27 fevereiro 2006

2 Dias Fabulásticos em Sierra Nevada.

Aqui fica uma espécie de diário de bordo!

Tudo começou com a ideia de fazer uma semana “gay” de ski. A ideia é a de fazer muito ski, sem paragens de manhã à noite. Marquei com mais 3 amigos uma ida a Sierra Nevada: saída Domingo à noite; chegada à estância na 2.ª de madrugada; esquiar 2.ª, 3.ª e 4.ª; aproveitar a noite de Sierra Nevada; e regressar na 4.ª ao fim do dia (porque 5.ª já era dia de trabalho). Não queríamos esquiar no fim-de-semana, porque normalmente há muita gente nas pistas, tínhamos um jogo de futebol no Domingo à tarde, e para não deixar de fazer companhia às respectivas famílias.

A semana de férias começou por ser adiada por causa do “chefe” (um espanhol! Conho!) de um dos meus amigos, que havia de vir de Lisboa ao Porto para reunir com ele, exactamente nesse semana...

Adiada a missão por uma semana, deparamos com a mesma pessoa doente no Domingo à noite... Apesar de ele querer ir mesmo assim, eu fui da opinião que aquilo era insano e convenci os outros a adiar novamente (se ele piorasse as férias não teriam piada)... Ainda aproveitamos para gozar com ele; afinal, naquele estado não precisava de mentir ao chefe para se baldar ao trabalho!
Ficamos em stand by para o dia seguinte, sob a condição de ele acordar melhor, caso em que arrancaríamos para Sierra Nevada, mesmo perdendo um dia de ski. E não é que ele acordou curado?! Dizem as más línguas que foi para não ficar com os sogros em casa... Mas deve ser mentira...

Depois da mensagem dele às 8 da manhã, toca a preparar os sacos para arrancar; e assim o fizemos, embora com muitos atrasos, só tendo saído do Porto às 10h30... trânsito!
No meio disto tudo, tive um vipe quando fui buscar os skis... algo mais forte do que eu disse: leva a prancha! E eu levei... não faz sentido nenhum ir esquiar com os meus amigos que mais rápido esquiam, eles de ski e eu de prancha... mas fui! Fui e foi espectacular: teve momentos muito bons, embora também tivesse momentos de desespero! Não me arrependi, embora tenha percebido que não devemos misturar no mesmo grupo skis e pranchas, quando queremos andar mesmo depressa. São dinâmicas diferentes, os pontos de paragem são diferentes e a mobilidade é diferente.

Primeira paragem em Antuã; almoço em Almeirim (azar, não havia sopa de pedra), já em pleno Ribatejo apanhamos um nevão... não, afinal era só granizo na estrada, mas o suficiente para termos visto dois despistes numa AE que não tinha ninguém.

A saída de Portugal pelo Algarve brindou-nos com um sol estupendo e o resto da viagem correu também lindamente. Depois de Granada e ao iniciarmos a subida para Sierra Nevada, a sinalização avisava-nos da necessidade de colocar correntes no carro; compramos as correntes, mas não as colocamos... na altura comigo ao volante, fizemos facilmente a estrada e sem percalços.

Deparamos com uma vila pejada de neve acabada de cair. O cenário era memorável e as condições meteorológicas prometedoras para o dia seguinte. Arranjamos hotel com facilidade; fomos jantar e só depois descarregar o carro (a fome era negra!). Tempo ainda para dar uma voltita pelos bares e verificar que a noite de Sierra Nevada estava muito apagada. Já com pouco tempo para dormir fomo-nos deitar. Dormir foi difícil! 4 homens num quarto, 2 dos quais uns autênticos barítonos na arte de ressonar... e eu que me esqueci dos tampões para os ouvidos!

No dia seguinte acordamos bem dispostos e depois de um pequeno-almoço reforçado, lá fomos tratar dos forfaits e do aluguer de skis para um de nós. Tudo a correr muito, porque a vontade de deslizar era gritante e as condições apresentavam-se espantosas. Foi um autêntico delírio o 1.º dia; espero não ter travado muito os meus amigos (sempre mais rápidos, de skis). As duas últimas descidas foram mais lentas para mim, mas na última percebi que também eles estavam cansados (especialmente um deles), e como quem não quer a coisa, passei por eles devagarinho e cheguei cá em baixo primeiro, só para criar confusão!

Depois de umas cervejas e já gelados, porque o sol entretanto tinha desaparecido, fomos às compras: havia quem quisesse comprar uns skis para a mulher! Não foi tarefa fácil, mas comprou uns espectaculares. Daqui a duas semanas vão ser um sucesso na Áustria.

(Por vezes o material cede à pressão da competição... além dos organismos débeis)

Depois do banho (mais barba, mais creme, mais secador de cabelo – private joke), jantar 5* no argentino. A conversa estava de chorar a rir e resolvemos passar para o Crescendo, mesmo lado. De facto a noite de Sierra Nevada estava mesmo apagada... apesar disso ficamos por ali entre boas gargalhadas. Nesse dia não fomos a mais lado nenhum... la mobida não era promissora, estávamos cansados e no dia seguinte havia que aproveitar ao máximo as pistas, às quais se seguiam mais de 1000 kms até casa.

Nova noite sem grande descanso; os “ressonantes” estiveram no seu melhor... e o meu sono leve não conheceu grande desempenho... mas nem isso me tirou a boa-disposição ao acordar. Novo pequeno-almoço reforçado, malas feitas e colocadas fora do quarto e já estávamos novamente nas pistas. À semelhança com o dia anterior, o tempo e a neve estavam no seu melhor.

