02 fevereiro 2006

Ray...



Caso ainda não tenham visto este filme, aconselho-vos seriamente a fazê-lo.

Em termos cinematográficos, destaque para a fotografia do filme. Ao longo de mais de duas horas somos brindados com imagens de eleição. Desde os momentos em que Ray recorda a sua infância, altura em que o realizador nos brinda com fantásticas imagens em sephia, mas com tons verdes, amarelos e castanhos carregados... divinal! Ao longo do filme há imagens cuidadosamente embelezadas pelo fumo do cigarro... um ambiente de extrase, sem dúvida.
A interpretação de Jamie Foxx é transcendente... por momentos leva-nos a pensar que é o próprio Ray Charles em performance ao vivo. Realmente o actor encarnou o personagem. O Óscar de Melhor Actor sabe a pouco para este interpretação.
Como sou um amante do som, este não podia passar ao largo. Não é à toa que o filme ganhou mais um Óscar: Melhor Mistura de Som (Scott Millan, Greg Orloff, Bob Beemer e Steve Cantamessa). Há alturas em que a imagem é secundária, tal é a virtuosidade do som. Qualidade de som, envolvencia... neste filme o som tem muitas cores. Toda a re-mistura foi pensada e tratada para encenar o ambiente que viveríamos, e o que ouviríamos, se estivéssemos no local onde o plano é filmado. Ora isto é especialmente fantástico quando o plano escolhido é o do próprio Ray Charles; ou seja, ao piano!


Aliás, todos os pormenores do filme foram cuidadosamente estudados. Só assim se conseguiu tratar a realidade de um personagem tão único, quanto complexo e muito especial. Repare-se que o filme tem uma equipa de direcção vasta (Taylor Hackford, James L. White, Stuart Benjamim, Howard Baldwin e Karen Baldwin) sem a qual seria impossível absorver e retratar tantos e tantos pormenores, tão distintos na vida deste génio musical.
A equipa é vasta e com um currículo notável. Visitem o site do filme; até este é tão soberbo quanto único.

http://www.raymovie.com/

O filme dá-nos a conhecer a história de Ray Charles. Mostra-nos especialmente, o lado “negro” deste homem: os traumas de infância, as dificuldades criadas pelo aparecimento da cegueira, a dificuldade e os erros que cometeu para ascender no mundo da música, drogas, bigamia, entre outros momentos menos felizes que todo o ser humano tem.
Mostra-nos também o que de melhor caracteriza esta força musical da natureza: o seu estilo próprio derivado da mistura de gospel, jazz, country music e do som sinfónico das orquestras; como aprendeu a tocar piano; como contrariou preconceitos da sociedade americana (o racismo, a deficiência visual como forma natural de exclusão social, e a própria interpretação misturada da música de Deus, o Gospel, com o profano jazz).
Ficamos a conhecer que a personalidade desta voz negra do jazz não era propriamente forte... até facilmente influenciável... e ficamos a conhecer a grande reviravolta da sua vida, a partir do momento que abandonou definitivamente o mundo da heroína e se tornou um cidadão do mundo (contribuinte assíduo nas causas de solidariedade mundiais).
Curiosamente o abandono das drogas não tirou a vitalidade, nem o virtuosismo musical. Fica bem patente que a música é uma dom natural daquele homem. A originalidade característica tem uma força brutal e sai-lhe pelos dedos e pela voz de forma imparável, vincada e incrivelmente melódica.


A mim, comum mortal, que tentou aprender piano e guitarra sem exito, resta-me admira-lo como uma entidade divina... Não sei qual é a vossa opinião, e independentemente do vosso gosto musical, não deixem de ver o filme: é impossível não ser seduzido por aquele som!

Sérgio

6 comentários:

Filipe Carmo disse...

Acredita que tenho este filme em casa em DVD há muito tempo e ainda não o vi...

Sinceramente tinha a ideia que era mais um "filmezinho"...

Parece que me enganei...

Anónimo disse...

E de mim ninguém faz um filme... também uso óculos escuros! E tenho um cabelo muito bonito!

Anónimo disse...

A minha vida é que dava um grande filme!

Anónimo disse...

Fantastic este Ray!Ainda não vi o filme, se for como a música, é divinal!
E o Louis Amstrong alguém o viu?!

CARMO disse...

... Como todas as sugestões deste blog!

CARMO disse...

Quando escrevi este post esqueci-me de dizer duas coisas:
1.º fantástico o pormenor da forma como se encontraram Ray Charles e Quicy Jones (duas personagens tão lendárias!);
2.º ao contrário do que transparece o filme, grande parte dos temas não são inteiramente compostos por Ray Charles (há inumeros produtores na sua discografia).