JÁ FALTOU mais para que um dia destes tenha de passar à clandestinidade ou, no mínimo, tenha de me enfiar em casa a viver os meus vícios secretos. Tenho um catálogo deles e todos me parecem ameaçados: sou heterossexual «fulltime»; fumo, incluindo charutos; bebo; como coisas como pezinhos de coentrada, joaquinzinhos fritos e tordos em vinha d'alhos; vibro com o futebol; jogo cartas, quando arranjo três parceiros para o «bridge» ou quando, de dois em dois anos, passo à porta de um casino e me apetece jogar «black-jack»; não troco por quase nada uma caçada às perdizes entre amigos; acho a tourada um espectáculo deslumbrante, embora não perceba nada do assunto; gosto de ir à pesca «ao corrido» e daquela luta de morte com o peixe, em que ele não quer vir para bordo e eu não quero que ele se solte do anzol; acredito que as pessoas valem pelo seu mérito próprio e que quem tem valor acaba fatalmente por se impor, e por isso sou contra as quotas; deixei de acreditar que o Estado deva gastar os recursos dos contribuintes a tentar «reintegrar» as «minorias» instaladas na assistência pública, como os ciganos, os drogados, os artistas de várias especialidades ou os desempregados profissionais; sou agnóstico (ou ateu, conforme preferirem) e cada vez mais militantemente, à medida que vou constatando a actualidade crescente da velha sentença de Marx de que «a religião é o ópio dos povos», licenciado em direito, tornei-me descrente da lei e da justiça, das suas minudências e espertezas e da sua falta de objectividade social, e hoje acredito apenas em três fontes legítimas de lei: a natureza, a liberdade e o bom senso.
Trogloditas como eu vivem cada vez mais a coberto da sua trincheira, numa batalha de retaguarda contra um exército heterogéneo de moralistas diversos: os profetas do politicamente correcto, os fanáticos religiosos de todos os credos e confissões, os fascistas da saúde, os vigilantes dos bons costumes ou os arautos das ditaduras «alternativas» ou «fracturantes». Se eu digo que nada tenho contra os casamentos homossexuais, mas que, quanto à adopção, sou contra porque ninguém tem o direito de presumir a vontade «alternativa» de uma criança, chamam-me homofóbico (e o Parlamento Europeu acaba de votar uma resolução contra esse flagelo, que, como está à vista, varre a Europa inteira); se a uma senhora que anteontem se indignava no «Público» porque detectou um sorriso condescendente do Dr. Souto Moura perante a intervenção de uma deputada, na inquirição sobre escutas na Assembleia da República, eu disser que também escutei a intervenção da deputada com um sorriso condescendente, não por ela ser mulher mas por ser notoriamente incompetente para a função, ela responder-me-ia de certeza que eu sou «machista» e jamais aceitaria que lhe invertesse a tese: que o problema não é aquela deputada ser mulher, o problema é aquela mulher ser deputada; se eu tentar explicar por que razão a caça civilizada é um acto natural, chamam-me assassino dos pobres animaizinhos, sem sequer quererem perceber que os animaizinhos só existem porque há quem os crie, quem os cace e quem os coma; se eu chego a Lisboa, como me aconteceu há dias, e, a vinte quilómetros de distância num céu límpido, vejo uma impressionante nuvem de poluição sobre a cidade, vão-me dizer que o que incomoda verdadeiramente é o fumo do meu cigarro, e até já em Espanha e Itália, os meus países mais queridos, tenho de fumar envergonhadamente à porta dos bares e restaurantes, como um cão tinhoso; enfim, se eu escrever velho em vez de «idoso», drogado em vez de «tóxico-dependente», cego em vez de «invisual», preso em vez de «recluso» ou impotente em vez de «portador de disfunção eréctil», vou ser adoptado nas escolas do país como exemplo do vocabulário que não se deve usar. Vou confessar tudo, vou abrir o peito às balas: estou a ficar farto desta gente, deste cerco de vigilantes da opinião e da moral, deste exército de eunucos intelectuais.