Subimos para a zona da Laguna (desta vez consegui vencer o teleski e cheguei ao topo sem cair). Acho que a manhã do 2.º dia foi o ponto alto destes 2 dias... as pistas estavam com uma neve sensacional: fofa e calcada. Melhor ainda: não havia praticamente ninguém na Laguna... tínhamos 20 kms de pistas vermelhas bem inclinadas e fora-de-pistas imaculados, quase só por nossa conta. Nunca pensei encontrar este cenário em Sierra Nevada... normalmente há muita gente nas pistas e a neve é muito dura e gelada. Fez lembrar os Trois Vallées.

(O Rui e o Manel a comentarem: ...estamos fo#$%&?... um adoece e tira-nos um dia de férias, o outro vem de snowboard...)

Neste 2.º dia acusei o cansaço logo desde a manhã; a falta de técnica notou-se bem nos tombos mais frequentes e num ritmo inferior, o que pôs os meus amigos à minha espera várias vezes. Por volta do meio-dia o tempo encobriu e logo a seguir começou a cair uma neve húmida com o vento a fazer-se sentir. A partir desse momento e com as condicionantes de visibilidade difíceis tornei-me muito lento; e os meus amigos tiveram de esperar mais ainda por mim... Pouca visibilidade, capacidade técnica inferior em cima da prancha e muito cansaço, tornaram penosa a tarde sempre que tentei aumentar o ritmo... ou deslizava calma e relaxadamente, ou caía. Subimos novamente à Laguna, e novamente não caí no teleski... mas a visibilidade piorou tanto, que houve alturas que nem sabia por onde andava e cheguei mesmo a sair pela pista fora... só me apercebia, porque a neve tornava-se mais fofa. Às vezes pensava que estava parado (para descansar) e afinal estava a deslizar... com aquela sensação de enjoo e de me perguntar: onde é que está o chão!?

(O Mário a chupar no dedo... há quem diga que isto se tem vindo a tornar um hábito diário...)

De regresso a Borreguilles já às 16h30, os meus amigos seguiram pela Aguila até cá abaixo... como isso implicava um desvio com uma ligeira subida, acabei por descer pelo Rio. Estava muito cansado para tirar a pranchar e caminhar; apesar de não achar piada nenhuma à pista do Rio, pareceu-me preferível... Fui descendo tranquilamente. A descida pela Aguila não deve ter sido pacífica; isto porque cheguei cá abaixo (desta vez sem qualquer intenção) bastante antes deles. Concerteza estiveram MUITO tempo a ver se eu vinha por ali também.

O hotel TELECABINA foi simpático; deixou-nos guardar as malas e tomar banho num balneário próprio, o que nos permitiu encarar a viagem “fresquinhos mas sequinhos”.
A única coisa que não correu bem nestas férias foi a saída de Sierra Nevada. Enfrentamos um engarrafamento que nos fez demorar mais de 2 horas para fazer os 30 e poucos kms até Granada. A estrada estava gelada; havia muitos carros parados para pôr/tirar correntes; a velocidade a que se circulava não justificava por correntes... por isso, e mais uma vez, viva a preguiça!

Depois disso fizemos 3 paragens: jantar, reabastecer e trocar de condutor, café e trocar de condutor. Numa delas ainda tive tempo para esmurrar o nariz na porta do carro. Entramos em Portugal pelo Algarve à meia-noite. Na última paragem (Santarém) iniciei o meu turno de condução, que correu lindamente, e apenas foi manchado pela necessidade repentina de abastecer, o que me levou a fazer alguns kms mais lentamente e me causou algum sono (ficam já a saber que os Chrysler Voyager tem uma reserva muito pequena – tirando isso portou-se lindamente... quer dizer, não queria pegar para vir embora... mas andou em cima de neve e gelo como se nada fosse). Cheguei a casa eram quase cinco e meia da manhã... às oito havia que acordar para ir trabalhar (o que fiz sem especial esforço; aliás, até hoje, uma semana depois, não me senti cansado ou com sono).

A viagem em ambos os sentidos fez-se muito bem e foi sempre muito animada. As conversas, por vezes corrosivas, entrelaçavam-se e praticamente não recorremos aos cds que levamos.

A título elucidativo deixo uma lista de expressões muito utilizadas nas conversas destas férias:
- ...organismo débil... – aplicado ao facto de por doença termos perdido um dia de férias e a qualquer situação de resistência física inferior.
- ...seca... – mulher de poucas palavras e pouco comunicativa (houve quem utilizasse esta expressão para designar mulher magra).
- ...se comeste ou não comeste, não interessa a ninguém... – utilizada quando se falava de uma mulher em particular.
- ...comportamento abichanado... – aplicado à postura de snowboard, aos homens que põem creme na cara, secam o cabelo com secador e não ressonam (concretamente a mim que fui indecentemente gozado por estes 3 esquiadores).
- ...alfinetadas... – arte de espicaçar desenvolvida por um dos elementos presentes.
- ...não dizes nada e dizes tudo... – continuação da prática anterior.
- ...atiro a pedra e escondo a mão... – continuação da prática anterior.
- ...não devia ter bebido esta última parte da cerveja... – aplicável quando reparávamos que tínhamos falado de mais sobre a nossa intimidade.
- ...no seio deste grupo já há alguma intimidade... – utilizado quando queríamos que alguém dissesse mais qualquer coisa sobre si mesmo.
- ...não tens sensibilidade; estamos a falar de pessoas e de sentimentos... – muito usado quando a conversa descambava perante um discurso que se pretendia sério.

