30 novembro 2005

Pais.



De há uns tempos para cá tenho vindo a prestar mais atenção ao impacto que um filho provoca na vida de um casal. Este aspecto chamou-me a atenção porque sou tio de dois bebés lindos (graças ao meu "maninho" e à minha cunhada); um com 3 anos e meio; e outro com mês e meio.
Não vos venho falar de como se educam os miudos hoje e como se fazia na nossa altura... nem de quanto compensador é tê-los. Não sou pai, logo seria especulação, por muito que eu goste dos meus sobrinhos...

O que é realmente louvável é que Pai e Mãe mudam toda a sua vida, para passarem a vivê-la em torno dos filhos.
Abdicam de toda a liberdade que um casal pode ter; fins de semana fora, férias, jantares, cinema, festas com os amigos passam a ser excepcionais, para quando os filhos podem ir, ou excepcionalmente ficarem com alguém que tome conta deles.
As férias com filhos são muito diferentes, especialmente no que toca a liberdade, descanso, horários... já para não falar de férias a dois propriamente ditas! É para esquecer... Mesmo assim conheço e louvo quem consiga manter o bom hábito de ter uma semana sem filhos (por exemplo, uma semana de neve com os amigos)... mas não há bela sem senão, e pelo que dizem, as saudades apertam forte e feio!
De facto é muito complicado e necessita de muita força de vontade e entendimento do casal. Estão a ver o que é depois de uma noite sem dormir, ter de fazer face a toda aquela exigência de um dia de trabalho? E tempo para ginásio, desporto, saúde?... E quando há um trabalho urgente para terminar e o filho adoece? É preciso dar-lhe assistência...
Gostam de dormir ao fim-de-semana para compensar os dias de trabalho? Gostavam, melhor dizendo... E quando ficarem à noite a ver um filme até tarde, não esperem que o miudo entenda isso na manhã seguinte!
Até a vertente financeira é complicada, pois uma parte substancial dos ordenados aos filhos pertencem... portanto, cada vez mais difícil será trocar para uma casa maior, comprar aquela televisão, aqueles sofás, trocar por um carro melhor, ou mesmo manter a moto... as férias têm de ser baratinhas (as casas de praia dos avós são bem vindas). Ski/snowboard, surf/bodyboard, windsurf/kite surf, mergulho em destinos previlegiados estão fora de causa. Pode sempre sair-vos o Euromilhões... aí teremos filhos excêntricos!

Mesmo quando os filhos são adultos (e sinto isto desde que voltei a viver com os meus Pais), só a presença por perto, ou menor independência, é motivo de preocupação especial (ainda que inconsciente), e consequentemente, condiciona a forma como vivem e programam as suas actividades.

Por estas e por outras muitas razões, considero que os meus Pais são realmente pessoas fora de série. Consequentemente, eu como filho, sou um mal agradecido... nunca serei capaz de compensar o que os meus Pais fizeram por mim, tudo o que me ensinaram, como me alertaram para o que a vida é, como me acompanharam nos momentos decisivos e difíceis. Pior do que isso, em muitas situações sou o crítico, a oposição, o confronto... bem sei que foram eles que ensinaram a ser assim e a valorizar mais ou menos determinados aspectos com que convivemos... mas deveria haver lugar à excepção, à tolerância e à compreensão para com Eles...
Bem sei que os nossos Pais não esperam essa retribuição. Bem sei que não seria natural colocar os nossos Pais na prioridade n.º1 durante a vida inteira. Mas olhando para trás não deixo de me considerar um mal agradecido por tudo o que fizeram e fazem por mim... Mais grave: não consigo fazer nada por eles que se compare...

Sérgio
P.S.: na fotografia estão os meus Pais, Fernando e Elisabete, acabados de chegar a Pedras Rubras, vindo de São Petersburgo (e trouxeram-me uma t-shirt!).

29 novembro 2005

Estou a Ficar Velho!


Apesar de não me sentir velho, no outro dia estava a experimentar a câmara do meu telefone (foi assim que tirei esta fotografia) e reparei que estou a ficar com um ar envelhecido...

