De há uns tempos para cá tenho vindo a prestar mais atenção ao impacto que um filho provoca na vida de um casal. Este aspecto chamou-me a atenção porque sou tio de dois bebés lindos (graças ao meu "maninho" e à minha cunhada); um com 3 anos e meio; e outro com mês e meio.
Não vos venho falar de como se educam os miudos hoje e como se fazia na nossa altura... nem de quanto compensador é tê-los. Não sou pai, logo seria especulação, por muito que eu goste dos meus sobrinhos...
O que é realmente louvável é que Pai e Mãe mudam toda a sua vida, para passarem a vivê-la em torno dos filhos.
Abdicam de toda a liberdade que um casal pode ter; fins de semana fora, férias, jantares, cinema, festas com os amigos passam a ser excepcionais, para quando os filhos podem ir, ou excepcionalmente ficarem com alguém que tome conta deles.
As férias com filhos são muito diferentes, especialmente no que toca a liberdade, descanso, horários... já para não falar de férias a dois propriamente ditas! É para esquecer... Mesmo assim conheço e louvo quem consiga manter o bom hábito de ter uma semana sem filhos (por exemplo, uma semana de neve com os amigos)... mas não há bela sem senão, e pelo que dizem, as saudades apertam forte e feio!
De facto é muito complicado e necessita de muita força de vontade e entendimento do casal. Estão a ver o que é depois de uma noite sem dormir, ter de fazer face a toda aquela exigência de um dia de trabalho? E tempo para ginásio, desporto, saúde?... E quando há um trabalho urgente para terminar e o filho adoece? É preciso dar-lhe assistência...
Gostam de dormir ao fim-de-semana para compensar os dias de trabalho? Gostavam, melhor dizendo... E quando ficarem à noite a ver um filme até tarde, não esperem que o miudo entenda isso na manhã seguinte!
Até a vertente financeira é complicada, pois uma parte substancial dos ordenados aos filhos pertencem... portanto, cada vez mais difícil será trocar para uma casa maior, comprar aquela televisão, aqueles sofás, trocar por um carro melhor, ou mesmo manter a moto... as férias têm de ser baratinhas (as casas de praia dos avós são bem vindas). Ski/snowboard, surf/bodyboard, windsurf/kite surf, mergulho em destinos previlegiados estão fora de causa. Pode sempre sair-vos o Euromilhões... aí teremos filhos excêntricos!
Mesmo quando os filhos são adultos (e sinto isto desde que voltei a viver com os meus Pais), só a presença por perto, ou menor independência, é motivo de preocupação especial (ainda que inconsciente), e consequentemente, condiciona a forma como vivem e programam as suas actividades.
Por estas e por outras muitas razões, considero que os meus Pais são realmente pessoas fora de série. Consequentemente, eu como filho, sou um mal agradecido... nunca serei capaz de compensar o que os meus Pais fizeram por mim, tudo o que me ensinaram, como me alertaram para o que a vida é, como me acompanharam nos momentos decisivos e difíceis. Pior do que isso, em muitas situações sou o crítico, a oposição, o confronto... bem sei que foram eles que ensinaram a ser assim e a valorizar mais ou menos determinados aspectos com que convivemos... mas deveria haver lugar à excepção, à tolerância e à compreensão para com Eles...
Bem sei que os nossos Pais não esperam essa retribuição. Bem sei que não seria natural colocar os nossos Pais na prioridade n.º1 durante a vida inteira. Mas olhando para trás não deixo de me considerar um mal agradecido por tudo o que fizeram e fazem por mim... Mais grave: não consigo fazer nada por eles que se compare...
Sérgio
P.S.: na fotografia estão os meus Pais, Fernando e Elisabete, acabados de chegar a Pedras Rubras, vindo de São Petersburgo (e trouxeram-me uma t-shirt!).