São histórias memoráveis como estas, que jamais esquecemos e pelas quais vale a pena viver! É claro que há mais coisas a contar... mas não podem ser contadas! Pelo menos aqui...

Sérgio

24 fevereiro 2006

O Norte de Portugal

(Foz do Douro vista da Pasteleira-Porto)

Texto de Miguel Esteves Cardoso

“Primeiro, as verdades.
O Norte é mais Português que Portugal.
As minhotas são as raparigas mais bonitas do País.
O Minho é a nossa província mais estragada e continua a ser a mais bela.
As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes que já se viram.
Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma Viana secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo à vista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade verde-branca. Verde-rio e verde-mar, mas branca. Em Agosto até o verde mais escuro, que se vê nas árvores antigas do Monte de Santa Luzia, parece tornar-se branco ao olhar. Até o granito das casas.
Mais verdades.
No Norte a comida é melhor.
O vinho é melhor.
O serviço é melhor.
Os preços são mais baixos.
Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar uma ninharia.
Estas são as verdades do Norte de Portugal.
Mas há uma verdade maior.
É que só o Norte existe. O Sul não existe.
As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, etcaetera, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta.
Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte.
No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se identifica como sulista?
No Norte, as pessoas falam mais no Norte do que todos os portugueses juntos falam de Portugal inteiro.
Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país.
Não haja enganos.
Não falam do Norte para separá-lo de Portugal.
Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal.
Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal.
Mas o Norte é onde Portugal começa.
Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo.
Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria mesmo, por muito pequenina. No Norte.
Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa. Mais ou menos peninsular, ou insular.
É esta a verdade.
Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte. Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente.
No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não quer a coisa.
O Norte cheira a dinheiro e a alecrim.
O asseio não é asséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho. Tem esse defeito e essa verdade.
Em contrapartida, a conservação fantástica de (algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses) nessas coisas.
O Norte é feminino.
O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso.
As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos.
Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito. Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas.
São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte. Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente.
Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial. Só descomposturas, e mimos, e carinhos.
O Norte é a nossa verdade.
Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório. Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores. Depois percebi.
Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos. Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O Norte".
Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender Portugal no mundo. Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma terra maior, é comovente.
No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima. Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita. O Norte não tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho ou Trás-os-Montes, se é litoral ou interior, português ou galego? Parece vago. Mas não é. Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima de nós, com a terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para adivinhar.
O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm de dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fosse só um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos?”

(Viana do Castelo vista do Alta da Santa Luzia)

O meu agradecimento à Marta pelo envio do texto e da fotografia da Foz do Douro.

Sérgio

16 fevereiro 2006

Polícia Camarária ou Mercenária?

Ontem fui multado por ter o carro estacionado a menos de 25 metros de uma paragem de autocarro. Foi a 1.ª vez esta semana que não vim de moto... pimba!

(Os traços separadores da via estão bem visíveis...)

Só que a história está incompleta... como é bem visível nas fotografias (apesar do piso molhado), há um tracejado pintado no chão que sinaliza uma zona de estacionamento ao longo da rua, dividindo-a da faixa de rodagem.

(...visíveis na rua toda!)

Encontrei o meu carro já meio levantado do chão e tive de pedir a uma suposta Sr.ª Polícia Camarária para baixar o reboque, que eu responsabilizava-me pela situação em causa.
Depois de explicar à senhora que aqueles traços permitiam que eu ali estacionasse, tal como em muitos outros sítios da cidade actualmente, entre outros argumentos, a prepotência da mulher limitou-se a dizer: “...esses traços já estão muito apagados...”. Único argumento aliás apresentado ao longo da discussão.
Para começar, os traços até se vêm muito bem. De imediato lhe perguntei se o traço continuo da curva ali à frente era para eu respeitar ou não?... É que está muito mais apagado! Também lhe disse que não conhecia esse princípio, segundo o qual, sempre que a sinalização está desgastada pelo tempo, os condutores têm o direito de a não respeitar...

(O automóvel atrás do meu não foi multado.)

Tentei ligar para o 112 e chamar um carro patrulha da PSP, mas ninguém me atendeu... felizmente ninguém estava a morrer...

(A distância que o meu carro foi arrastado.)

Neste contexto tive mesmo de ir levantar dinheiro, para que o meu carro não fosse arrastado. 50€! Dá-los aquela mulher a quem tinha vontade de espancar, foi mesmo engolir um sapo... Avisei-a que claramente que vou contestar a multa, exigir pedido de desculpas e procedimento disciplinar contra ela. Ainda lhe disse que ali a única coisa que estava mal era a falta de bom senso e má fé dela. Há muitos carros mal parados em 2.ª fila a incomodar o transito pela cidade fora, no entanto, ela estava ali a implicar com uma situação na qual não tem razão nenhuma, e em nada prejudica alguém... só que a multa é mais alta. No fim, a mulher estava branca... e eu sem 50€...

(Vêm-se algumas marcas dos pneus no chão.)

Logo a seguir, a criatura imbecil foi implicar com outro carro, que não era o que estava mais perto da paragem (até porque não há nenhuma marca amarela na rua a marcar a distância em que seria proibido estacionar).

