31 março 2006

Zell Am See - 4.º Dia.

Ao terceiro dia que acordamos para esquiar, o vicio de nos encontramo-nos ao pequeno-almoço e imediatamente sermos envolvidos num ambiente de “festa”, começa a apoderar-se de nós. Motivação alias muito útil, visto que com o desenrolar das férias, ficamos com a sensação que as noites se tornam cada vez mais curtas!

Já de pequeno-almoço tomado e a caminho das pistas, discute-se a classificação no ranking. Estas picardias saudáveis espantam qualquer réstia de sono que ainda permaneça... sim, nem o frio nos acorda! Aliás, qual frio?! Já ninguém liga a isso... ou melhor, alguém liga! Pronto, uma minoria...

Deslocamo-nos para a zona de Zell Am See. O tempo estava meio encoberto, mas com o sol sempre a espreitar. A temperatura era boa, a visibilidade razoável.

(Pausa para o café a meio da manhã. A ORG, um casal encantador, que organizou umas férias não menos encantadoras para nós todos! Obrigado Ângela e Manel!)

Aqui as pistas têm um encanto especial... provavelmente dado pela enorme quantidade de árvores que delimita as pistas, algumas bem estreitas e outras bastante inclinadas (como todos nós gostamos... ehehehe!). Acima de tudo, a estância transmite encanto... magia, até!

(De manhã o tempo esteve mais encoberto do que de tarde; aqui a formação está em reagrupamento para continuar a descida.)

O dia correu, infelizmente, muito depressa... Fizemos pistas incríveis, experimentamos foras-de-pista no meio de árvores, onde só passa um de cada vez e não há espaço para travar (há sempre umas árvores... mas... não interessa).

(Uma descida fabulástica avizinha-se!)

(Lá ao fundo, o reflexo do Sol no imenso lago gelado.)

Como estávamos perto dos roockies, cruzamo-nos várias vezes com eles. Volta e meia, passávamos por uma zona menos inclinada, mas com neve de qualidade surpreendente, onde sabíamos que eles estavam a esquiar.

(Esta descida foi marcada por algum congestionamento na pista... com direito a colisões e tudo!)

(O único snowboarder do grupo... Nuno, por vezes tive cá umas saudades da minha prancha!)

Ao fim do dia, todos juntos nas pistas, resolvemos submeter os roockies a um teste de destreza e coragem. Estes fantásticos esquiadores desceram connosco uma interminável pista vermelha, que nos conduz até à rua do hotel. Não é pêra doce esta pista: é muito inclinada, tem partes geladas e ao fim do dia, há bossas enormes por todo o lado; se não fosse tão larga, seria classificada como negra. Entre tombos e gargalhadas lá vieram eles, sempre com cara de “...estes gajos metem-nos em cada uma...”, mas até se saíram bem... Presumo que tivessem ficado de rastos no que toca a músculos e joelhos, mas quando chegaram ao fim, reconheceram que até gostaram e que de facto era impressionante olhar lá para cima e pensar que tinham vindo a esquiar por lá, tal é a inclinação. É claro que nesta altura já tinham uma cerveja na mão... Mas fizeram ver outros mais experientes que desceram de teleférico... CORTÕES! Tiraram-se ainda bastantes fotografias para comemorar (pena não ter nenhuma!); houve até quem fizesse telefonemas... Havia também quem estivesse sempre ao telefone... mesmo no meio das pistas!

Entre peripécias e episódios cómicos, que começaram na piscina, continuaram no “mit turken” e terminaram ao jantar com muita gargalhada à mistura, a comitiva resolveu deslocar-se a um bar relativamente perto do hotel. O resultado mais uma vez foi espantoso... mas as fotografias falam por si!

(Efeitos psicadélicos.)

(Mãos encantadas por ritmos latinos... sim, na Áustria!)


Sérgio

29 março 2006

Zell Am See - 3.º Dia.

O dia começou animado com a notícia de que estava sol no glaciar de Kaprun. Havia também muita curiosidade em conhecer esta parte da estância, devido à sua elevada altitude (mais de 3000 m) e às imagens que tínhamos visto no site. Neste dia a temperatura estava um bocadinho melhor: -17ºC! Mas havia pouco vento.

Depois de um pequeno-almoço substancial, lá fomos nós para a paragem do autocarro (o glaciar não tem acesso por meios mecânicos a partir de Zell Am See... pena...). Chegados lá, há que efectuar uma subida de teleférico (sinonimo de cantar o hino nacional); a vista é impressionante!

Finalmente com os skis nos pés, a neve é promissora. As pistas parecem fáceis: são largas e a inclinação não é muita... há que arranjar uns fora-de-pista para animar a coisa... e uns saltos...

(Apetecível no mínimo!)

Comecei bem o dia... ao saltar a divisória de um teleski, os skis prenderam no gelo e fui cuspido, aterrando de cara no chão 3 metros à frente... grande gargalhada de quem subia no teleski! E minha também... Era o 2.º tombo com os skis novos; já no 1.º dia tive um salto imprevisto numa lomba mal avaliada e aterrei de rabo no chão.

