06 dezembro 2005

Manuel Alegre - O Candidato.


Ontem tive a oportunidade de assistir ao primeiro debate entre os candidatos a Presidente da República, que opôs Manuel Alegre a Cavaco Silva.
Manuel Alegre não era mais, para mim, do que um bom escritor e poeta. Razão pela qual nunca o imaginei candidato a um lugar de grande relevo na cena política. Pela mesma razão, não valorizei a sua candidatura a PR e até entendi que tivesse sido relegado para segundo plano pelo PS (o que não entendi foi a opção desactualizada que Mário Soares constitui).
Já Cavaco Silva, é alguém que todos conhecemos muito bem quanto ao seu carácter, personalidade, competência, rigor e experiência. Era para mim este o candidato a eleger; pois reúne um conjunto de características que mais nenhum outro candidato conseguia. Era para mim um mal menor, pois não sou adepto de políticas previligiadamente fiscais tão defendidas pelo próprio e por Manuela Ferreira Leite, para os quais um déficit só pode ser reduzido por aumento da carga fiscal e diminuição da despesa pública (política que alías, o governo de José Sócrates tem dado continuidade apesar de ter prometido o contrário... mas é mais fácil e não exige pessoas competentes). E este é para mim o maior entrave a eleger Cavaco Silva: sabemos que pela sua personalidade, fará fortes pressões (e bloqueios!) para que o Governo prossiga com esta perspectiva demasiado economicista e keynesiana de encarar a crise que o país atravessa. Só que todos nós (mesmo não sendo especialistas) sabemos que cortar despesas implica necessariamente cortar receitas (algumas significativas); sabemos ainda que aumentar impostos aumenta a tendência de fuga aos mesmos. Somos cidadão informados (?!) e sabemos que numa economia capitalista cada vez mais competitiva, a única fuga possivel é para a frente... todas as outras opções implicam morte lenta. Parece-me óbvio, olhando para os outros países e para a nossa hístória económica que o caminho é no sentido oposto: diminuição da carga fiscal para um nível que a fuga ao imposto deixe de ser compensador (pequenas diminuições nas taxas, disparam acréscimos das receitas fiscais); investimento e incremento da despesa publica no sentido de exponenciar o rendimento nacional. É claro que estas medidas trazem o aumento significativo do deficit a curto-prazo; também é claro que o caminho actual implica perda de competitividade acelerada e crítica a médio/longo-prazo... pois... mas os mandatos dos governos são só a 4 anos...
Neste contexto, foi com muita satisfação e surpresa que ontem vi um candidato realmente válido. Educado, elegante, correcto, conciso, pragmático e extremamente bem informado. Manuel Alegre, candidato a PR, descolou da figura do poeta de ideias enevoadas... e deu 10 a zero a Cavaco Silva. Fez opor ideias de progresso, investimento e motivação económica às habituais ideias de contenção, sacrifício do poder de compra e retracção; fez prevalecer pessoas sobre números; acreditou num país válido em prol de negócios fiscalmente válidos. Mostrou uma mente aberta e um discurso concreto, por oposição a ideias pré-concebidas e um discurso vago.
Provavelmente a minha decisão de voto final será a de Manuel Alegre... Quanto aos outros candidatos?... Não me parece que representem opções... Sobre Mário Soares já me pronunciei. Francisco Louçã é o dono da razão em todo e qualquer assunto; representa uma minoria esclarecida sobre a generalidade da população ignorante; logo, nem deveria ter lugar num sistema democrático. Jerónimo de Sousa é alguém apagado por ideias que já há muito morreram... Gárcia Pereira é um intelectual respeitável, mas parece-me que a sua ideologia padece de rejuvenismento... terei de assistir aos seus debates e saber mais sobre as suas propostas actuais; mas a sua candidatura tem-se mostrado apagada e não tem grande acolhimento perante a opinião pública.
Sérgio

8 comentários:

CARMO disse...

E por que não apareceres por lá?! Continua vivo e melhor que nunca; acredita porque sou sócio fundador.
Um abraço!

Anónimo disse...

Ei pá, ó Carmo, pá! Agora é que lixaste tudo, pá!

Anónimo disse...

Um dia hás-de perceber o sinónimo de forças do bloqueio...

Anónimo disse...

Não posso mais
Viver assim
O Manuel Alegre
eu apoio até ao fim!

Anónimo disse...

... e assim se constroi uma nação ...

tneves disse...

Caros carmo e solariso...
vim cá parar através do solariso... e só continuei a leitura pelo simbolo da CPAM... os anos passam mas não apagam os bons velhos tempos que lá vivi(emos)!!
foram 10 anos de vivências que deixaram muitas recordações e amizades. ao inicio eramos miudos que só queriamos brincar, mas o espirito das artes marciais foi entrando em nós e sei que ainda hoje tem influência em vários aspectos da minha personalidade.
aproveito a ocasião para deixar um grande abraço ao nosso mestre Humberto.
Tiago

p.s. gostei muito do post "Elegância no Comportamento"

CARMO disse...

O post "Elegância no Comportamento" é fortemente inspirado naquilo que todos aprendemos a ser,e a ver, no CPAM.

Anónimo disse...

Desculpem este comentário tardio mas, depois do que li, queria deixar aqui a minha opinião em poucas linhas.

10 a zero? Não vamos ser tão tendenciosos. É verdade que MA surpreendeu pelos conhecimentos demonstrados e por algumas ideias apresentadas mas, mesmos assim, ficando a anos luz de CS em todos os domínios.

OK. Posso estar a exagerar um pouco mas a verdade é que não são sequer comparáveis.

E não estou a falar de cores políticas pois não foi isso que me fez escrever estes paraágrafos. Estou a falar dos homens, da sua competência e dos seus conhecimentos para o cargo a que se candidatam.

FR