(Será que aqui também temos de respeitar 25 metros de distância à parágem?!)

Não percebo que raio de gente é esta que a CMP do Porto emprega e que actua conjuntamente com os STCP... Temos mais duas polícias além da PSP?! Depois vêm falar em deficit! E para quê?! Será que a PSP não é capaz de desempenhar a sua função?! Ou tem princípios, valores de comportamento e dignidade a mais para as necessidades fiscais da CMP?! É que a PSP passa várias vezes ao dia aqui e nunca os vi multarem os carros que estão correctamente estacionados...

(E neste caso? Estarão os traços desgastados?! E o lugar privativo estará a mais de 25 metros?!)

Até posso entender que em frente daquela paragem não deveriam haver carros estacionados. Mas para isso primeiro apagam o tracejado branco; só nessa situação têm legitimidade para multar.

É por estar e por outras que o nosso país é o que é: "Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito."... já dizia o Cardeal de Retz.

Sérgio

Micah P. Hinson na Casa das Artes de Famalicão.

Ontem fui com os meus companheiros de aventura em jornadas musicais, os Calimeros, ver Micah P. Hinson à Casa das Artes de Famalicão.

Aproveito para publicitar este Município que tem trazido a Portugal músicos (infelizmente) pouco divulgados, mas de qualidade referencial. Em 2005 assisti nesta sala de espectáculos a Perry Blake e Antony & the Johnsons; mas houve mais... além de peças de teatro e outros espectáculos interessantes.

Passavam poucos minutos das 9h30 e estávamos nós em amena cavaqueira na 2.ª fila, com alguns “bonifácios” à nossa frente, quando alguém entra em palco e começa a fazer um test sound. Pensamos nós “isto está para começar!”. A certa altura, aquela criatura de postura low profile e que parecia fazer um esforço para não ser notada pela audiência, dirige-se ao microfone, apresenta-se e diz que vai tocar alguns temas do seu último álbum! Nesta introdução tão singela, nem consegui perceber que ele era... Micah P. Hinson não era concerteza, pois a voz era de todo angélica...
O rapaz terá tocado aí uma meia hora. Em alguns temas apresentou uma voz melodiosa e exibiu uma boa técnica de guitarra. No entanto, fez uma actuação demasiado apagada... parecia que não queria incomodar as conversas da plateia (pior, só a Josefine em Santa Maria da Feira, no concerto do Sondre Lerche e do Patrick Wolf). A certa altura comentou que tinha conhecido uma rapariga em Madrid (Cláudia) aquando da actuação naquela cidade; definitivamente apaixonou-se por ela e disse que ia tentar ficar por cá... “por cá?! Mas ele julga que está em Espanha?!” ri-me eu! Tocou um tema dedicado à sua musa; pessoalmente, acho que se a Cláudia ouviu aquilo, que ele nunca mais lhe põe a vista em cima... acho que foi o pior tema da noite. No último tema, cometeu diversas gaffes à guitarra; pena... Agradeceu muito termos lá ido e saiu, deixando a imagem de ser alguém muito triste e deprimido...

Pelos vistos a forma descontraída de entrar em palco deve estar a pegar moda, pois passados alguns segundos, o próprio Micah P. Hinson entrou em palco e começou a ligar a sua guitarra e os diversos pedais (aliás, o mesmo aconteceu com os restantes 3 músicos que formavam a banda de apoio, que foram entrando um a um ao longo de concerto, e que ele classificava como a sua gospel band). Claro que a postura em nada se assemelhava ao anterior músico: totalmente descontraído, aluado, cómico e conversador com a audiência. Fomos brindados com excelentes sonoridades de harmónica e banjo, entre sons estranhos sintetizados e uma bateria e baixo marcantes, além da guitarra característica de Micah P. Hinson, que ao longo do concerto se revelou um rocker imparável.


Ultimamente os norte-americanos, especialmente os texanos, têm vindo a ser muito mal vistos, consequência da actual política internacional dos E.U.A.. Ontem tivemos mais uma confirmação que não devemos meter toda a farinha no mesmo saco... este é um texano simpático, que transpira ter um bom coração, através das suas letras simples e banais, mas carregadas de sinceridade.


Fui para este espectáculo empurrado pelos Calimeros e sem qualquer expectativa. Saí com um sorriso de orelha a orelha e com aquela sensação de ter vivido uma noite memorável! Viva o rock, o country e o gospel! Viva Micah P. Hinson!


Sérgio

15 fevereiro 2006

Na Ressaca do "Dia dos Namorados".


Ontem tive uma noite normalíssima... saí do trabalho, fui fazer um treino (com alguma precaução, porque fiz, nem sei como, uma micro-ruptura muscular na perna direita) e depois fui para casa estudar, tendo entretanto jantado e desencravado o zip do fato de mergulho (obrigado papá... é que não havia maneira de o conseguir desencravar!). Confesso também que nunca achei piada ao "Dia dos Namorados. Aliás, por norma, não aprecio festas pré-definidas... parece que temos a obrigação de nos divertirmos muito naquele dia. O que sabe mesmo bem são aquelas farras que vêm do nada... supresa total! Mesmo que ao outro dia seja necessário ir trabalhar... buáaaaaaaaa!

Hoje de manhã estava a ver os emails e encontrei um soberbo, da Rosa, com o seguinte comentário:

"Para quem já encontrou a sua "cara metade" e também para quem que só têm encontrado SAPOS pela frente!!!!!!!!!!!!"