Esquiar com sol é muito mais animado. O sol tem esse efeito em nós! A visibilidade é perfeita e o calor que nos envolve o rosto dá-nos outra disposição. Mesmo assim quando há vento, o frio continua a atingirmo-nos... Mas o frio no ski resume-se à cabeça: nada que um gorro e uma gola não possam resolver. Já quando nos atinge as mãos ou os pés é mais complicado...

(Por detrás da ORG espreitam foras-de-pista deliciosos... foram o meu prato favorito em Kaprun.)

Tudo bem disposto e a esquiar a grande velocidade. Os roockies não nos acompanharam ainda neste dia, tendo ficado nas aulas em Zell Am See. O grupo hoje esquiava praticamente todo, o que tornou o dia ainda mais animado que o anterior; e só se separava, momentaneamente, quando as pistas proporcionavam momentos impares de ski, a que nem todos se querem aventurar!

(A pausa para almoço é sempre relaxante e animada!)

A paisagem de Kaprun é árida, mas impressionante pela imensidão do branco... é de ficar estarrecido só de olhar. Os níveis de adrenalina acompanham os valores da altitude: as pistas têm poucas pessoas e permitem esquiar descontraidamente; há muitos foras de pista para fazer; várias pistas com obstáculos, lombas, saltos e pista de slalon!

(Muito espaço para cada um empreender o tipo de descida que lhe apetece.)

(Em Kaprun a paisagem é sempre impressionante!)

(A formação preparava-se para uma nova descida.)

O dia foi alucinante! Ski de manhã à noite. Os meus skis novos mostraram-se surpreendentes e permitiam esquiar a velocidades elevadas com grande descontracção nas pistas, além de demonstraram uma excelente agilidade, mesmo atolados em neve fofa nos fora-de-pista.

(O Bono enveredava um penteado, moldado pelo vento, digno dos anos 80!).

(Um esquiador a alta velocidade e apenas no seu 2.º ano da modalidade; é claro que os meus skis do ano passado, campeões em título, a isso ajudam!)

Regresso ao hotel de autocarro com direito a hino nacional e explicação aos austríacos e alemães da nossa nacionalidade angolana! De seguida, incursão na piscina e banho turco. Tivemos oportunidade de nos cruzar com um sósia do Mister Scolari, que habitualmente se apresentava nu... quer no banho turco, quer cá fora! O homem ouviu tantas vezes a palavra Scolari, que no último dia acabou por nos perguntar porquê! Gargalhada e muito galhofa... o “exibicionista” até era simpático!

Um particularidade dos europeus “centrais” é fazerem sauna nus. Nus mesmo... nem uma toalha... Sem querer parecer pudico, porque não sou, mete-me um bocado de confusão por questões de higiene... é que ao menos podiam levar a toalha para dentro da sauna/banho turco e coloca-la onde se sentam... Mas não. É claro que nós, Portugueses, não o fizemos nus... pelo menos aparentemente... mantivemo-nos enrolados em toalhas. É claro também, que os “nus” comentavam entre eles o facto de estarmos de calções ou enrolados em toalhas.
Este assunto deu origem a muitos comentários; não teria problema nenhum em fazer sauna nu (mas sentado em cima da toalha!), caso não estivesse na presença de pessoas amigas (e vice-versa)... mas não consigo vencer o preconceito de me por nu à frente da mulher de um amigo meu! O contrário também seria complicado de enfrentar... O mesmo se aplica ás minhas amigas solteiras; não é concebível para a nossa mentalidade encarar a nudez de quem nos é conhecido... no entanto se não for, tudo bem! É muito estranho...
Mas pelos vistos para os nossos congéneres da Europa Central não é... e toda a gente se cruza nua: família, casais amigos, etc. Conclusão, ou sou muito retrógrado, ou o sentido de sociedade mais evoluída é assexuado...

O jantar é sempre um momento alto do dia; estamos todos juntos (os 26). As refeições do Hotel Latini foram sempre muito boas, na sua maioria buffets de excelente qualidade. O tema “Nus no Turco” (mais tarde abreviado como “mit turken”) alimentou bastante a conversa e a galhofa. Tivemos ainda direito a uma apresentação de toda a equipa do hotel com popa e circunstância, música épica a acompanhar, seguida de um discurso em “austríaco”, que percebemos perfeitamente (!!!). Como não poderia deixar de ser, a nossa mesa brindou os simpáticos empregados com fortes aplausos e com a “onda”, por várias vezes!

(Os cisnes dormem sem qualquer resguardo no lago gelado.)

(A comitiva Portuguesa em visita à vila.)

(Momento efusivo: Eu, estou aqui... by BCP ou BPI?! Quem OPA quem afinal?!)

Mas o melhor estava para vir. Quando regressávamos ao hotel, tínhamos combinado depois de jantar, arranjar uns táxis que nos levassem ao centro da vila de Zell Am See; isto porque estávamos relativamente afastados e queríamos conhecer o local e beber uns canecos para fazer a digestão. Entramos num bar e invadimos a pista de imediato, ao som de Madonna e do sampler dos Abba (que nos acompanhou as férias todas). Daí para a frente, a loucura apoderou-se de nós e terminamos a noite com as outras pessoas que estavam no bar a dançaram no meio de nós. Pelo meio houve ainda episódios cómicos, comboinhos pelo bar dentro e personagens caricatos.