Agora vêm-nos com esta história dos «cartoons» sobre Maomé saídos num jornal dinamarquês. Ao princípio a coisa não teve qualquer importância: um «fait-divers» na vida da liberdade de imprensa num país democrático. Mas assim que o incidente foi crescendo e que os grandes exportadores de petróleo, com a Arábia Saudita à cabeça, começaram a exigir desculpas de Estado e a ameaçar com represálias ao comércio e às relações económicas e diplomáticas, as opiniões públicas assustaram-se, os governantes europeus meteram a viola da liberdade de imprensa ao saco e a Sr.ª comissária europeia para os Direitos Humanos (!) anunciou um inquérito para apurar eventuais sintomas de «racismo» ou de «intolerância religiosa» nos «cartoons»profanos. Eis aonde se chega na estrada do politicamente correcto: a intolerância religiosa não é de quem quer proibir os «cartoons», mas de quem os publica!
A Dinamarca não tem petróleo, mas é um dos países mais civilizados do mundo: tem um verdadeiro Estado Social, uma sociedade aberta que pratica a igualdade de direitos a todos os níveis, respeita todas as crenças, protege todas as minorias, defende o cidadão contra os abusos do Estado e a liberdade contra os poderosos, socorre os doentes e os velhos, ajuda os desfavorecidos, acolhe os exilados, repudia as mordomias do poder, cobra impostos a todos os ricos, sem excepção, e distribui pelos pobres. A Arábia Saudita tem petróleo e pouco mais: é um país onde as mulheres estão excluídas dos direitos, onde a lei e o Estado se confundem com a religião, onde uma oligarquia corrupta e ostentatória divide entre si o grosso das receitas do petróleo, onde uma polícia de costumes varre as ruas em busca de sinais de «imoralidade» privada, onde os condenados são enforcados em praça pública, os ladrões decepados e as «adúlteras» apedrejadas em nome de um código moral escrito há quase seiscentos anos. E a Dinamarca tem de pedir desculpas à Arábia Saudita por ser como é e por acreditar nos valores em que acredita?
Eu não teria escrito nem publicado «cartoons» a troçar com Maomé ou com a Nossa Senhora de Fátima. Porque respeito as crenças e a sensibilidade religiosa dos outros, por mais absurdas que elas me possam parecer. Mas no meu código de valores - que é o da liberdade - não proíbo que outros o façam, porque a falta de gosto ou de sensibilidade também têm a liberdade de existir. E depois as pessoas escolhem o que adoptar. É essa a grande diferença: seguramente que vai haver quem pegue neste meu texto e o deite ao lixo, indignado. É o seu direito. Mas censurá-lo previamente, como alguns seguramente gostariam, isso não.
É por isso que eu, que todavia sou um apaixonado pelo mundo árabe e islâmico, quanto toca ao essencial, sou europeu - graças a Deus.
Pelo menos, enquanto nos deixarem ser e tivermos orgulho e vontade em continuar a ser a sociedade da liberdade e da tolerância.
por Miguel Sousa Tavares
Trogloditas como eu vivem cada vez mais a coberto da sua trincheira, numa batalha de retaguarda contra um exército heterogéneo de moralistas diversos: os profetas do politicamente correcto, os fanáticos religiosos de todos os credos e confissões, os fascistas da saúde, os vigilantes dos bons costumes ou os arautos das ditaduras «alternativas» ou «fracturantes». Se eu digo que nada tenho contra os casamentos homossexuais, mas que, quanto à adopção, sou contra porque ninguém tem o direito de presumir a vontade «alternativa» de uma criança, chamam-me homofóbico (e o Parlamento Europeu acaba de votar uma resolução contra esse flagelo, que, como está à vista, varre a Europa inteira); se a uma senhora que anteontem se indignava no «Público» porque detectou um sorriso condescendente do Dr. Souto Moura perante a intervenção de uma deputada, na inquirição sobre escutas na Assembleia da República, eu disser que também escutei a intervenção da deputada com um sorriso condescendente, não por ela ser mulher mas por ser notoriamente incompetente para a função, ela responder-me-ia de certeza que eu sou «machista» e jamais aceitaria que lhe invertesse a tese: que o problema não é aquela deputada ser mulher, o problema é aquela mulher ser deputada; se eu tentar explicar por que razão a caça civilizada é um acto natural, chamam-me assassino dos pobres animaizinhos, sem sequer quererem perceber que os animaizinhos só existem porque há quem os crie, quem os cace e quem os coma; se eu chego a Lisboa, como me aconteceu há dias, e, a vinte quilómetros de distância num céu límpido, vejo uma impressionante nuvem de poluição sobre a cidade, vão-me dizer que o que incomoda verdadeiramente é o fumo do meu cigarro, e até já em Espanha e Itália, os meus países mais queridos, tenho de fumar envergonhadamente à porta dos bares e restaurantes, como um cão tinhoso; enfim, se eu escrever velho em vez de «idoso», drogado em vez de «tóxico-dependente», cego em vez de «invisual», preso em vez de «recluso» ou impotente em vez de «portador de disfunção eréctil», vou ser adoptado nas escolas do país como exemplo do vocabulário que não se deve usar. Vou confessar tudo, vou abrir o peito às balas: estou a ficar farto desta gente, deste cerco de vigilantes da opinião e da moral, deste exército de eunucos intelectuais.
