28 outubro 2005

Guerra Norte-Sul.


Segue em baixo um artigo de opinião sobre as diferenças entre lisboetas e portuenses. Mais importante do isso, a diferente percepção que o poder político e a opinião pública em geral têm dos desaires que ocorrem em cada uma das cidades.
Por outras palavras, o que em Lisboa passa despercebido, no Porto ganha auras de escândalo intolerável.
Não sou fanático, bairrista, ferrenho, nem tomo "partidos cegos" de causa alguma. Para tudo há uma justa medida e bom-senso. Porto e Lisboa são duas cidades fantásticas e em todos os lados há pessoas boas e más. Este texto revela exactamente a minha opinião sobre a polémica "Capital e Arredores"; acrescento ainda a falta de bom-senso de alguns Nortenhos, que quando atingem o poder, assumem o dom de "justiceiros", pretendendo fazer piores injustiças que todos os Lisboetas, que tanto criticamos, fizeram durante anos e anos. As causas ganham-se fazendo aquilo que de mais correcto achamos ser e não fazendo pior que os outros para compensar o mal feito.

Sérgio

Lisboa a Arder

«As cidades são diferentes, mas ainda mais diferentes são as pessoas que as habitam.
AMO o Porto, mas esta paixão deixa-me espaço para gostar muito de Lisboa. Depois de um fim de tarde no miradouro da Graça, ninguém no seu perfeitojuízo pode negar que Lisboa é uma das mais belas cidades do mundo.
São cidades diferentes. É fácil gostar de Lisboa logo à primeira vista. O Porto tem de se aprender a gostar.
As cidades são diferentes, mas ainda mais diferentes são as pessoas que as habitam. No Premier, o «health club» que frequentava no Porto, quem chega solta um sonoro bom dia, logo correspondido pelos que lá estão. As pessoas circulam nuas pelo balneário e conversam umas com as outras, sobre tudo e nada - a bola, a bolsa, os casos do dia. Toda a gente se conhece pelo nome e profissão. Ficámos todos satisfeitos e orgulhosos quando a recepcionista Conceição acabou o curso de Direito.
Trouxe para Lisboa as maneiras do Porto, mas tive de me adaptar, porque não gosto de dar nas vistas - prefiro disfarçar-me na paisagem. Deixei de dar os bons-dias à chegada ao Holmes Place, porque me fartei deles fazerem ricochete nos armários - ninguém mos devolvia. E para evitar olhares desaprovadores ando pelo balneário com a toalha enrolada à cintura.
Gosto muito de Lisboa mas não gosto de algumas pessoas que a habitam. Não gosto das pessoas que mal sabem que sou do Porto desatam a tentar imitar de uma forma grotesca a pronuncia do Norte, entremeando uns caragos com ditongos ditos à moda galaico-portuguesa. Abomino a ignorância dos que se julgam sem sotaque e tomam a sua adocicada e arredondada pronúncia lisboeta como o cânone da língua, que deve parte da sua riqueza às diferentes maneiras como é falada nas mais variadas latitudes e longitudes. Gosto muito de Lisboa mas não gosto de alguns políticos que a habitam. Não gosto de um Jorge Sampaio, cujas regras de educação lhe permitiram usar o discurso de inauguração da Casa da Música, para criticar os «atrasos da obra» e a «derrapagem dos custos». Não me lembro de alguém ter criticado os «atrasos na obra» e a «derrapagem dos custos» nos discursos de inauguração do magnífico Centro Cultural de Belém ou da fantástica Expo-98. Não gosto de um ministro Mário Lino, cujo código de boas maneiras lhe permitiu usar o discurso de inauguração de uma nova linha do Metro do Porto para ameaçar congelar a expansão da rede, devido aos «atrasos na obra» e à «derrapagem dos custos». Não me lembro de alguém ter ameaçado congelar a expansão do Metro de Lisboa na sequência dos escandalosos «atrasos na obra» do Metro no Terreiro do Paço ou da enorme «derrapagem nos custos» da estação Baixa/Chiado. Não gosto de um ministro Manuel Pinho, cujos princípios éticos são largos ao ponto de abençoar um PRIME, que habilmente permite o uso de fundos comunitários em Lisboa, a mais rica de todas as regiões ibéricas (o Porto está em 27.º lugar), de acordo com a UE.
É por causa de atitudes como estas que Portugal continua a parecer um bilhar que descai sempre para um só buraco - a capital. O grito de raiva «Nós só queremos Lisboa a arder» é a expressão (grosseira) da revolta de quem se sente discriminado.
A única vacina eficaz contra esta raiva é corrigir as assimetrias que desequilibram o país.»