(Loucura na pista de dança, perante um DJ apático... austríaco...)

(Estes holandeses faziam snowboard com estes chapéus e camisolas.)

Tivemos de regressar à meia noite, pois assim o tínhamos combinado com os taxistas. Chegados ao hotel já a sermos vencidos pelo sono; era urgente descansar... o dia seguinte ia ter muito se lhe diga... afinal, tem sempre!

Sérgio

27 março 2006

Zell Am See - 2.º Dia.

Bem cedinho, 7 da manhã, acordei e a vista da janela do meu quarto era elucidativa... estava no paraíso e ali ia ficar mais 6 dias!

Apesar de ter dormido rápido, a adrenalina apodera-se de mim e salto da cama. Despertei os meus colegas de quarto, fui tomar pequeno-almoço e empurrei tudo e todos para a rua.
O 1.º dia de ski é sempre complicado: quem não tem material tem de o alugar, o hotel tratou de nos comprar os forfaits (o que nos poupou muito tempo) e os roockies têm de marcar aulas e serem ambientados pelos mais velhos... em abono da verdade, ninguém imagina o que nos espera...
Esta logística é crítica, especialmente num grupo de 26 pessoas como nós éramos este ano. Mas correu tudo muito bem e começamos a esquiar até bem cedo.
Fruto desta logística, acabamos por não esquiar todos juntos: havia que dar assistência aos roockies e alguns elementos do grupo acabaram por sair antes da maioria, não os tendo encontrado mais. Outros ainda, vieram mais tarde (preguiçosos!).

(Chegada ao centro de Schudoff onde havia um kindergarden, algumas lojas e bares, e os meios mecânicos que nos levavam para o topo da montanha)

O dia esteve encoberto e frio de manhã. Quando acordei estavam -19ºC nas pistas. Havia vento e isso sim, complica. Da parte da tarde o tempo melhorou. O Sol deu mais de si, o que melhora a visibilidade, embora o vento se mantivesse.
A neve estava esplêndida! E se de manhã estava totalmente inadaptado aos skis novos (15 cms mais curtos), da parte da tarde comecei a gostar da maior agilidade e maior estabilidade em terreno acidentado, embora me faltasse apoio na frente e sentisse saudades da estabilidade a alta velocidade de um autentico TGV, que os skis antigos eram.

(Lá em baixo, o lago gelado de Zell Am See: é habitual ter pessoas a patinarem em cima dele, entre outras actividades)

(Aqui estão alguns dos "duros do asfalto" todos enrolados em gorros e roupa por causa do frio)

Estávamos deslumbrados com a beleza da estância em Zell Am See. Muitas árvores, o lago gelado lá em baixo, bares pitorescos em madeira. Um ambiente único e difícil de descrever... quem já esquiou na Áustria sabe o que eu quero dizer e que não se sente noutros locais (nem nas melhores e maiores estâncias francesas).

(Este simpático esquilo dáva-nos as boas vindas à entrada de um bar, no meio da montanha)

Os austríacos estão longe de serem simpáticos: são fechados, austeros e rudes (grunhos!). Na maioria dos casos não falam inglês, o que nos dificulta, por exemplo, pedir o que queremos almoçar. Não é uma questão de não se esforçarem por nos entender (como os franceses); não falam inglês e não são muito adeptos do sorriso... Por incrível que pareça, dentro dos hotéis, nunca conheci ninguém tão simpático e prestável.

(Duas perspectivas da vila e do lago, depois de descermos novamente ao soupé da montanha)


Logo no 1.º dia tivemos um confronto pouco agradável com um instrutor de ski austríaco, quando um dos meus amigos esquiava, muito lentamente, de costas e não o viu parado no meio da pista (logo à partida mau exemplo...). O imbecil do instrutor não avisou que ele estava a dirigir-se para ele e permitiu o embate. Os dois no chão, o meu amigo levantou-se e pediu-lhe desculpa; já quando vinha embora, verificou que tinha saltado um bocado de plástico dos skis do instrutor e foi entregar-lhe. O grunho começou a fazer um escândalo e queria que lhe pagasse uns skis novos de 1.000 €. O meu amigo ofereceu-se para pagar a reparação e quando lhe mostrou a identificação, este tentou apoderar-se dela. De imediato saltamos (quase) todos em volta dele... é claro que devolveu o BI, mas primeiro confirmou com o nosso hotel que estávamos lá hospedados. Felizmente nem se dignou a aparecer; um instrutor tem sempre seguro e pode reparar os skis (melhor que ninguém) a preços simbólicos; estávamos dispostos a apresentar queixa por ele se ter tentado aproveitar da situação. É claro que este episódio deu galhofa a semana inteira!

(O Bono veio esquiar connosco, aliás era da ORG! Também temos uma fotógrafa sempre de serviço)

Ao fim do dia, tempo para uns canecos e ouvir as proezas de cada um durante o dia; principalmente sobre a (in)adaptação dos roockies! Passagem ainda pela piscina e banho turco para relaxar os músculos.

Jantar muito bom e animado, com direito a cocktail de boas vindas. Neste 1.º dia de ski (efectivo), não houve muitas saídas à noite. Apenas um passeio para descongestionar e muita conversa e gargalhada no bar do hotel.

