
At the risk of bringing back the sorrow and despair
I would do it all again
Holding on to memories and pretending not to care
Knowing that the show was soon to end
If only I could change your mind
If only you would change
If I had the chance I'd do it all again
I would do it all again

I remember windy shores on menancholy days
Drifting along with the tide
And the joy of simple things and ordinary ways
Taking it all in my stride

If you should change your mind
If I could let you see what lies behind
If you could see need me the way it used to be

Even for the moment of the happy times we shared
Living in my dreams since then
At the risk of losing only castles in the air
Come with me and we can try again
Oh, if I could change your mind

Can't pretend it's been lonely since you went away
Oh, if I could change your mind

(Alan Parsons Project, EVE - If I Could Change Your Mind)

The Meeting...

Para quando...

Sérgio



Surely I could tell
When I sleep tonight
A dream will call
And raise it's head in majesty
Dividing all my energy
To the meeting of your love

Where from whence it came
Like a singer searching for a song
I try to reach where you belong
As I will be the song for you
I will be your servant child

No, oh no
I cannot be deceived
No, oh no
There's something
That I feel
There's something that I feel inside

Surely I could tell
If you ask me Lord
To board the train

My life my love would be the same
As I could be the one for you
In the meeting of your love
In the meeting of your love

(The Meeting - Anderson, Braford, Wakeman and Howe)

Ilumina-me...

...totalmente perdido.

Sérgio




Gosto de ti como quem gosta do sábado,
Gosto de ti como quem abraça o fogo,
Gosto de ti como quem vence o espaço,
Como quem abre o regaço,
Como quem salta o vazio,
Um barco aporta no rio,
Um homem morre no esforço,
Sete colinas no dorso
E uma cidade p'ra mim.

Gosto de ti como quem mata o degredo,
Gosto de ti como quem finta o futuro,
Gosto de ti como quem diz não ter medo,
Como quem mente em segredo,
Como quem baila na estrada,
Vestido feito de nada,
As mãos fartas do corpo,
Um beijo louco no porto
E uma cidade p'ra ti.

Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.

Gosto de ti como uma estrela no dia,
Gosto de ti quando uma nuvem começa,
Gosto de ti quando o teu corpo pedia,
Quando nas mãos me ardia,
Como silêncio na guerra,
Beijos de luz e de terra,
E num passado imperfeito,
Um fogo farto no peito
E um mundo longe de nós.

Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.

(Pedro Abrunhosa, Luz, Ilumina-me)

06 janeiro 2009

Noite de Reis.

Eu ainda estou à espera do meu "presente" de Natal... ou de Ano Novo... não é que acredite no Pai Natal... ou nos Reis Magos... mas... quem sabe?!