Agora vêm-nos com esta história dos «cartoons» sobre Maomé saídos num jornal dinamarquês. Ao princípio a coisa não teve qualquer importância: um «fait-divers» na vida da liberdade de imprensa num país democrático. Mas assim que o incidente foi crescendo e que os grandes exportadores de petróleo, com a Arábia Saudita à cabeça, começaram a exigir desculpas de Estado e a ameaçar com represálias ao comércio e às relações económicas e diplomáticas, as opiniões públicas assustaram-se, os governantes europeus meteram a viola da liberdade de imprensa ao saco e a Sr.ª comissária europeia para os Direitos Humanos (!) anunciou um inquérito para apurar eventuais sintomas de «racismo» ou de «intolerância religiosa» nos «cartoons»profanos. Eis aonde se chega na estrada do politicamente correcto: a intolerância religiosa não é de quem quer proibir os «cartoons», mas de quem os publica!
A Dinamarca não tem petróleo, mas é um dos países mais civilizados do mundo: tem um verdadeiro Estado Social, uma sociedade aberta que pratica a igualdade de direitos a todos os níveis, respeita todas as crenças, protege todas as minorias, defende o cidadão contra os abusos do Estado e a liberdade contra os poderosos, socorre os doentes e os velhos, ajuda os desfavorecidos, acolhe os exilados, repudia as mordomias do poder, cobra impostos a todos os ricos, sem excepção, e distribui pelos pobres. A Arábia Saudita tem petróleo e pouco mais: é um país onde as mulheres estão excluídas dos direitos, onde a lei e o Estado se confundem com a religião, onde uma oligarquia corrupta e ostentatória divide entre si o grosso das receitas do petróleo, onde uma polícia de costumes varre as ruas em busca de sinais de «imoralidade» privada, onde os condenados são enforcados em praça pública, os ladrões decepados e as «adúlteras» apedrejadas em nome de um código moral escrito há quase seiscentos anos. E a Dinamarca tem de pedir desculpas à Arábia Saudita por ser como é e por acreditar nos valores em que acredita?
Eu não teria escrito nem publicado «cartoons» a troçar com Maomé ou com a Nossa Senhora de Fátima. Porque respeito as crenças e a sensibilidade religiosa dos outros, por mais absurdas que elas me possam parecer. Mas no meu código de valores - que é o da liberdade - não proíbo que outros o façam, porque a falta de gosto ou de sensibilidade também têm a liberdade de existir. E depois as pessoas escolhem o que adoptar. É essa a grande diferença: seguramente que vai haver quem pegue neste meu texto e o deite ao lixo, indignado. É o seu direito. Mas censurá-lo previamente, como alguns seguramente gostariam, isso não.
É por isso que eu, que todavia sou um apaixonado pelo mundo árabe e islâmico, quanto toca ao essencial, sou europeu - graças a Deus.
Pelo menos, enquanto nos deixarem ser e tivermos orgulho e vontade em continuar a ser a sociedade da liberdade e da tolerância.
por Miguel Sousa Tavares
Subscrevo na integra, com excepção da caça, das touradas e do fumo em locais fechados.
Todavia, se o este excelente escrito optasse por mostrar exclusivamente a sua abertura de espírito e bom senso, sem referencia o seu comportamento pessoal, ainda que a título de exemplo, seria melhor compreendido pela maioria das pessoas...