Não nos deitamos tarde; no dia seguinte combinamos subir ao glaciar de Kaprun... todos juntos (com excepção dos roockies, que ficaram nas aulas).

Sérgio

23 março 2006

Zell Am See - 1.º Dia.

Quando na 6.ª à noite fazia a mala e preparava os skis para mais uma “prova”, reparo que as fixações estavam soltas dos skis... nem queria acreditar... Fui a correr para a SPORTZONE, onde um simpático e muito profissional empregado me atendeu muito bem e reparou os estragos o melhor que pôde... as fixações estavam mesmo partidas e mesmo com furacões novas não ofereciam grande resistência para quem gosta de levar o material (e não só) ao limite. Aconselhou-me a andar devagar... ou a comprar uns skis novos! Entre comprar na Áustria ou convencer o gerente a antecipar os saldos, acabei por vir para casa com uns skis novos a metade do preço.

Perante isto, pela primeira vez comecei a sentir a habitual adrenalina de férias de ski, que se não fosse a m**** do curso de ROC, já deveria estar a sentir há muitas semanas...
Totalmente histérico com a aquisição de uns skis topo de gama, fui a Espinho ter com o Pedro e a Magna. Encontrei ainda o Álvaro e o Alex (que salvou o meu carro de ser rebocado!), bebi uma cerveja, ri-me muito com eles e vim para casa a velocidades que a BT gostaria de ter detectado, mas muito mais bem disposto. Havia que dormir depressa, porque ao outro dia a festa começava cedo.

Cheguei a Pedras Rubras cedo para aproveitar uma boleia do meu Pai e durante uma hora li “As Alforrecas da Vida”, até que começaram a chegar os primeiros companheiros da loucura que foram estas férias. E com eles as inevitáveis gargalhadas.

Os voos cumpriram os horários e para variar, a Teresa e a Nelinha não constavam das listagens de embarque. Como sempre tudo se resolveu da melhor forma e rapidamente e todos a bordo lá fomos Porto – Palma de Maiorca – Salzburgo. Segui-se uma horita e meia de transfer até ao Hotel Latini em Zell Am See. Todos os motivos e alturas serviam para fazer piadas. A animação era geral. Tempo ainda para conversar com algumas pessoas que pouco conhecia.

Durante o dia o ambiente revelou imediatamente que as férias iam ser excepcionais, mesmo que alguma coisa corresse mal. Mas não correu! E foram mesmo divinais.

Em Palma de Maiorca o tempo estava bom e houve logo quem começasse a suspirar com praia no regresso... só para meter inveja, porque iam lá ficar mais dois dias, enquanto os outros tinham de regressar ao trabalho.

Em Salzburgo nevava e a adrenalina disparou imediatamente. Chegados ao hotel, encontramos um hotel muito confortável e acolhedor. Os empregados eram atenciosos e simpáticos, contrastando com a generalidade dos austríacos (grunhen). Tínhamos um jantar à nossa espera: muito bom por sinal!

Os outros dias foram pejados de emoções e recordações. Vou relata-los aqui, em género de diário de bordo, dia a dia.

O primeiro dia terminou com uma ida à discoteca do hotel (Sunrise Disco... neste sitio deve ser por ironia!), onde havia uma noite de house... a disco era engraçada, mas a música naquela noite intragável... estão a ver o sentido musical de um dj austríaco?! Ainda por cima a quer passar house?! Fomos todos para a cama cedo... até porque o dia seguinte prometia...

Sérgio

10 março 2006

Vou de Férias!

Amanhã vou de férias!

Mas não para umas férias quaisquer... não... são as férias mais desejadas e ansiadas do ano inteiro: a semana de neve!

Todos os anos, com um grupo de amigos, faço (pelo menos) uma semana de ski num destino diferente. Comecei por faze-lo com mais 3 pessoas nos 2 primeiros anos (1997 foi o ano da minha iniciação/paixão/obsessão pelo ski, em Pás de la Casa - Andorra); depois o grupo aumentou e foi-se alterando... Este ano já somos 26, embora haja um núcleo duro que se mantêm desde 2001 (aproximadamente 10), ano em que a coisa se “oficializou” em Sierra Nevada, sem dúvida, as férias de ski mais loucas de sempre! Nem me lembro de dormir... Já estivemos em sítios soberbos, indescritíveis... os nossos sentidos captaram sensações fantásticas e únicas... diria mesmo, privilegiadas... a um nível que poucos de nós algum dia atingirão.

Por vezes a adrenalina atinge patamares incríveis e inigualáveis... mas a paz interior e a admiração pelo momento também. Nem tudo é físico e desporto... mas o ano passado perdi 5 kg... nem todos somos esquiadores de qualidade (até porque praticamos pouco mais que uma semana por ano). A sensação de liberdade, de deslizar na neve branca e infindável, o silencio apenas quebrado pelos ski na neve, o calor envolvente do sol, a enormidade magistral e imponente da natureza... Os momentos descanso (curtos) nas esplanadas, os copos ao fim da tarde e à noite, os jantares... pontos altos de convívio. Tudo é memorável e deixa muitas saudades para a posteridade...