Sérgio


Os Magos que não chegaram a Belém

Há sempre os que conseguem e os outros. Os que ficam pelo caminho. Com os magos aconteceu o mesmo. Só três – os reis Baltasar, Melchior e Gaspar – chegaram a Belém e deixaram os seus presentes, de ouro, incenso e mirra, aos pés do Menino. Mas os magos, sacerdotes que estudavam o céu e os seus astros, eram muitos. E outros se puseram a caminho, seguindo aquela estrela, súbito, nascida no firmamento e mais brilhante do que todas as outras que aqueciam a noite.
Desses, três sacerdotes da Caldeia, adoradores do sol e da natureza, porque dela se sentiam dependentes, decidiram também partir juntos para melhor enfrentarem os perigos de uma viagem, sem estrada conhecida, na esperança de alcançarem a Luz que aquele sinal anunciava. Não eram reis, nem tinham coroa, nem sequer montada de camelo ou burrinho manso. Também não levavam presentes, apenas a ansiedade dos seus corações. E, confiantes, abandonaram as margens verdes do Eufrates, o trilho conhecido das caravanas e, guiados pela estrela, puseram-se a seguir a liberdade dos caminhos, crentes de que a força da esperança e da fé (não conheciam ainda o Amor) lhes permitiria chegar. Onde? Não sabiam. Mas lá, junto daquela Luz que havia de transformar o mundo, de águas transparentes, fulvos desertos varridos pelo vento e frescos oásis, que reflectiam o azul entre o verde nas palmeiras, no paraíso, aonde os homens ansiavam regressar. E nessa esperança caminhavam. Não por carreiros atapetados pelo musgo dos presépios, que vieram séculos depois, e se nos tornaram familiares, na infância, com seus trilhos fáceis de serrim, lagos-espelhinhos onde nadavam patos, anacrónicas gentes quotidianas: lavadeiras, vendedoras de castanhas e galinhas, pastorzinhos de gado tresmalhado por veredas, cortadas por mudos riachos de papel prateado. Também não caminhavam por entre as sombras frondosas e frescas, com possibilidade de pousada em palácios e castelos, como quis a pintura e os seus mestres. Caminhavam pelo silêncio, com a sua fome e a sua sede, o calor do dia e o frio das noites, solitárias. Palmilhavam o oceano das dunas do deserto, à luz da lua, como se o fizessem pelo pó de todas as clepsidras do tempo. E nem sequer dormiam num leito, irmanados pelo mesmo lençol de pedra, como o românico fixou os outros três, mais conhecidos, com as suas coroazinhas na cabeça. Enrolavam-se apenas no sono que os descansava do cansaço dos dias e lhes dava novas forças, que refaziam com a água e as tâmaras dos oásis, o pão e os figos secos que tinham trazido.
Às vezes, quando o olho do sol se tornava ígneo ou paravam para uma refeição ou um descanso, discutiam a direcção que vinham a seguir.
— Não vos parece que a estrela aponta a Judeia? — perguntava um.
Os outros, incrédulos, pensavam secretamente se haveria alguma coisa a esperar de um povo escravizado pelos romanos e encolhiam os ombros.
— A mim parece-me antes o Egipto o rumo indicado — atrevia-se o mais novo. — E a vós?
— É ainda cedo para uma certeza, mas em breve o saberemos...
E retomavam a caminhada até pela noite dentro – a estrela sempre adiante, lanterna que os não deixaria perder. Duas noites de névoa, porém, esconderam-na aos seus olhos, ansiosos. E então, desorientados, disputaram azedamente, perdidos e sem rumo. Todavia, na terceira noite, a estrela reapareceu, mais cheia de brilhos, como se no seu bojo houvesse mil reflexos de espelho. Quem, conhecendo a Luz, deseja continuar nas trevas? Nem sentiam o cansaço, a língua encortiçada pela sede, o olhar enceguecido pelas tempestades de areia, o ventre cavado pela marcha e pelo magro alimento. A esperança, serpente de água, a esgueirar-se, fugidia, entre os juncos, tinha regressado aos seus corações.
A noite do solstício aproximava-se e eles estavam certos de que, se aquela Luz anunciava algum acontecimento, ele teria lugar na noite sagrada, pois o sol era a alegria e o pão da terra. E, ao mesmo tempo, não podiam deixar de sentir uma certa inquietação em face daquela claridade que aumentava de brilho como a anunciar uma Outra que apagaria a do próprio astro de que eram adoradores. Seria realmente aquela a Luz que tornaria o mundo de manhãs claras, tardes ardentes e noites estreladas, mais perfeito, menos rasgado por ódios, guerras e injustiças? Quem podia ter a certeza? Do que parecia não haver dúvidas era de que a estrela indicava a Judeia. Tinham de render-se à evidência. E nessa direcção seguiam agora, os pés já feridos do caminho, cada vez mais áspero e pedregoso. Mas, mesmo forçando a marcha e lutando contra o tempo e o cansaço, a noite desejada encontrou-os à boca do Mar Morto e a estrela fazia jorrar a sua cratera de brilhos mais para além, mais para o norte. Exaustos, não podiam seguir adiante. Mas o cristal de miríades de luzeiros, que pareciam mais belos e mais luminosos no silêncio suspendido do ar gelado, permitia-lhes procurarem uma gruta para se abrigarem e dormirem, antes de continuarem a jornada. E foi o que fizeram.
— Aqui! — gritou o mais jovem, que caminhava na dianteira.