Quando ando mais cansado, emagreço na cara (sim porque a barriga...) e começam a notar-se traços vincados na cara e algumas rugas à volta dos olhos. Reparei nisto não em tom melodramático, mas com alguma graça... afinal, já tenho 33 anos e não tenho por hábito levar uma vida calma e sossegada (deitar cedo e cedo erguer... horinhas certinhas para tudo... etc.). Antes pelo contrário, gosto de fazer as coisas com adrenalina, gostava de fazer muito mais do que tenho tempo, acho a pressão um excelente tónico...
Com a idade a aumentar a vida só complica mais... são mais responsabilidades, mais problemas, mais ocupações, menos tempo para nós mesmos, mas contrariedades... é o nosso organismo que se torna mais sensível e delicado (e requer mais atenção), tornamo-nos muito mais frágeis perante os fracassos amorosos e os feitos atléticos começam a ficar para trás: é o declínio!
O que é que é estranho no meio disto tudo?... É que não me sinto mais infeliz do que há uns anos atrás... bem pelo contrário! Sou mais feliz agora que tenho 1001 coisas para fazer e outras tantas que pretendo fazer algures no tempo... preciso de mais tempo para descansar e ele não existe... mesmo assim, sou muito mais feliz do que quando tinha 15 anos e só tinha uma obrigação: estudar...
Parece que as rugas tem correspondência directa em felicidade... e os 33 anos trouxeram-me a experiência de vida para saber aproveitar melhor o tempo, e acima de tudo, saber valorizar tudo o que acontece, mesmo quando as coisas não correm como eu queria. Também aprendi a guardar as boas recordações do passado; já as más... para que relembrá-las?! Não me parece que haja alguma coisa de válido a retirar das mesmas.

Há quem diga que é indispensável para sermos felizes, não termos tudo o queremos... se calhar a explicação é essa...

Sérgio

28 novembro 2005

Férias para descansar?!

Como sabem, sou um fanático por férias de neve. São férias diferentes no conceito tradicional de férias-descanso. Descansa-se a mente, desgastando-se intensamente a parte física, com um desporto de nos dá um gozo incrível.
Por aqui me fico, prometendo regressar com um post sobre o assunto; recomendo-vos esta descrição sobre o primeiro ano em que fazemos férias de neve e que na minha opinião é o mais fantástico de todos!

http://ex-sitacoes.blogspot.com/2005/11/agora-que-o-frio-chegou.html#links
Sérgio

24 novembro 2005

Coiote


Se calhar na fotografia não é um coiote... se for, melhor!

Mas não é deste coiote que vos venho falar hoje. O Coiote a que me refiro, sai na toca de Segunda a Sexta às 10 da noite; fá-lo através das ondas do éter, directamente do Estúdio da Antena 3.
Pela autoria e voz de Pedro Costa chega-nos um programa de rádio digno de assim ser chamado. O locutor, portador de uma excelente voz e dicção, apresenta diáriamente uma selecção músical de sua autoria (sem playlist! YES!), cujo bom gosto, qualidade e conhecimento musical lhe gabo e admiro. É um prazer ouvir no carro ou em casa (há quanto tempo não ouvem rádio em casa? Na vossa sala... na vossa aparelhagem... em vez da televisão!) o melhor do que o mundo da música produz.
Definido no site da emissora como: "Um coyote à deriva nos desertos. Da melancolia ao vigor, na noite antena 3, e antes do sonho, uma palete de sons e palavras por quem sabe que o mundo real é mais dramático do que a televisão.". Este programa faz jus ao nome do animal e encontra no deserto musical, temas com capacidade para nos alimentar a alma... e o coração.
Uma última menção para o tema escolhido como introito do programa: um fantástico tema dos "portugueses" Raindogs... mas sobre isto, falamos noutro dia...

Não deixem de ouvir!

Sérgio

22 novembro 2005

Kate Bush - Aerial.


E quem nunca ouviu falar desta Senhora? Se entre os leitores há algum ignorante a quem se aplique esta pergunta, deixe-me começar por lhe dizer que deve abandonar o blog, pois esta Senhora não é parente de G.W.Bush.