AINDA HÁ PRÍNCIPES

"Não vêm montados em cavalos brancos, a empunhar espadas e a prometer a morte dos dragões. Vêm por nós. Vêm para nós. Só precisamos de prestar atenção.

O que transforma um homem vulgar no nosso príncipe é ele querer ser o homem da nossa vida.
Se ficou sem consorte no dia de S. Valentim não desespere. Faça como uma amiga minha que quando sai do carro, retoca o baton e diz com uma convicção demolidora: «o meu Príncipe pode estar em qualquer lado!».
E pode mesmo. É uma questão de fé, arbitrária e alietória, mas que acontece. "Até porque nós, os extraordinários, somos poucos, mas andamos por aí."... Isto é o que diz um amigo meu que é mesmo extraordinário e já encontrou a pessoa certa, pelo menos por agora...
Foi ele que um dia me explicou o que era esse maravilhoso conceito da pessoa certa.
A pessoa certa não é a mais inteligente, a que nos escreve as mais belas cartas de amor, a que nos jura paixão ou nos diz que nunca se sentiu assim. Nem a que se muda para nossa casa ao fim de três semanas e planeia viagens idílicas ao outro lado do mundo.
A pessoa certa é aquela que quer mesmo ficar connosco. Tão simples quanto isto. Às vezes demasiado simples para nos apercebermos...
Os Príncipes Encantados não têm pressa na conquista, porque como já escolheram com quem querem passar o resto da vida, têm todo o tempo do mundo. Levam-nos a comer um prego porque sabem que no futuro nos levarão à Tour d' Argent. Ouvem-nos com atenção e carinho porque se querem habituar à música da nossa voz e entram-nos no coração devagar, respeitando o silêncio das cicatrizes que só o tempo apaga.
Podem parecer menos empenhados ou sinceros que os antecessores, mas o que chamamos hesitação ou timidez talvez seja uma forma de precaução para terem a certeza que não se vão enganar.
O Príncipe Encantado não é o namorado mais romântico que nos cobre de beijos; é o homem que nos puxa o lençol durante a noite para não nos constiparmos e se levanta às três da manhã para nos fazer um chá quando nos dói a garganta. Não é o que nos compra discos românticos e nos trauteia canções de amor. É o que nos ouve falar de tudo, mesmo das coisas menos agradáveis. Não é o que diz Amo-te, mas o que sente que talvez nos possa amar para sempre. Não é o que passa metade das férias connosco e a outra metade com os amigos; é o que passa, de vez em quando, férias com os amigos.
O Príncipe sabe o que quer. Não é o melhor namorado; é o marido mais porreiro. Não é o que olha para nós todos os dias, mas o que olha por nós todos os dias. Que tem paciência para os meus, os teus, os nossos filhos e que ainda arranja lugar para os filhos dos outros. Que partilha a vida e vê em cada dia uma forma de se dar aos que lhe são próximos. Que quando está cansado fica em silêncio, mas nunca deixa de nos envolver com um sorriso. Não precisa de um carro bestial, basta-lhe uma música bestial para ouvir no carro. Gosta de ler e sai pouco à noite, porque prefere ficar em casa a namorar e a fazer zapping. Cozinha o básico, mas faz os melhores ovos mexidos e vai à padaria num feriado.

O Príncipe é Príncipe porque governa um reino, Porque sabe dar e partilhar, porque ajuda, apoia e faz-nos sentir importantes.
Claro que com tantos sapos, bem vestidos e cheios de conversa, como é que não nos enganamos? É fácil. Primeiro, é preciso aceitar que às vezes nos enganamos mesmo. Depois é preciso acreditar que um dia vamos mesmo ter sorte. E como o melhor de viver é saber que um dia tudo muda, um dia muda tudo e ele aparece.

Depois é deixá-lo ficar... e se for mesmo ele, fica."

Margarida Rebelo Pinto


Não me estou a candidatar a nada... só não gosto de pessimismos... nem de ver alguém sozinho!

Sérgio

14 fevereiro 2006

Afinidade.

“Afinidade é um dos poucos sentimentos que resistem ao tempo e ao depois.
A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais subtil, delicado e penetrante dos sentimentos.
É o mais independente também.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades.
Ter afinidade é muito raro.
Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existe antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas.
Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos factos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras, é receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.
Não é sentir nem sentir contra...
Nem sentir para...
Nem sentir por....
Nem sentir pelo.
Afinidade é sentir com.
Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar, ou, quando falar, jamais explicar: apenas afirmar.
Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.
É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades exercidas quanto das impossibilidades vividas.”

Scarpelli



Apreendi este "termo" com a minha ex-mulher e foi a base do inicio do nosso relacionamento. Parece-me que este texto define o sentimento de forma perfeita e sem igual... pelo menos que eu conheça.

Sérgio
P.S.: fotografo desconhecido.

13 fevereiro 2006

Auto-Confiança.



"Acredite em você!

Não importa do que é o mundo.
O importante, são os seus sonhos...

Não importa o que você é.
O importante é o que você quer ser...

Não importa onde você está.
O importante é para onde você quer ir...

Não importa o porquê.
O importante é o querer...

Não importa suas mágoas.
O importante mesmo, são suas alegrias...

Não importa o que você já passou.
O passado guarde na sua lembrança...

Não veja; apenas olhe...
Não escute; apenas ouça...
Não toque; sinta...
O mundo é um espelho; não seja apenas um reflexo.