Sérgio
13 comentários:
como o flog esta fora de funcionamento decidi vir fazer-te aqui uma visitinha=)
Concordo com o senhor Miguel Sousa Tavares, mas quanto a adopção por casais gays e touradas , por ai, sou contra, mas concordo com a intenção do texto em sim! cada vez mais vivemos restritos dos nossos pequeninos prazeres...e nºao so por leis institucionais mas principalmente por leis "morais", isto é, nºao fazemos porque já ninguem faz, porque a tia da vizinha pode não gostar,etc...
ha uma coisa que eu tou sempre a dizer: durantes decadas lutamos pela liberdade de expressão, pela individualidade, pelo respeito pelo individuo...e por causa cliches, prototipos parvos estamos deixamos cair os valores pelos quais tanta gente lutou, pensando entregar a propria vida a essa causa, a essa liberdade!
ha mais de 50 anos foram criados uns decretos aos quais chamamos direitos do homem, nesse documento entre outros direitos, fala-se do direito de liberdade de expressão..ora bem, se eu nºao me engano, segundo essas palavrinhas aceites eu tenho direito a ser eu proprio dentro de uma sociedade, seja ela qual for...bem sei que " a minha liberdade acaba onde começa a dos outros", mas imaginem agora se os EUA decidissem arranjar mais um conflito devido as diversas caricaturas e desenhos parvos, fotos absurdas que existem do Bush...pois, seria um problema!
acho ridiculo terem vindo pedir dsc publicamente plo cartoons, pk vivemos num mundo livre!eles tem leis que proibem qq tipo de injurias contra a religião e os "gajos" sagrados e bla bla bla....mas (e ate foste tu Sergio, que me amndaste o mail) para porem braços de crianças de baixo de um camião...não haverá leis para isso?
a indivualidade dos povos deve ser respeitada( n entendam com isto aceite), mas hipocrisias e tudo mais e nojento!
Esta situação so me vem mostrar que tudo o que eu pensava do mundo esta mais do que correcto…infelizmente!
E ,com mto tristeza minha, os jovens tendem a seguir o mesmo caminho da podridão mundial( sim sou uma jovem piquena de 17 anos), alias ate vou fazer um post sobre isso n flog, pa n estar aqui a gastar linhas a toa:P
”Alguns cientistas acreditam que hidrogénio, por ser tão abundante, é o elemento básico do universo. Eu questiono este pensamento. Existe mais estupidez do que hidrogénio. Estupidez é o elemento básico do universo."
by Frank Zappa
(acho que me desviei um cadinho do tema mas olha...foi o que saiu:S)
******
obrigado, sérgio, bom texto para lermos num intervalo, a fumar um cigarro e a sonhar com touradas e caçadas....biba o porto e o homem da "nortada" (único texto passível de leitura nesse pasquim inenarrável chamado "a bola"), que diz o que pensa e mainada !!
a sério, quanto ao fumo, acho bem a proibição, embora me custe...; pelas touradas e caçadas (as legais), sou contra os que são contra; o escarcel que fazem, principalmente contra as touradas, parece-me um atentado às referidas liberdades, ou não ?
Ou não...
Nem todos os meios justificam os fins... e não é com escarcel que se
chega a lado algum. É um facto. Há formas e formas de fazer ver a
nossa opinião.
Agora, espetarem o bichinho, parece-me um costume bárbaro... porque não o enfrentam ou toureiam sem o espetar?
Joana tens toda a razão quanto à massificação de comportamentos e valores... viva a individualidade.
Também acho absurdo a adopção de crianças por casais homossexuais. Há que arcar com as consequências das nossas opções.
Adorei a citação do Grande Zappa.
Usa e abusa das linhas por estes lados. És sempre bem vinda! Beijinhos.
NÃO.
TOURADA É TORTURA, NÃO É ARTE NEM CULTURA.
Lamento...sobretudo se ainda se fala em proibir ou não esta barbaridade...já devíamos estar a anos luz dessa "problemática" do proibir...
Que tal voltar aos gladiadores? Sempre tem mais piada...em vez de cornos têm armas...
...tens razão nesse ponto, que também a mim me incomoda. há uma grande diferença entre o que se passa cá e em espanha, mas o picar será uma forma de equilibrar as forças entre o mais fraco, nós, e o mais forte, o touro ? confesso o meu desconhecimento sobre o mundo tauromático, mas acredito que na maioria dos casos a barbárie de que falas, e que tb se passará por vezes, não existirá.
Eu não me queria alongar muito neste tema de me rda.