Muitos destinos já conhecemos, muitas coisas aconteceram e muitas histórias há para contar... Os 6 dias de ski mais os 2 de viagem são intensos quanto a acontecimentos memoráveis e hilariantes (costumo chegar ao fim da semana com dores nos abdominais de tanto rir...), mas também quanto a emoções e sentimentos... afinal vivemos muitas coisas numa convivência muito apertada, quase ao estilo big brother by TVI. Não falo só do muito ski que fazemos (6 dias, desde o 1.º minuto de abertura das pistas, ao último antes do fecho, com paragens breves para café e almoço). Falo também da amizade que se aprofunda, das afinidades que se descobrem, do companheirismo e da intimidade que se constrói. Não tenhamos dúvidas que podiam ser umas férias duras e frias, caso não houvesse tanto aconchego humano, o que nos dá a todos uma sensação de segurança difícil de igualar noutro contexto.

Estas férias são sempre antecedidas de muitos emails, muita especulação, muitos sonhos e fantasias... cria-se um ambiente de efusão quase tão inesquecível como as próprias férias. Por exemplo, o ano passado resolvermos fazer uns fatos de treino com as cores de Portugal e simular uma Selecção Nacional de Ski em estágio. Mesmo a calhar para um destino chauvinista francês: Les Menuires no Trois Vallées.

Da mesma forma, são precedidas de jantares e encontros para troca de fotografias, visualização de filmes e muitas, muitas gargalhadas.

Mas o facto mais interessante que constato, é que sempre que nos encontramos depois de uma semana destas, o impacto saudosista é maior... é como se olhássemos nos olhos uns dos outros e revíssemos as autênticas loucuras que vivemos... Mais amigos, sem dúvida... mas é mais do que isso: acho que nos tornamos uma família muito intima e com muitas histórias para contar... É muito bom sentir isto e entristece-me sempre que algum de nós de afasta deste circulo privilegiado e íntimo.

Mas este não era o propósito do post de hoje. Este ano tenho tido muito trabalho e estou cansado de estudar. Tenho um exame dia 10 de Abril, já estou a estudar há mais de um mês e a matéria a analisar não termina... Isto está-me a criar um peso de consciência que não me tem permitido viver o entusiasmo de ir de férias... Quase que era um alívio não ir e olho para a mala e restantes preparativos como coisas que têm de ser feitas; a ida para o aeroporto de amanhã afigurasse como uma viagem qualquer... de trabalho, por exemplo. Espero depois de me enquadrar no ambiente de férias, de estar rodeado dos restantes 25 aventureiros(as) conseguir descontrair!

Se me quiserem encontrar, vai ser difícil, mas podem sempre tentar as webcams de Zell Am See (www.zellamsee.com)!

Sérgio

08 março 2006

O Tempo: O Nosso Bem Mais Precioso.

Há algo quase aterrorizante se analisado friamente: o relógio nunca pára; não é possível voltar atrás... nunca! O que vivemos e sentimos agora é irrecuperável... e efémero... Ora, sendo o nosso tempo de vida limitado, há aqui uma gestão de tempo crítica, que torna o tempo o nosso bem mais precioso.

Se calhar devíamos repensar tudo: a nossa forma de viver; os nossos objectivos de vida; etc.. Se calhar passamos demasiado tempo a preparar o futuro em vez de viver o presente. Se calhar passam-nos ao lado aos coisas mais simples, quem sabe, mais importantes para nos fazerem felizes... Isto pressupondo que o objectivo de cada um é ser feliz!

Ainda ontem pensei nisso quando saí de casa depois de ter estado com o meu sobrinho de 5 meses ao colo: um bebé muda todos os dias; aqueles sorriso não vou voltar a vê-lo... amanhã já será diferente... deveria ter ficado a gozar aquele momento com ele mais tempo, relegando para segundo plano outras coisas (mais complexas) que posso adiar... portanto não são mais importantes!

Normalmente as mulheres têm este bom-senso mais presente que os homens, que por norma são mais objectivos e predestinados a cumprir cegamente objectivos e obrigações. Hoje é o Dia Internacional da Mulher e há que “reconhece-lo com frontalidade”...