Os outros, mais trôpegos e cansados, juntaram-se-lhe.
Era uma caverna escurecida pelo fumo das fogueiras dos pastores e que, embora vazia, parecia uma boca de forno, ainda quente do bafo dos animais.
— Escutem! — disse um deles.
À medida que penetravam na gruta, ouviam vagidos, que julgaram de animal ferido. Todavia, quando reacenderam o fogo, deparou-se-lhes uma criança recém-nascida, nua e roxa, a chorar de frio e fome.
— Quem teria tido a coragem de a abandonar?! — indignou-se o mais velho, que rasgou logo um pedaço de manto e a envolveu.
— Pobrezinha, como chora!
Os outros debruçaram-se também, carinhosos e solícitos, sobre o pequeno fardo. Depois olharam-se, perplexos. Que fariam? Podiam aquecê-la, protegê-la – mas como alimentá-la?
E foi então que ouviram, vindos do fundo da gruta, outros vagidos.
— Ide ver! — pediu o mais idoso, que se tinha sentado perto do lume, tentando aquecer a criança, enquanto a embalava, desajeitadamente, nos seus braços, nodosos e velhos.
Os outros juntaram uns gravetos secos e atearam-nos nos tições, acesos, e com aquela débil claridade varreram as sombras. No fundo da gruta estava uma ovelha, de úberes cheios e dolorosos, que lambia a sua cria morta. Era uma noite santa aquela. Ali estava a prova. E, contentes, arrastaram o animal até junto do companheiro e da criança. Depois, com muito jeito e devagar, enquanto um segurava o animal, o outro fazia pingar umas gotas de leite para a boquinha, que em breve se tornou sôfrega. Pacientes, continuaram a tarefa e viram-se recompensados. Aquecida e consolada, a criança aquietou-se. O mago que a tinha nos braços, como um avô, e os outros começaram a tratar da magra ceia e a assar, nas brasas, os figos secos que lhes restavam.
— Temos de regressar... — disse, então, o mais velho, depondo a criança adormecida num recôncavo largo de rocha, não longe do borralho.
— Assim terá de ser — concordou logo outro.
— Somos homens e sacerdotes e nunca seremos uma família para a criança. Temos de nos apressar a entregá-la a uma mulher piedosa que cuide dela e a eduque juntamente com os filhos.
— Sim, ou a uma mulher estéril para quem seja a bênção desejada — tornou o primeiro. — Mas isso resolveremos depois do regresso. O urgente é regressarmos.
— Regressar?! E a Luz que vínhamos a seguir? — protestou o mais novo, para quem era doloroso, depois de tantos trabalhos e canseiras, não levar a cabo o que se tinha proposto. — Desistimos assim da Luz que nos guiou até aqui? Desistimos, agora, quando estávamos já perto?
— Compreendo o que sentes, irmão, também já fui novo... Mas há a criança. Como poderemos abandoná-la?
— Sim... há a criança — e também o mais novo, que tanto se tinha esforçado por alimentá-la, se inclinou e sorriu para vê-la dormir.
— A Luz que vínhamos a seguir — ponderou ainda o mais velho — não poderá ser ocultada e dela teremos notícia. Lembremo-nos de que a Luz ilumina e nem mesmo as trevas podem escondê-la para sempre. O nosso caminho é o do regresso e será longo, pois teremos de nos revezar com a criança nos braços, embora seja já uma bênção termos a graça de um alimento que ainda sobrará para um gole de sede nosso. Descansemos, agora, enquanto dorme.
— Tens com certeza razão — concordou o mais novo, que também não se sentia capaz de recusar a criança, presente da noite santa e, quem sabe, daquela misteriosa Luz.
O braseiro consumia-se, lento, perfumado pelo açúcar dos figos assados nas brasas. A ovelha deitara-se junto da criança, aninhando-a na sua lã, também ela apaziguada, como se tivesse recuperado a sua cria. Uma paz despetalava-se no silêncio da noite e caía sobre a gruta.
Esta foi a história. Não adoraram o Messias, salvador, o que devia chegar para que a paz e a justiça florissem até ao fim das luas, o que teria compaixão do fraco e do pobre e havia de lançar a sua bênção sobre todas as raças, povos e línguas. O anjo do Senhor não lhes apareceu, nem foram envolvidos na sua claridade. Não ouviram cantar: «Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade».
Mas tinham vivido o Amor, essência daquela doutrina que ainda não tinha sido pregada e ninguém registara ainda. No mais íntimo dos seus corações tinham sentido aquela verdade: «O que fizerdes ao mais pequeno e ao mais ínfimo a Mim o fareis». E naquela noite, em que os animais falaram, as flores abriram o esplendor das suas pétalas nas trevas como se as entregassem à luz do meio-dia, e as pedras puderam deslocar-se para se dessedentarem nos regatos mais próximos, adormeceram com a criança aconchegada entre eles.
Longe, a estrela fazia descer a sua cascata de fogo sobre Belém de Judá.

Luísa Dacosta
Natal com Aleluia
Porto, Ed. ASA, 2002
Adaptação
O Clube de Contadores de Histórias da Escola Secundária com 3º ciclo Daniel Faria, Baltar (http://www.contadoresdestorias.wordpress.com/)

03 janeiro 2009

Casino Royale.

Ouçam isto!

Fantástico... ouvi-os pela 1.ª vez nas Noites Ritual do Palácio de Cristal, em Agosto do ano passado (2008 para não haver confusões!).

E são Portugueses!!!


Sérgio