Tudo começou com a ideia de fazer uma semana “gay” de ski. A ideia é a de fazer muito ski, sem paragens de manhã à noite. Marquei com mais 3 amigos uma ida a Sierra Nevada: saída Domingo à noite; chegada à estância na 2.ª de madrugada; esquiar 2.ª, 3.ª e 4.ª; aproveitar a noite de Sierra Nevada; e regressar na 4.ª ao fim do dia (porque 5.ª já era dia de trabalho). Não queríamos esquiar no fim-de-semana, porque normalmente há muita gente nas pistas, tínhamos um jogo de futebol no Domingo à tarde, e para não deixar de fazer companhia às respectivas famílias.
A semana de férias começou por ser adiada por causa do “chefe” (um espanhol! Conho!) de um dos meus amigos, que havia de vir de Lisboa ao Porto para reunir com ele, exactamente nesse semana...
Adiada a missão por uma semana, deparamos com a mesma pessoa doente no Domingo à noite... Apesar de ele querer ir mesmo assim, eu fui da opinião que aquilo era insano e convenci os outros a adiar novamente (se ele piorasse as férias não teriam piada)... Ainda aproveitamos para gozar com ele; afinal, naquele estado não precisava de mentir ao chefe para se baldar ao trabalho!
Ficamos em stand by para o dia seguinte, sob a condição de ele acordar melhor, caso em que arrancaríamos para Sierra Nevada, mesmo perdendo um dia de ski. E não é que ele acordou curado?! Dizem as más línguas que foi para não ficar com os sogros em casa... Mas deve ser mentira...
Depois da mensagem dele às 8 da manhã, toca a preparar os sacos para arrancar; e assim o fizemos, embora com muitos atrasos, só tendo saído do Porto às 10h30... trânsito!
No meio disto tudo, tive um vipe quando fui buscar os skis... algo mais forte do que eu disse: leva a prancha! E eu levei... não faz sentido nenhum ir esquiar com os meus amigos que mais rápido esquiam, eles de ski e eu de prancha... mas fui! Fui e foi espectacular: teve momentos muito bons, embora também tivesse momentos de desespero! Não me arrependi, embora tenha percebido que não devemos misturar no mesmo grupo skis e pranchas, quando queremos andar mesmo depressa. São dinâmicas diferentes, os pontos de paragem são diferentes e a mobilidade é diferente.
Primeira paragem em Antuã; almoço em Almeirim (azar, não havia sopa de pedra), já em pleno Ribatejo apanhamos um nevão... não, afinal era só granizo na estrada, mas o suficiente para termos visto dois despistes numa AE que não tinha ninguém.
A saída de Portugal pelo Algarve brindou-nos com um sol estupendo e o resto da viagem correu também lindamente. Depois de Granada e ao iniciarmos a subida para Sierra Nevada, a sinalização avisava-nos da necessidade de colocar correntes no carro; compramos as correntes, mas não as colocamos... na altura comigo ao volante, fizemos facilmente a estrada e sem percalços.
Deparamos com uma vila pejada de neve acabada de cair. O cenário era memorável e as condições meteorológicas prometedoras para o dia seguinte. Arranjamos hotel com facilidade; fomos jantar e só depois descarregar o carro (a fome era negra!). Tempo ainda para dar uma voltita pelos bares e verificar que a noite de Sierra Nevada estava muito apagada. Já com pouco tempo para dormir fomo-nos deitar. Dormir foi difícil! 4 homens num quarto, 2 dos quais uns autênticos barítonos na arte de ressonar... e eu que me esqueci dos tampões para os ouvidos!
No dia seguinte acordamos bem dispostos e depois de um pequeno-almoço reforçado, lá fomos tratar dos forfaits e do aluguer de skis para um de nós. Tudo a correr muito, porque a vontade de deslizar era gritante e as condições apresentavam-se espantosas. Foi um autêntico delírio o 1.º dia; espero não ter travado muito os meus amigos (sempre mais rápidos, de skis). As duas últimas descidas foram mais lentas para mim, mas na última percebi que também eles estavam cansados (especialmente um deles), e como quem não quer a coisa, passei por eles devagarinho e cheguei cá em baixo primeiro, só para criar confusão!