Jorge Fiel, in Expresso, caderno Economia & Internacional, 13-08-2005

8 comentários:

Filipe Carmo disse...

Já tenho dito várias vezes...
A rivalidade que existe em relação a Lisboa, deve-se ao seu incentivo por diversas entidades.
Desde os clubes de futebol, a grupos empresarias e, sem dúvida, muito dos Governos/Políticos.
Achei apenas o texto um pouco tendencioso... no sentido que acho que se goza muito mais com o "mouro" no Porto, do que com os "caragos" em Lisboa!

CARMO disse...

Poisch... é escrito pr'um home do nuorte carago!

António Conceição disse...

Vivo no Porto há quase quarenta anos (desde os oito). Nunca ouvi ninguém do Porto, absolutamente ninguém, dizer "carago". O que nós dizemos com frequência (porventura demasiada) é "caralho". Mas, de um modo geral, os lisboetas não têm coragem de nos pôr o "caralho" na boca. E então dizem que nós dizemos "carago". É um eufemismo.
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Não sei bem se o seu post é tendencioso ou não. Sei que, no passado, os momentos grandes da nação coincidiram sempre com momentos em que o Porto e Lisboa estiveram juntos numa causa comum.
O pseudo-bairrismo lorpa e parolo de certos dirigentes que não vêem mais vida para além do jogo de futebol é prejudicial ao Porto. É prejudicial ao país. Desgraçadamente, uma certa classe empresarial hoje dominante no Norte aderiu ao tal bairrismo lorpa e futebolês. E em vez de ter a coragem de fazer, como sempre tiveram os burgueses da invicta, passa a vida com queixinhas e choradeiras contra Lisboa.
Lisboa sofre do pecado abominável do centralismo. Os primeiros a sofrer com ele são os lisboetas.

Trouble disse...

Dada a minha costela paternal fui educada q mouros era uma especie prepotente q gasta o $ do nosso trabalho; dp do Rio Douro, nada bom!
No inconsciente sentia-me atraida, ou n fossem os choques de geracao excelentes para se galgarem caminhos q ninguem antes ousaria passar... e acabei por viver quase 1 ano por la... a chegada tds as 6f pela Ponte sobre o Douro era uma sensacao indiscritivel!
O melhor foi q fiquei a sentir-me orgulhosa por viver no pais cuja capital tem a mais bela "Luz Natural" e por viver numa cidade q nos da um abraco qdo chegamos. Aprendi a gostar mto mais das 2 cidades, precisa/ pelas diferencas, ainda bem q sem sair do meu pais, posso viver em 2 sitios tao diferentes e tao iguais!
E aprendi q o Porto n seria o mm se fosse a capital do pais e vice versa... n quero q a aldeia se transforme na cidade, pq sp q me apetecer vou respirar o ar do interior, o mm espero para o Porto e Lisboa!
nb: sr.carmo desculpe a ousadia mas n resisti a espreitar o seu blog e dp mais tarde comentar

Trouble disse...

Peco desc nova/ pela ousadia, logo eu q n percebo nada de futebois, mas sou FCP 18 mil e pouco sem ir ao estadio... nunca vibrei tanto como nos jogos da seleccao no Verao passado... e q orgulho tive qdo vi estrangeiros c a nossa bandeira a chorarem e a vibrarem com os golos da nossa seleccao... ouvi caragos, ouvi Bues, encarnados... mas o q interessava era apenas ver os Tuggas em grande, mm sem ganharem q isso sim, foi uma licao p o pais!! Apoiar os nossos conterraneos na vitoria e na derrota!
bjs a todos os bloggers e comentadores portugueses!

CARMO disse...

Caro Funes, não podia estar mais de acordo.

CARMO disse...

Miss Trouble é um prazer vê-la (ou Lê-la) por estas paragens. Seja bem vinda e volte sempre! Obrigado pelos 2 brilhantes comentários.

Dylan disse...

Penso que os dirigentes desportivos têm grande responsabilidade ao acender o rastilho do ódio norte/sul. Veja-se o caso da figurinha Pinto da Costa. E para quê? Num país tão pequeno e com graves problemas de desigualdades no interior. Só o Porto é que é prejudicado?