Só acreditando no futuro você conseguirá a paz para alcançar seu sonhos..."


Numa altura em que a religião comanda uma parte importante dos destinos do mundo de forma tão radical, já é tempo das pessoas começarem a pensar em quem devem acreditar: se neles próprios que sentem as consequências das próprias acções e dos outros; se em entidades que nunca viram...


Sérgio

Autor do texto: Alguém sabe de quem é este texto?
Fotógrafo: E o fotografo(a) alguém sabe quem é?

09 fevereiro 2006

O Melhor Amigo do Homem!

Dizem que o cão é o melhor amigo do homem... não sei se é... nem sei definir o que seria o melhor amigo...

Uma coisa é certa: o cão é dos melhores amigos que podemos ter! São fantásticos... são uma companhia indescritível; são cómicos e capazes de nos surpreender a todo o momento.

Desde miúdo convivi com cães. Lá em casa sempre houve esta paixão. Entre muito bichinhos fantásticos que por lá por casa passaram e que acabaram no olho da rua... pois, é que eu tive uma avó com alguns problemas de sanidade mental... e quando os animais cresciam e se tornavam parte da família, a “ciumeira” devia corroer-lhe os miolos e fazia os cães (e gatos) desaparecerem sem explicação aparente e sem ninguém perceber o que tinha acontecido... a certa altura tivemos uma cadela pastora alemã: a Kimba! Esta cadela tinha o seu maior trunfo na inteligência e por muito que a minha avó a tentasse fazer “desaparecer”... ela voltava sempre! Com o passar dos anos (e já sem a minha avó a viver connosco) a Kimba saía todos os dias por volta das 10 da manhã e só voltava por volta do meio dia... com os “homens da rede” a correrem atrás dela... e com um sorriso no focinho... isto porque ela esperava por eles... não fugia de imediato! Como conseguia saltar muros com mais do dobro da altura dela (o que lhe permitia liquidar todos os gatos da vizinhança), não havia quem a segurasse... Este filme era diário; até que já com mais de 15 anos, foi apanhada. Tivemos de a ir buscar ao canil municipal, e por iniciativa própria, deixou de sair... Foi mais ao menos no mesmo ano, que ao saltar uma cerca de 1,70m, da areia para dentro de casa, ficou presa pela coleira nos bicos da cerca... passou a entrar e a sair pelo outro lado da casa, onde o portão tem só um metro de altura. Mesmo com esta idade, acompanhava-me em corridas de meia hora pela praia, praticamente sem esforço e sem demonstrar cansaço (ao contrário de mim!).
O tempo passou... e tinha já a Kimba 21 anos, quando tive de fazer aquilo que mais me custou em 33 anos de vida: leva-la ao veterinário e “adormece-la”... A perda de visão e audição parcial, associada às artroses crescentes nas patas traseiras, retiraram-lhe qualquer qualidade de vida... a minha Kimba passou dias deitada no ninho com um olhar triste... Tentamos medicação diversa, mas a partir de determinada altura já nada fazia efeito. Segui o conselho do veterinário, que calmamente e há algum tempo me vinha a dizer, que um cão sem o movimento, é um cão sem vontade de viver... e pus fim ao sofrimento da minha maior companheira de sempre...
Para trás ficam muitos dias passados juntos e o remorso de não lhe ter feito mais companhia... de não a ter mimado mais... de ter sido duro com ela em determinadas situações... A Kimba cresceu comigo entre os meus 6 e os 27 anos de idade. Se alguém estava doente lá em casa, a Kimba estava ao lado dessa pessoa noite e dia. Se eu ficava a estudar a noite toda, a Kimba ficava ao meu lado. Adorava andar de carro e fazia-o no banco da frente com o sinto de segurança. Conseguia abrir as portas dentro de casa, rodando os puxadores com as patas. Nunca conheci alguém que não gostasse dela... era uma pastora alemã possante, linda, meiga e sedutora!

Para os fãs dos cães, uma sugestão: prefiram as cadelas. São mais asseadas e mais dedicadas aos donos. Lá em casa as cadelas ganharam a eleição. Além de gatos, também tivemos patos, hamsters e porquinhos da Índia, peixes, cágados, grilos... e até um melro que não conseguimos vê-lo na gaiola muito tempo: liberdade! Tenho recordações fantásticas de todos... Um dos hamsters que tivemos, todas as noites conseguia abrir a gaiola e atirava-se de móveis com mais de um metro de altura; de manhã, enquanto tomávamos pequeno almoço, vinha ter connosco para o colocarmos na gaiola (era a Pantufa). Tivemos outro, o Horácio, que só resistiu a uma noite de frio, porque a minha mãe lhe enfiou uma colher de bagaço pela boca abaixo... Tivemos cágados (Tico e Teco) que adoravam festinhas na cabeça... Tivemos um gato (Tico) que roubava as galinhas da vizinha e trazia-as para o pastor alemão (Kaiser) comer; e por compensação, o pastor alemão deixava-o dormir enrolado no quentinho da barriga. Tivemos um ganso que era um autêntico “cão de guarda”.