Depois de umas cervejas e já gelados, porque o sol entretanto tinha desaparecido, fomos às compras: havia quem quisesse comprar uns skis para a mulher! Não foi tarefa fácil, mas comprou uns espectaculares. Daqui a duas semanas vão ser um sucesso na Áustria.
(Por vezes o material cede à pressão da competição... além dos organismos débeis)
Depois do banho (mais barba, mais creme, mais secador de cabelo – private joke), jantar 5* no argentino. A conversa estava de chorar a rir e resolvemos passar para o Crescendo, mesmo lado. De facto a noite de Sierra Nevada estava mesmo apagada... apesar disso ficamos por ali entre boas gargalhadas. Nesse dia não fomos a mais lado nenhum... la mobida não era promissora, estávamos cansados e no dia seguinte havia que aproveitar ao máximo as pistas, às quais se seguiam mais de 1000 kms até casa.
Nova noite sem grande descanso; os “ressonantes” estiveram no seu melhor... e o meu sono leve não conheceu grande desempenho... mas nem isso me tirou a boa-disposição ao acordar. Novo pequeno-almoço reforçado, malas feitas e colocadas fora do quarto e já estávamos novamente nas pistas. À semelhança com o dia anterior, o tempo e a neve estavam no seu melhor.
Subimos para a zona da Laguna (desta vez consegui vencer o teleski e cheguei ao topo sem cair). Acho que a manhã do 2.º dia foi o ponto alto destes 2 dias... as pistas estavam com uma neve sensacional: fofa e calcada. Melhor ainda: não havia praticamente ninguém na Laguna... tínhamos 20 kms de pistas vermelhas bem inclinadas e fora-de-pistas imaculados, quase só por nossa conta. Nunca pensei encontrar este cenário em Sierra Nevada... normalmente há muita gente nas pistas e a neve é muito dura e gelada. Fez lembrar os Trois Vallées.
(O Rui e o Manel a comentarem: ...estamos fo#$%&?... um adoece e tira-nos um dia de férias, o outro vem de snowboard...)
Neste 2.º dia acusei o cansaço logo desde a manhã; a falta de técnica notou-se bem nos tombos mais frequentes e num ritmo inferior, o que pôs os meus amigos à minha espera várias vezes. Por volta do meio-dia o tempo encobriu e logo a seguir começou a cair uma neve húmida com o vento a fazer-se sentir. A partir desse momento e com as condicionantes de visibilidade difíceis tornei-me muito lento; e os meus amigos tiveram de esperar mais ainda por mim... Pouca visibilidade, capacidade técnica inferior em cima da prancha e muito cansaço, tornaram penosa a tarde sempre que tentei aumentar o ritmo... ou deslizava calma e relaxadamente, ou caía. Subimos novamente à Laguna, e novamente não caí no teleski... mas a visibilidade piorou tanto, que houve alturas que nem sabia por onde andava e cheguei mesmo a sair pela pista fora... só me apercebia, porque a neve tornava-se mais fofa. Às vezes pensava que estava parado (para descansar) e afinal estava a deslizar... com aquela sensação de enjoo e de me perguntar: onde é que está o chão!?
(O Mário a chupar no dedo... há quem diga que isto se tem vindo a tornar um hábito diário...)
De regresso a Borreguilles já às 16h30, os meus amigos seguiram pela Aguila até cá abaixo... como isso implicava um desvio com uma ligeira subida, acabei por descer pelo Rio. Estava muito cansado para tirar a pranchar e caminhar; apesar de não achar piada nenhuma à pista do Rio, pareceu-me preferível... Fui descendo tranquilamente. A descida pela Aguila não deve ter sido pacífica; isto porque cheguei cá abaixo (desta vez sem qualquer intenção) bastante antes deles. Concerteza estiveram MUITO tempo a ver se eu vinha por ali também.