Sérgio



“Consciência da Vida

Nossa vida é tão curta e frágil que se tivéssemos consciência do quanto ela realmente é efémera, pensaríamos melhor antes de jogar fora oportunidades que nos surgem de sermos felizes, assim como partilhar essa felicidade.
Nos entristecemos por fatos sem importância, perdemos minutos e horas preciosos, dias, e às vezes anos remoendo mágoas ou estagnados, deixando de evoluir.
Quantas vezes nos calamos quando deveríamos falar e falamos o que não devíamos ao invés de aprender com o beneficio do silencio?
Deixamos de usufruir carinhos sinceros, amores verdadeiros, abraços apertados e sorrisos espontâneos... Deixamos de dizer o quanto amamos alguém, seja amigo ou parente porque achamos que o outro sabe o que sentimos. Colocamos mesmo sem querer, barreiras entre os corações que nos cercam. Nos esquecemos que muitas vezes o separa e aflige nossos corações não é uma eventual distância, mas sim a indiferença, e assim criamos distâncias mesmo estamos próximos. A indiferença mata lentamente, anula qualquer sentimento...
Nos sensibilizamos com o que acontece no mundo, mas nos esquecemos do que se passa ao nosso lado, na nossa casa, na nossa família, em nossa vida. Nos habituamos tanto com as pessoas de nosso convívio que passamos a não mais notá-las, e deixamos de dar sua merecida e real importância.
Nossa vida é como uma linda e frágil flor, que pode ser colhida a qualquer momento ou permitir que possa florir no esplendor de sua beleza, com o vento levando as pétalas lentamente, para depois tranquila transformar-se em semente. Este seria um ciclo de vida normal, onde as pétalas seriam os anos vividos e as sementes o bem que plantamos. Porém nunca poderemos prever se nosso ciclo de vida será completo ou se será como o de algumas flores, arrancadas ainda em botão.
Pensamos que seremos eternos e nos descuidamos das pessoas ao nosso redor e principalmente de nós mesmos. Assim, os dias passam e não notamos o Sol da vida, apenas a escuridão da noite e continuamos enclausurados dentro de nós. Passamos pela vida, mas não vivemos em toda sua plenitude.
Quantas vezes nos consumimos, reclamando do que não temos, comparando nossa vida com a de outro que achamos estar melhor e que tem maior sorte? Colocamos a culpa em tudo que se possa imaginar e não percebemos que estamos julgando sempre o pior de nossas vidas. A insatisfação e revolta nos impedem de perceber que a felicidade não é a ausência do conflito, mas sim a habilidade de saber lidar com ele...
Esta é a grande diferença, nunca é muito tarde para apreciar as flores de nosso jardim e tratá-las com carinho, trabalhar nosso crescimento interior, valorizar nossas qualidades, agradecer a oportunidade do grande milagre da vida, que mesmo sendo frágil e efémera esta dentro de nós, e pode se tornar extremamente fortalecida através do amor.
Viva intensamente...
Se quisermos transformar o mundo, devemos começar por transformar a nós mesmos...”

SCARPELLI

06 março 2006

Amizade...


Hoje, 2.ª feira de manhã, recebi um sms de uma amiga a dizer-me que definitivamente não iria acompanhar-me (e aos meus amigos) nas férias da próxima semana (as férias mais esperadas e ansiadas do ano - férias de neve).
Talvez por ser 2.ª feira, o dia mais dramático da semana, isto entristeceu-me mais do que seria de esperar... e pôs-me a pensar num conjunto de coisas enquanto fazia o percurso para o emprego (e me desviava dos enlatados ceguetas que me ignoram no transito...).
Será que toda aquela complexidade de sentimentos e emoções, que as pessoas de quem gostamos nos fazem sentir em determinados momentos verdadeiramente fantásticos das nossas vidas, é apenas efémera? Será que depois cada um vai para sua casa e é como se nunca tivesse existido? Porque será que lido tão mal com esta sensação saudosa? Serei só eu que tenho vontade de repetir todos esses momentos; conservar todos os amigos, amores e paixões; no fundo, enaltecer os momentos em que mais feliz me senti?...
Possivelmente assim é... talvez ainda não tenho crescido o suficiente para acordar e verificar que as coisas são como são... são como estão descritas no texto em baixo.

Sérgio


AMIZADE

Sabe, o tempo faz muitas coisas que nem fazemos ideia. Coisas que antes eram tão normais ou outras nem tanto, tudo muda, tudo se transforma, é muito louco.
Incrível o que o tempo faz com a vida da gente, com nossos amigos, com nossos amores... com tudo.
Então aproveitem ao máximo todos os momentos bons e ruins de suas vidas. Os momentos bons para desfrutar e os ruins para aprender.
Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos. Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje pensando, não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar quem sabe... nos emails trocados. Podemos nos telefonar conversar algumas bobagens... Aí os dias vão passar, meses... anos... até este contacto tornar-se cada vez mais raro. Vamos nos perder no tempo...
Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas? Diremos... Que eram nossos amigos. E... isso vai doer tanto! Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida! A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...
Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um último adeus de um amigo. E entre lágrimas nos abraçaremos. Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado. E nos perderemos no tempo...
Por isso, fica aqui um pedido desta grande amiga de vocês: “não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades seja a causa de grandes tempestades...” ; ”Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!”; “Não importa se você está longe ou se está perto, o importante é que a pessoa exista para podermos sentir a sua falta".

Texto de Katia (http://gatadanight2005.gigafoto.com.br)
Citação de Fábio Tonelli (http://fotolog.net/biork)

03 março 2006

Homossexualidade ou Homofobia? Uma Nova Forma de Racismo.

Para um tema tão polémico, um post tão pragmático quanto acutilante retirado do blog-irmão, Ex-Citações.

http://ex-sitacoes.blogspot.com/2006/03/homofobias.html#links

Sérgio

UM AMOR PERFEITO!