Mas não resisto a dizer que tenho um profundo desprezo por quem, sob qualquer que seja a justificação, aprecia essa manifestação de que falam. Alguém pergunta aos touros se querem ser toureados? Em que sítio e a que horas lhes dá jeito? Não se pode
confundir cultura com tradição, mas mesmo que o queiram fazer, não se pode condescender com algo que humilha sem hipótese de contestação um ser apenas por que temos o poder de o fazer, e porque é tradição.
Um dia, vamo-nos dar conta disso!
E não se esqueçam: também é cultural ler livros, ir ao teatro, ver filmes sem explosões, ir a museus, fazer desporto, participar em actividades cívicas, votar, ser solidário, e ser boa pessoa.
M
acudam-me :):)
nem tudo o que parece, é. percebi isso quando conheci realidades das quais falava sem conhecer, e sobre o mundo dos touros conheço pouco, mas falar de humilhação ? eu sei lá como pensam os touros, sei é que são touros ! os pombos também me sujam o terraço todo mas não acho que eles pensem "vou c---- a casa daquele tipo que não é contra as touradas" ! simplesmente são pombos. o mundo é muito simples, o complicado é estar cheio de gente que, sob os mais diversos e lemas - como a liberdade - não respeite os semelhantes e as suas diferentes ideias, credos, religiões...
por isso é que anda tudo à batatada...
afonso
Tens razão! É muito mais importante NÃO ofender um palerma que gosta de touradas do que deixar quietinhos os indivíduos de uma espécie animal com que eles embirram. O que vale a vida pacata e monótona de um touro se a compararmos com um verdadeiro homem
macho, cheio de vontade de ver sangue de touro na arena? Não será a sua vontade e prazer mais do que suficiente para que se tire a pacatez, e a vida, de um inútil animal? Com certeza que sim. Eu é que estava a ver mal a coisa!
M
Sérgio, eu sou de opinião que o texto, abordando a liberdade individual, está bem conforme está, sem balizas sobre a questão da homossexualidade. Quem não compreender hoje, compreenderá amanhã. É a história em movimento, tal como no tempo das sufragistas, ninguém a deterá.
Não gosto da caça como desporto.
Odeio Touradas.. com ou sem morte... e não me venham lá com a história das "picadinhas" ao touro... experimentem voçês levar com elas.
Sou um adepto da liberdade...quando esta não invade os espaço dos outros. A questão do fumo, quem fuma pode fumar em qualquer sítio que não obrigue terceiros a fumar... seja bares, discotecas ou restaurante.
Em relação há homosexualidade... cada um é como é... cada um é feliz à sua maneira. Ninguém deveria ter o direito de julgar uma pessoa só por causa da sua tendência sexual...
Em relação à adopção por homosexuais...
(GETBUZY esta é para tí!)
... tenho dois comentários:
1º Existem casos de pais e mães que ficaram sozinhos com os seus filhos. E quando estes tornaram-se homosexuais (ou já o eram até)? Vão lhes tirar as crianças?
2º Segundo o exemplo português, que sabemos as condições e situações que vivem as crianças que se encontram para adopção, onde acham que elas ficariam mais felizes?
Na instituição à espera de algo... que nem elas sabem o quê?
Ou numa casa, com pessoas que os amarão como se fossem seus filhos? Sejam estas, 2 homens ou duas mulheres!
claro que estás a ver bem a coisa, do teu ponto de vista estás ! e deves sempre defendê-lo e assim dás conta da tua posição sem ofender ninguém! mas também deves tentar ver a coisa do outro ponto de vista, e assim dás conta da tua grandeza !
abraço,
afonso
Epá, lá tenho eu de por os dedos no teclado com esta treta da tourada!
Abomino ver seres humanos a maltratar gratuitamente animais. Abomino ainda mais ver seres humanos a maltratar outros seres humanos. Ainda assim, sou contra a proibição das touradas. Diz-me a experiência que a simples proibição de algo, raramente resolve algo. Veja-se a questão de Barrancos por exemplo ou numa discussão mais alargada a proliferação das drogas, principalmente no mundo ocidental.
Depois, há algo que me incomoda na tourada, que vai muito para além do sofrimento inútil do próprio touro. Este, dada a quantidade de adrenalina que lhe corre nas veias e o seu natural temperamento, provavelmente nem sofre (fisicamente) muito. Provavelmente, sofre até menos do que os seus irmão bovinos que acabam no matadouro (e isto levava-nos a toda uma outra discussão (1). Ver o excelente www.themeatrix.com/ ou em português www.themeatrix.com/portuguese/).