O hotel TELECABINA foi simpático; deixou-nos guardar as malas e tomar banho num balneário próprio, o que nos permitiu encarar a viagem “fresquinhos mas sequinhos”.
A única coisa que não correu bem nestas férias foi a saída de Sierra Nevada. Enfrentamos um engarrafamento que nos fez demorar mais de 2 horas para fazer os 30 e poucos kms até Granada. A estrada estava gelada; havia muitos carros parados para pôr/tirar correntes; a velocidade a que se circulava não justificava por correntes... por isso, e mais uma vez, viva a preguiça!
Depois disso fizemos 3 paragens: jantar, reabastecer e trocar de condutor, café e trocar de condutor. Numa delas ainda tive tempo para esmurrar o nariz na porta do carro. Entramos em Portugal pelo Algarve à meia-noite. Na última paragem (Santarém) iniciei o meu turno de condução, que correu lindamente, e apenas foi manchado pela necessidade repentina de abastecer, o que me levou a fazer alguns kms mais lentamente e me causou algum sono (ficam já a saber que os Chrysler Voyager tem uma reserva muito pequena – tirando isso portou-se lindamente... quer dizer, não queria pegar para vir embora... mas andou em cima de neve e gelo como se nada fosse). Cheguei a casa eram quase cinco e meia da manhã... às oito havia que acordar para ir trabalhar (o que fiz sem especial esforço; aliás, até hoje, uma semana depois, não me senti cansado ou com sono).
A viagem em ambos os sentidos fez-se muito bem e foi sempre muito animada. As conversas, por vezes corrosivas, entrelaçavam-se e praticamente não recorremos aos cds que levamos.
A título elucidativo deixo uma lista de expressões muito utilizadas nas conversas destas férias:
- ...organismo débil... – aplicado ao facto de por doença termos perdido um dia de férias e a qualquer situação de resistência física inferior.
- ...seca... – mulher de poucas palavras e pouco comunicativa (houve quem utilizasse esta expressão para designar mulher magra).
- ...se comeste ou não comeste, não interessa a ninguém... – utilizada quando se falava de uma mulher em particular.
- ...comportamento abichanado... – aplicado à postura de snowboard, aos homens que põem creme na cara, secam o cabelo com secador e não ressonam (concretamente a mim que fui indecentemente gozado por estes 3 esquiadores).
- ...alfinetadas... – arte de espicaçar desenvolvida por um dos elementos presentes.
- ...não dizes nada e dizes tudo... – continuação da prática anterior.
- ...atiro a pedra e escondo a mão... – continuação da prática anterior.
- ...não devia ter bebido esta última parte da cerveja... – aplicável quando reparávamos que tínhamos falado de mais sobre a nossa intimidade.
- ...no seio deste grupo já há alguma intimidade... – utilizado quando queríamos que alguém dissesse mais qualquer coisa sobre si mesmo.
- ...não tens sensibilidade; estamos a falar de pessoas e de sentimentos... – muito usado quando a conversa descambava perante um discurso que se pretendia sério.
São histórias memoráveis como estas, que jamais esquecemos e pelas quais vale a pena viver! É claro que há mais coisas a contar... mas não podem ser contadas! Pelo menos aqui...
Sérgio
4 comentários:
Estou a ver que estes dois dias gays correram muito bem!
Eheheh...se não podes contar aqui onde pode ser então?!
Só pessoalmente e na companhia dos outros 3 como fizemos no Sábado à noite! EhehE! Se bem que estávamos fantasiados...
Gandas fotos :)
Necessitava bem de uma semaninha lá !!!! :)
Esqueci-me de acrescentar uma expressão: à mingua! Ou seja, à falta de melhor... no nosso caso!
Enviar um comentário