Para todos os outros que prosseguem a leitura deste post, tenho o prazer de os informar que Kate Bush voltou à actividade que mais a celebrizou. Depois de uma carreira como bailarina, iniciou a sua carreira músical em 1978 com o 1.º album de título "The Kick Inside". Seguiram-se muitos outros, todos tão excelentes quanto originais; se calhar "The Lion Heart" é o mais mediático...
Estudou em Londres piano, violino, dança, mimica e (é claro) música. Assinou o 1.º contrato com a EMI aos 16 anos, tendo sido alvo da atenção de David Gilmour (guitarrista dos Pink Floyd - caso os ignorantes persistam na leitura...), e que foi o impulsionador da sua carreira musical.
Se quiserem saber mais coisas, façam uma busca na world wide web... deve haver milhares de sites com muito mais informação do que agora me recordo...
Kate Bush mantinha-se em silêncio desde 1993, altura em editou o seu album menos divulgado... The Red Shoes. Brinda-nos agora com um soberbo trabalho. Não vos aconselho a piratearem este cd, por muito boa qualidade sonora que consigam. Trata-se de um album repleto de charme e sedução: é duplo (para dar mais emblemática à coisa... que piada tem um cd com 16 ou 18 músicas?!); e tem uma ilustração fotográfica fabulosa, digna dos antigos vinis, com aquelas capas cheias de misticismo, que nos faziam sonhar sobre o mundo da pop-rock.
Mas vamos ao que interessa: a música! E é aqui que Kate Bush mais nos surpreende... como não podia deixar de ser... quem ouve este Aerial nunca diria que a autora alguma vez esteve retirada de actividade. O som é original como sempre foi seu apanágio. A voz mais aveludada parece oriunda de um ser divino e não de um comum mortal; as melodias e os baixos podem parecer estranhos ou excentricos à primeira audição, mas mesmo assim tem o poder imediato do envolvimento. Os ritmos por vezes inspirados no jazz, colocam nos temas a exclusividade do bom-gosto. Pelo meio há ainda espaço para ouvirmos castanholas, ritmos e guitarras espanholas (mas dotadas de envolvência marcante e isentas da habitual agressividade da música cigana); além de temas de piano e voz (quase exclusivamente) - um must só possível na voz de Kate Bush).
Podia ficar aqui o dia todo a escrever e não vos conseguiria transmitir o que quero... portanto só me resta dizer-vos o seguinte: COMPREM! Nem peçam para ouvir ou ver... COMPREM! COMPREM!

Por fim, queria apresentar as minhas desculpas por a partir de hoje, estar em concorrência directa com o "Reporter Músical" do Calimerosmix (www.calimerosmix.blogspot.com)... mas dada a ausência de actividade nos últimos tempos, urge preencher um espaço no mercado musical informativo da blogosfera!

Sérgio

18 novembro 2005

Coincidências II.



Há uns dias atrás fiz um post sobre algumas coincidências que me ocorrem frequentemente (e sobre a cidadania do povo sueco). Concretamente, se nunca ouvi falar de algo, ou já não ouço há muito tempo, quando acontece ouvir (ou voltar a ouvir), acontece várias vezes no mesmo dia.

Na quinta-feira passada, uma das minhas colegas estava com um pico de trabalho altamente inquietante. No sentido de a acalmar, especialmente porque está grávida, surgiu-me uma frase que há muito não fazia parte do meu discurso: "Calma! O trabalho não foge...". É uma frase banal, que eu conheci de uma ex-namorada e que há muito não vejo, nem falo. Aliás, depois de nos separarmos vimo-nos meia dúzia de vezes... fruto de um fim feio já há 3 anos... a última no dia 24Dez2004, à tarde, altura em que combinamos tomar um café (SMS's de Natal!...).
Pois acreditem que na quinta-feira ao fim do dia, fui ao CPAM (Centro Português de Artes Marciais), não para treinar (nem para trabalhar!), mas para dar um abraço a um grande amigo, cujo pai havia falecido e eu não tinha tido possibilidade de estar presente no funeral (na terça-feira), e nem de propósito, dou de cara com ela... Inscreveu o filho no CPAM há 3 meses e nunca nos tinhamos cruzado (eu habitualmenten treino noutros dias). Com tantos dias para nos termos cruzado, acabou por acontecer exactamente no dia em que me ocorreu uma frase dela...