(Os meus Pais com a Kika e Pituxa)

Depois da Kimba, não me apetecia mais ter cão algum... só que um pit bull preto e branco de um amigo, o Snoopy, convenceu-me do contrário. Este foi provavelmente o cão mais meigo que alguma vez conheci... quem diria... um pit bull red nose! Não ligo às raças, embora aprecie algumas mais que outras. Sou contra as raças da moda (os criadores cruzam parentes próximos e os cães saem afectados... depois dizem que a raça X e Y é perigosa!). As pessoas deviam procurar os cães abandonados e deixarem que sejam estes a escolher o dono, em vez de gastarem fortunas em cães com pedigree. Pois foi mais ou menos o que fiz... Conclusão, pouco depois do Snoopy morrer, eis eu com duas rafeirosas bebes em casa! Já lá vão mais de 4 anos e cada dia que passa, mais me divirto com elas!

(A Kika e a Pituxa a fazerem-me companhia enquanto estudo.)

Sérgio

08 fevereiro 2006

Liberdade de Expressão, Munique e Cartoons...


Esta semana fui ver um dos filmes do momento: Munique.
Não tenho dúvida de se tratar de um excelente filme, embora me pareça um exagera a quantidade de nomeações para Óscares que acumulou... percebo muito pouco de cinema... no entanto, é perceptível uma excelente interpretação de Eric Bana, Geoffrey Rush, Michael Londsdale e Mathieu Amalric. Incrível ainda o enquadramento à época filmado em Roma, Paris e Atenas: o cuidado na escolha dos automóveis e do guarda-roupa merece nota máxima.
Quanto à história em si... pois... a minha ignorância não me permite avaliar ou sequer compreender os caminhos tortuosos do terrorismo religioso: israelitas, palestinianos e judeus... É sempre bom ficar a perceber um pouquinho mais, mas continuo ignorante e o fanatismo religioso mantêm-se incompreensível na minha mente.

Nesta mesma semana que tanto se tem falado sobre os cartoons dinamarqueses, sinto-me mesmo ignorante por não perceber o cerne da questão. Mas alguém viu Alá, Maomé ou Jesus Cristo? Tem a certeza absoluta que ele existe? E sabem como ele é? E garantem que disse aquele conjunto infindável de palavras, que supostamente devem representar valores de comportamento? É que eu não...

Entendo que a liberdade de expressão deve ser garantida. Entendo também que a nossa liberdade termina onde começa a dos outros... este é um dilema difícil de gerir... é o fio da navalha! Resta acrescentar, que quem não pensa como nós, pode ter opiniões diferentes sobre os factos, que para nós sendo importantes e para essas pessoas não, não necessariamente essas opiniões pretendem ofender, minimizar ou humilhar-nos. A isso chama-se liberdade de expressão. Opinião, cada um tem direito à sua e o dever de igualmente respeitar a dos outros. “Feitas as contas, fico com a minha e tu com a tua, e ambos vamos felizes para casa”.

Para desanuviar, deixo-vos 3 links sobre este assunto, que me parecem bem elucidativos sobre a temática religião/cartoons:

Da “Encandescente” (como não poderia deixar de ser)

http://eroticidades.blogspot.com/2006/02/propsito-de-deuses-cartoons-e.html

http://eroticidades.blogspot.com/2006/02/were-fucked.html

E do “Casado” (divinal este blog)

http://vidadecasado.blogspot.com/2006/02/curtas-da-vida-de-casado.html


Sérgio

07 fevereiro 2006

A Estância de Ski da Serra da Estrela.


Deixo-vos um link para um post sobre a suposta estância de ski que existe algures na Serra da Estrela, e que não é mais do que um bom exemplo do que não se deve fazer em termos de turismo e de investimentos, quando não há condições (gestores com visão de excelência e recursos humanos qualificados) de assegurar a qualidade do serviço final.
Perde-se assim a oportunidade de prestar um bom serviço, mostrando aos Portugueses e aos Estrangeiros que nos visitam, que temos excelentes condições, também, para o turismo de inverno. O que fica é uma má imagem para todos os que visitam a estância: falta de educação e profissionalismo; desperdicio de oportunidades simples e fáceis de brilharmos e supreendermos; não se divulgam os produtos tradicionais portugueses (o bar parece uma área de serviço de AE... onde estão o queijo da serra, o presunto, o vinho do DAO?); e em termos de hotelaria, o que há é fraco e caro... permanece a imagem do país pequenino... coitadinho... não pode fazer mais...

Odeio esta imagem. Prefiro morrer agora, do que ir morrendo... devagarinho...

http://ex-sitacoes.blogspot.com/2006/02/estncia-de-ski-da-serra-da-estrela-o.html#links

Sérgio

02 fevereiro 2006

Ray...



Caso ainda não tenham visto este filme, aconselho-vos seriamente a fazê-lo.

Em termos cinematográficos, destaque para a fotografia do filme. Ao longo de mais de duas horas somos brindados com imagens de eleição. Desde os momentos em que Ray recorda a sua infância, altura em que o realizador nos brinda com fantásticas imagens em sephia, mas com tons verdes, amarelos e castanhos carregados... divinal! Ao longo do filme há imagens cuidadosamente embelezadas pelo fumo do cigarro... um ambiente de extrase, sem dúvida.
A interpretação de Jamie Foxx é transcendente... por momentos leva-nos a pensar que é o próprio Ray Charles em performance ao vivo. Realmente o actor encarnou o personagem. O Óscar de Melhor Actor sabe a pouco para este interpretação.
Como sou um amante do som, este não podia passar ao largo. Não é à toa que o filme ganhou mais um Óscar: Melhor Mistura de Som (Scott Millan, Greg Orloff, Bob Beemer e Steve Cantamessa). Há alturas em que a imagem é secundária, tal é a virtuosidade do som. Qualidade de som, envolvencia... neste filme o som tem muitas cores. Toda a re-mistura foi pensada e tratada para encenar o ambiente que viveríamos, e o que ouviríamos, se estivéssemos no local onde o plano é filmado. Ora isto é especialmente fantástico quando o plano escolhido é o do próprio Ray Charles; ou seja, ao piano!