Entendo o toureiro, aquele que enfrenta e domina os seus medos, e na poeira do picadeiro enfrenta o touro. Percebo o chamamento do desafio, a necessidade do confronto e do se pôr à prova. Percebo, perfeitamente, o apelo do dinheiro.
Entendo (e admiro) o Touro e a razão porque nunca desiste de investir, mesmo sendo essa nobreza/vontade de lutar que, em última análise, o vai fazer perder (experimentem tourear um boi).
O que realmente me perturba são os outros. Aqueles para quem a tourada é "espectáculo". Aqueles que se sentam nas suas confortáveis cadeiras para sentirem algo que nas suas pálidas vidas nunca sentirão. Os que consomem sofrimento alheio para colmatar a falta de sentimento das suas tristes existência. Os que, no fundo, me metem pena (e medo) por não perceberem o valor da vida, seja ela de um touro ou de um outro ser humano.
Por isso, para mim, a questão da tourada (ou das lutas dos cães ou da matança do porco), ultrapassa o fenómeno em si, prendendo-se mais com o que leva tantas pessoas a querer assistir à tourada. As respostas, julgo, encontram-se muito longe da bancadas. Encontram-se no sítio mais remoto e escuro do universo, dentro de cada um de nós. E como a forma como cada um lida com isto é pessoal e intransmissível, passo directamente à minha conclusão.
Gosto de animais, mas gosto ainda mais de pessoas (bem, pelo menos a maioria das pessoas). Por isso, se é necessária a morte de um touro para evitar que um marido chegue a casa e mate a mulher à pancada (2) e (3), a coisa parece ser um mal necessário.
Não quero com isto dizer, que devemos aceitar impávidos e serenos o que considero ser uma pública exibição de bestialidade exercida sobre animais indefesos. O que eu quero dizer é que existem razões muito profundas para que as touradas existam, muito para lá a suposta "herança cultural" ou "legado histórico" que tantas vezes ouço disparatadamente serem citados. E uma dessas razões é de que a tourada, o sangue, a brutalidade da morte do touro, mesmo que escondida pelas portas do estábulo, serve de válvula de escape para uma sociedade doente.
Lamento se pareço brutal, tanto mais porque acredito que a forma como tratamos os nossos animais revela o grau de civilização da nossa sociedade (4), mas este é nosso mundo. Mudá-lo, por muito inacreditável que possa parecer, depende realmente apenas de cada um de nós.
(1) Sabem, por exemplo, como é feito o foie-gras (literalmente fígado gordo em francês)?
Para a sua obtenção é necessária grande quantidade de fígados de ganso ou pato, de preferência muito gordos. Para isso, os animais são alimentados á força durante longas horas, durante cerca de 3 semanas seguidas.
A alimentação das aves é feita através de um tubo de cerca de 40cm, introduzido directamente até ao estômago, por onde é descarregada uma papa nutritiva. Além das feridas causadas pelo tubo, cerca de 12% dos gansos morrem antes do abate pois o seu fígado torna-se tão volumoso que impede a respiração.
As aves são mantidas em capoeiras de reduzidas dimensões e sem condições, para que não se desloquem e a gordura se acumule no fígado.
Após cerca de 3 semanas são abatidos e retira-se-lhes o fígado. E ainda se admiram que elas desenvolvam gripes!
(2) As denúncias de violência doméstica em 2005, junto da PSP e da GNR, aumentaram 17% em relação a 2004. No total, foram recebidas 17 811 queixas, sobretudo de mulheres maltratadas pelos companheiros. A partir destas denúncias, a PSP procedeu a um total de 249 detenções, quatro vezes mais do que no ano anterior. A GNR não divulgou o número de detenções. - in DN (Quinta, 16 de Fevereiro de 2006)
(3) As segundas vítimas de violência doméstica sãos as crianças. A GNR identificou 382 menores agredidos, mais 21% do que em 2004; a PSP registou 302 indivíduos com menos de 16 anos, menos 23 do que em 2004. - in DN (Quinta, 16 de Fevereiro de 2006)
(4) Séneca, um tipo grego que, apesar de gay (os gregos são todos gays, facto que qualquer embarcado pode atestar e que só aumenta a vergonha da nossa derrota no Europeu), mandava umas larachas engraçadas sobre a vida, disse uma vez: «a crueldade nasce da fraqueza».
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