Curioso também o sucedido a seguir. Estivemos alguns minutos a conversar... foi agradável revê-la. É curioso sentir que apesar do nosso assunto estar perfeitamente arrumado (para mim; e de nem me passar pela cabeça insistir em relações que não funcionam), não deixa de me perturbar o olhar , ou o "cheirinho" do perfume dela... isto porque não estava a contar encontrá-la; noutras alturas o mesmo efeito não se apoderou de mim... por exemplo, no Natal passado. Isto independentemente de a achar uma mulher muito interessante. De repente surge-me um chavão idiota:"As mulheres são como o vinho: umas evidenciam as suas qualidades com o passar do tempo; outras azedam...". Por falta de rolha capaz, digo eu... E a ela só se pode aplicar o primeiro caso.
No fim, esqueci-me de lhe dizer duas coisas (a conversa dispersou...): usa um relógio muito bonito (ela entenderia o que eu quero dizer...); no dia em que tive o acidente de moto, lembrei-me dela logo a seguir a verificar que estava inteiro (embora amassado...), sem perceber porquê... ocorreu-me simplesmente!

Sérgio

Barriguinha de Freira.

É o título de um blog da autoria de Mário Ferreira, o qual recomendo a vossa visita. Pessoalmente, fascinaram-se as fotografias do Gerês; mas há mais... há muito mais.

http://www.barriguinhadefreira.blogspot.com/

Bom fim-de-semana!

Sérgio

17 novembro 2005

Velocidade


Um dos maiores prazeres que tenho é do guiar depressa. Guio quase sempre de forma rápida, seja de moto ou de carro... faz parte de mim e não consigo evitá-lo. Dou por mim a fazê-lo com naturalidade e serenidade, como se não soubesse guiar de outra forma.

Sempre que tento guiar devagar, acabo por enfrentar situações de quase acidente, de tão entediante e desatenta que a condução se torna. Nunca tive acidentes ou despistes e não escondo que guio depressa pela adrenalina que me provoca; pelo prazer e relaxamento que daí advêm. Guio cuidadosamente e sem infracções... apenas não respeito os limites de velocidade (diferente de guiar em excesso de velocidade...). A busca por esta adrenalina não termina na condução; encontro-a nos desportos que faço também (por exemplo, no ski).

Não considero que a velocidade seja sinónimo de risco ou insegurança; aliás condeno a perseguição que actualmente as autoridades fazem a este factor, tão usado para “tapar o sol com a peneira” no que concerne à segurança rodoviária nacional. A título de exemplo, refiro que os países mais liberais neste aspecto são os que menor grau de sinistralidade têm. Obviamente, a velocidade deve ser adequada ao automóvel, á estrada, ao trânsito, às condições climatéricas, à visibilidade, etc.. Considero sim, que a falta de velocidade é tão ou mais mortífera que o seu excesso; nomeadamente, nas ultrapassagens, nas auto-estradas e vias-rápidas, levando ao congestionamento (que inequivocamente é o maior causador de acidentes).

Olhando para o caso Português, parece-me que os elevados números de acidentes devem-se: á falta de preparação dos condutores (sem capacidade ou treino no controlo do veículo em situações críticas); à escolha de veículos pouco adequados à utilização final, cuja decisão é principalmente influenciada pelo factor preço (leia-se Imposto Automóvel); e a uma cultura das entidades fiscalizados, incentivada pelo próprio Presidente da República Jorge Sampaio em pleno séc. XXI, de punição, ao contrário da tendência de prevenção há muito acentuada na UE.

Uma última nota para os limites de velocidade. Os actuais limites de velocidade surgiram na década de 60, pela altura do 1.º choque petrolífero, nos EUA. Tinham por objectivo limitar o consumo de gasolina dos automóveis movidos por motores de grande cilindrada e pouca potência, facilmente consumidores de mais de 20l/100 kms. Se há 40 anos atrás era seguro circular a 120 kms/h em veículos, que à luz da actual tecnologia automóvel são rudimentares; e em estradas cuja construção, sinalização e visibilidade é incomparável às actuais; porque é que não é seguro, hoje em dia, circular a 180 kms/h numa auto-estrada de última geração?