Aliás, todos os pormenores do filme foram cuidadosamente estudados. Só assim se conseguiu tratar a realidade de um personagem tão único, quanto complexo e muito especial. Repare-se que o filme tem uma equipa de direcção vasta (Taylor Hackford, James L. White, Stuart Benjamim, Howard Baldwin e Karen Baldwin) sem a qual seria impossível absorver e retratar tantos e tantos pormenores, tão distintos na vida deste génio musical.
A equipa é vasta e com um currículo notável. Visitem o site do filme; até este é tão soberbo quanto único.

http://www.raymovie.com/

O filme dá-nos a conhecer a história de Ray Charles. Mostra-nos especialmente, o lado “negro” deste homem: os traumas de infância, as dificuldades criadas pelo aparecimento da cegueira, a dificuldade e os erros que cometeu para ascender no mundo da música, drogas, bigamia, entre outros momentos menos felizes que todo o ser humano tem.
Mostra-nos também o que de melhor caracteriza esta força musical da natureza: o seu estilo próprio derivado da mistura de gospel, jazz, country music e do som sinfónico das orquestras; como aprendeu a tocar piano; como contrariou preconceitos da sociedade americana (o racismo, a deficiência visual como forma natural de exclusão social, e a própria interpretação misturada da música de Deus, o Gospel, com o profano jazz).
Ficamos a conhecer que a personalidade desta voz negra do jazz não era propriamente forte... até facilmente influenciável... e ficamos a conhecer a grande reviravolta da sua vida, a partir do momento que abandonou definitivamente o mundo da heroína e se tornou um cidadão do mundo (contribuinte assíduo nas causas de solidariedade mundiais).
Curiosamente o abandono das drogas não tirou a vitalidade, nem o virtuosismo musical. Fica bem patente que a música é uma dom natural daquele homem. A originalidade característica tem uma força brutal e sai-lhe pelos dedos e pela voz de forma imparável, vincada e incrivelmente melódica.


A mim, comum mortal, que tentou aprender piano e guitarra sem exito, resta-me admira-lo como uma entidade divina... Não sei qual é a vossa opinião, e independentemente do vosso gosto musical, não deixem de ver o filme: é impossível não ser seduzido por aquele som!

Sérgio

01 fevereiro 2006

Contra a Informação e a Favor do Humor!

Se há programa que faz dar gargalhadas escancaradas é o Contra-Informação.

Já sou fá destes bonecos há muitos anos. Se bem se lembram, este programa apareceu com a SIC (desculpem... CARNAXSIC) e tinha o nome de Cara Chapada. O programa era em tudo igual ao actual... os nomes dos bonecos eram diferentes (por exemplo, em vez de Acabado/Regressado Silva, tínhamos Casaco Silva) e tenho ideia de ser bem mais acutilante no humor praticado. Pode ser impressão minha... talvez pelo efeito novidade. Não me sai da memória um fantástico scatch publicitário inspirado no anúncio do Corneto da Olá, onde Casaco Silva cantava alegramente “...um subsídio para mim, um subsídio para ti...”, acompanhado do coro dos seus ministros de então, no refrão “...olá, olá... e a vida sorri!”. Isto na altura das “vacas gordas” e do 2.º Quadro Comunitário de Apoio, em que Cavaco Silva foi Primeiro Ministro durante quase 10 anos.

Um dos meus bonecos favoritos é mesmo o actual Regressado Silva. As feições duras e os gestos secos do personagem original, enquadram-se muito bem nas limitações do funcionamento expressivo do boneco.
Já quanto aos scatchs, os da publicidade conseguem levar as minhas gargalhadas aos expoente máximo. Na altura em que Durão Barroso se demite e Santana Lopes é Primeiro-Ministro, houve uns scatchs a uma suposta cerveja preta (Flopes Preta), onde num bar, Santana Flopes, Furão Barroso e Jorge Compaio contavam anedotas no seu melhor humor negro, sobre um país plantado na ponta ocidental da Europa.

Se os bonecos são sensacionais, é de louvar mais ainda a forma como são vestidos nos mais diversos contextos. A imitação das vozes é divina. A forma como a equipa técnica aproveita as situações mais quotidianas para nos fazer rir é quase inimaginável. Muito perspicaz por parte da equipa da Mandala também a captação dos pequenos tiques, gestos e expressões peculiares de cada personagem, e que são tão bem convertidas nos bonecos.

Mas o que mais me tem surpreendido é a capacidade de utilizar músicas de todos nós conhecidas e colocar os bonecos a canta-las, com letras inspiradas quer na letra original, quer nas situações quotidianas que originam estes episódios de contra-informação. Nunca irei esquecer a performance de Manuela Azedó Leite num tema de Nina Simone!

Considero que esta equipa é a nata do humor Português, mas não me parece devidamente reconhecida nem valorizada.
Adorava ter uns bons DVD’s deles para ver nos dias em que fico em casa enrolado no sofá... não são muitos, mas valia a pena!

Sérgio