Há dias em que acordo com dez anos, o cabelo despenteado e os olhos a brilhar como duas estrelas. Podes estar ou não ao meu lado a dormir como uma criança, ou a viver na minha memória, mas sinto sempre o teu cheiro a leite e oiço a tua respiração regular e vejo o teu peito a subir e a descer ao ritmo do teu coração. O ar enche-se de açúcar em camadas invisíveis que se espalham por toda a casa e nos acompanham à rua quando saímos, sempre atrasados, porque nunca nos queremos separar.
Enquanto guio pela cidade e resolvo a minha quase infindável lista de tarefas, tu vais sentado ao meu lado, vejo-te de óculos escuros, oiço-te a cantarolar e sinto a tua mão esquerda sobre as minhas pernas. Nos sinais vermelhos, se fechar os olhos e me concentrar, a tua boca vai escorregar pelo meu pescoço acima até dobrar a linha do maxilar e percorrer a minha cara até chegar à minha boca para mergulhares em mim como uma onda salgada e doce, num beijo profundo e demorado.
Às vezes os outros carros buzinam porque estou distraída, mas não me importo, faço tudo devagar, com a doçura e a sabedoria dos eternos apaixonados que vivem a sonhar acordados, que viajam para outras cidades em sonhos, que adivinham o futuro melhor do que qualquer cartomante, que imaginam cada dia como o dia perfeito das suas vidas.
Tu és o meu amor perfeito. Não sei exactamente quem és nem em que cidade vives, mas és muito bonito, tens um coração onde cabe o mundo inteiro, gostas de ler e de rir e os teus amigos dizem que és o melhor amigo do mundo.
Gostas de viajar, falas várias línguas e consegues fazer piadas em todas elas. Andas de ténis e de calças com bolsos, tens uns olhos enormes e o cabelo despenteado. Nunca serás um senhor de fato e gravata, nunca serás administrador de um banco, nunca chegarás a casa com cara de chato, como fazem aqueles maridos que deixam crescer a barriga, andam de pantufas e passam horas colados aos canais de desporto.
Tu és o meu amor perfeito, que me compra colares e me escreve bilhetes, que me dá a mão na rua, que me abraça no meio de todas as praças e me leva para a cama sem hora marcada. Tens um sorriso enorme e sempre que olhas para mim, sinto uma fábrica de borboletas no estômago e tenho vontade de rir e de chorar ao mesmo tempo, porque sabes fazer-me a pessoa mais feliz do mundo.
Não sei em que país vives ou de que planeta desceste, mas tenho a certeza que vives na terra e que, tal como eu, sonhas com um amor perfeito, feito de paz e de açúcar, um amor seguro e tranquilo que a distância não mata nem o silêncio consome. Pode ser que te torne mesmo verdade e um dia destes entres pela porta da minha casa e me digas que nunca mais te vais embora. Mas, mesmo que nunca venhas, és o meu amor perfeito, a imagem idealizada do que desejo e mereço, o sonho que me faz acordar e sentir-me outra vez com dez anos, com estrelas no olhos e o coração cheio de açúcar.

Margarida Pinto Rebelo


Li este texto e fiquei fascinado... claro que para me rever nele, teria de o traduzir do feminino para o masculino... mas acho que mesmo assim falta alguma coisa. Falta o clique... aquele flash que nos diz, quando vemos a pessoa num determinado momento, que há algo de muito especial entre ela e nós... é isso que falta!

Sérgio


P.S.: obrigado, Rosa, pelo texto. Fotografia retirada do webshoots.

01 março 2006

O Cerco.


JÁ FALTOU mais para que um dia destes tenha de passar à clandestinidade ou, no mínimo, tenha de me enfiar em casa a viver os meus vícios secretos. Tenho um catálogo deles e todos me parecem ameaçados: sou heterossexual «fulltime»; fumo, incluindo charutos; bebo; como coisas como pezinhos de coentrada, joaquinzinhos fritos e tordos em vinha d'alhos; vibro com o futebol; jogo cartas, quando arranjo três parceiros para o «bridge» ou quando, de dois em dois anos, passo à porta de um casino e me apetece jogar «black-jack»; não troco por quase nada uma caçada às perdizes entre amigos; acho a tourada um espectáculo deslumbrante, embora não perceba nada do assunto; gosto de ir à pesca «ao corrido» e daquela luta de morte com o peixe, em que ele não quer vir para bordo e eu não quero que ele se solte do anzol; acredito que as pessoas valem pelo seu mérito próprio e que quem tem valor acaba fatalmente por se impor, e por isso sou contra as quotas; deixei de acreditar que o Estado deva gastar os recursos dos contribuintes a tentar «reintegrar» as «minorias» instaladas na assistência pública, como os ciganos, os drogados, os artistas de várias especialidades ou os desempregados profissionais; sou agnóstico (ou ateu, conforme preferirem) e cada vez mais militantemente, à medida que vou constatando a actualidade crescente da velha sentença de Marx de que «a religião é o ópio dos povos», licenciado em direito, tornei-me descrente da lei e da justiça, das suas minudências e espertezas e da sua falta de objectividade social, e hoje acredito apenas em três fontes legítimas de lei: a natureza, a liberdade e o bom senso.

Trogloditas como eu vivem cada vez mais a coberto da sua trincheira, numa batalha de retaguarda contra um exército heterogéneo de moralistas diversos: os profetas do politicamente correcto, os fanáticos religiosos de todos os credos e confissões, os fascistas da saúde, os vigilantes dos bons costumes ou os arautos das ditaduras «alternativas» ou «fracturantes». Se eu digo que nada tenho contra os casamentos homossexuais, mas que, quanto à adopção, sou contra porque ninguém tem o direito de presumir a vontade «alternativa» de uma criança, chamam-me homofóbico (e o Parlamento Europeu acaba de votar uma resolução contra esse flagelo, que, como está à vista, varre a Europa inteira); se a uma senhora que anteontem se indignava no «Público» porque detectou um sorriso condescendente do Dr. Souto Moura perante a intervenção de uma deputada, na inquirição sobre escutas na Assembleia da República, eu disser que também escutei a intervenção da deputada com um sorriso condescendente, não por ela ser mulher mas por ser notoriamente incompetente para a função, ela responder-me-ia de certeza que eu sou «machista» e jamais aceitaria que lhe invertesse a tese: que o problema não é aquela deputada ser mulher, o problema é aquela mulher ser deputada; se eu tentar explicar por que razão a caça civilizada é um acto natural, chamam-me assassino dos pobres animaizinhos, sem sequer quererem perceber que os animaizinhos só existem porque há quem os crie, quem os cace e quem os coma; se eu chego a Lisboa, como me aconteceu há dias, e, a vinte quilómetros de distância num céu límpido, vejo uma impressionante nuvem de poluição sobre a cidade, vão-me dizer que o que incomoda verdadeiramente é o fumo do meu cigarro, e até já em Espanha e Itália, os meus países mais queridos, tenho de fumar envergonhadamente à porta dos bares e restaurantes, como um cão tinhoso; enfim, se eu escrever velho em vez de «idoso», drogado em vez de «tóxico-dependente», cego em vez de «invisual», preso em vez de «recluso» ou impotente em vez de «portador de disfunção eréctil», vou ser adoptado nas escolas do país como exemplo do vocabulário que não se deve usar. Vou confessar tudo, vou abrir o peito às balas: estou a ficar farto desta gente, deste cerco de vigilantes da opinião e da moral, deste exército de eunucos intelectuais.

Agora vêm-nos com esta história dos «cartoons» sobre Maomé saídos num jornal dinamarquês. Ao princípio a coisa não teve qualquer importância: um «fait-divers» na vida da liberdade de imprensa num país democrático. Mas assim que o incidente foi crescendo e que os grandes exportadores de petróleo, com a Arábia Saudita à cabeça, começaram a exigir desculpas de Estado e a ameaçar com represálias ao comércio e às relações económicas e diplomáticas, as opiniões públicas assustaram-se, os governantes europeus meteram a viola da liberdade de imprensa ao saco e a Sr.ª comissária europeia para os Direitos Humanos (!) anunciou um inquérito para apurar eventuais sintomas de «racismo» ou de «intolerância religiosa» nos «cartoons»profanos. Eis aonde se chega na estrada do politicamente correcto: a intolerância religiosa não é de quem quer proibir os «cartoons», mas de quem os publica!

A Dinamarca não tem petróleo, mas é um dos países mais civilizados do mundo: tem um verdadeiro Estado Social, uma sociedade aberta que pratica a igualdade de direitos a todos os níveis, respeita todas as crenças, protege todas as minorias, defende o cidadão contra os abusos do Estado e a liberdade contra os poderosos, socorre os doentes e os velhos, ajuda os desfavorecidos, acolhe os exilados, repudia as mordomias do poder, cobra impostos a todos os ricos, sem excepção, e distribui pelos pobres. A Arábia Saudita tem petróleo e pouco mais: é um país onde as mulheres estão excluídas dos direitos, onde a lei e o Estado se confundem com a religião, onde uma oligarquia corrupta e ostentatória divide entre si o grosso das receitas do petróleo, onde uma polícia de costumes varre as ruas em busca de sinais de «imoralidade» privada, onde os condenados são enforcados em praça pública, os ladrões decepados e as «adúlteras» apedrejadas em nome de um código moral escrito há quase seiscentos anos. E a Dinamarca tem de pedir desculpas à Arábia Saudita por ser como é e por acreditar nos valores em que acredita?

Eu não teria escrito nem publicado «cartoons» a troçar com Maomé ou com a Nossa Senhora de Fátima. Porque respeito as crenças e a sensibilidade religiosa dos outros, por mais absurdas que elas me possam parecer. Mas no meu código de valores - que é o da liberdade - não proíbo que outros o façam, porque a falta de gosto ou de sensibilidade também têm a liberdade de existir. E depois as pessoas escolhem o que adoptar. É essa a grande diferença: seguramente que vai haver quem pegue neste meu texto e o deite ao lixo, indignado. É o seu direito. Mas censurá-lo previamente, como alguns seguramente gostariam, isso não.

É por isso que eu, que todavia sou um apaixonado pelo mundo árabe e islâmico, quanto toca ao essencial, sou europeu - graças a Deus.
Pelo menos, enquanto nos deixarem ser e tivermos orgulho e vontade em continuar a ser a sociedade da liberdade e da tolerância.

por Miguel Sousa Tavares


Subscrevo na integra, com excepção da caça, das touradas e do fumo em locais fechados.
Todavia, se o este excelente escrito optasse por mostrar exclusivamente a sua abertura de espírito e bom senso, sem referencia o seu comportamento pessoal, ainda que a título de exemplo, seria melhor compreendido pela maioria das pessoas...

Sérgio