Se calhar pela mesma razão que levou o número de acidentes a aumentar... tudo evoluiu, excepto a habilitação dos condutores e das autoridades.

Sérgio
P.S.: na fotografia, uma Triumph Sprint ST 955 (Que máquina! Conhecem alguem que tenha uma?...).

16 novembro 2005

Pirataria Musical

Quem não faz?! O benefício de ter aquele cd a custo quase nulo, acaba por cativar quase todos...
Algures na blogosfera, alguém tem algo muito interessante para vos dizer sobre a tão polémica pirataria musical que assistimos hoje em dia.
Não deixem de visitar este link e deixar o vosso comentário:

http://ex-sitacoes.blogspot.com/2005/11/pirataria-musical.html#links

Sérgio

15 novembro 2005

EGOÍSMO


É vulgar ouvirmos dizer que as pessoas estão cada vez mais egoístas; que só “olham para o seu umbigo” e não respeitam os sentimentos dos outros, mesmo que de pessoas muito queridas se tratem (por exemplo, marido e mulher – ou pelo menos assim deveria ser). Infelizmente, é mesmo uma característica da nossa sociedade, onde as coisas parecem valer mais que as pessoas, e a utilidade ter mais valor que os sentimentos.

E se reflectirmos um pouco, assim somos. Com frequência recusamos a companhia de amigos, só para ficarmos em casa a preguiçar no sofá, a ver um filme, a ler um livro, a ouvir o cd que comprámos... Até porque às vezes a preguiça fala mais alto; “...está a chover lá fora, estou tão cansado...”. Mas não será a preguiça uma demonstração de egoísmo para com o nosso amigo que precisa da nossa companhia?

Outras vezes, e por gostarmos de estar sozinhos, não trocamos a nossa própria companhia para “aturar qualquer um(a)”! Somos demasiado selectivos nos amigos e a na companhia, o que impede algumas pessoas de se revelarem exactamente como são e de se criarem laços de amizade. Aqui o egoísmo está mais dissimulado entre outras razões e sentimentos.

Mais grave será quando em busca do nosso pleno conforto e realização, acabamos por colocar pessoas a quem muito devemos e estimamos, em situações nada justas; ou que pelo menos assim as consideraríamos se invertidas estivessem.

É vulgar também vivemos períodos na nossa vida em que o nosso egoísmo atinge o auge de recusar toda e qualquer pessoa que de nós se aproxime (mesmo sem a avaliar), porque “...nem estamos aí...”. Quando na verdade, e bem lá no fundo, todos nós ambicionamos ter alguém ao nosso lado, para que possamos partilhar a nossa vida, para que nos sintamos úteis e por quem possamos expressar todo o nosso carinho, amizade, paixão e amor.

“...se gosto de ti,
se gostas de mim,
se isso não chega
tens o mundo ao contrário...”

Sérgio

14 novembro 2005

Nada Está Escrito.


Deixo-vos com um pequeno texto de um Homem comum. Alguém de quem me orgulho de ter tido como primeiro instrutor de Viet Vo Dao.
É certo que já lá vão muito anos (27 para ser exacto); é certo que continuamos a encontrar-nos (no "tapete")... José Manuel Mendonça, discipulo de Mestre Tran, consegue passar-nos uma mensagem de imensurável dignidade: é sempre possível mudar as coisas. Este Homem têm um dom que muitos poucos de nós temos... o de ser um exemplo e uma referência para todos os que têm o previlégio de com ele privar. E fá-lo sem qualquer pretensão de o ser... com a humildade, bom-senso e boa fé que emprega em tudo o que faz.
Sem saber sequer como definir a admiração que nutro por ele, resta-me agradecer-lhe por tudo o que me conseguiu ensinar, além da "arte de combate" e que foi e continua ser, muito!

Sérgio


"...A caminho de conquistar Akaba aos turcos na I Guerra Mundial, Gasim, um guerrilheiro no exército do coronel Lawrence (mais tarde conhecido como Lawrence da Arábia), adormeceu, caiu do camelo que o transportava e sem ninguém notar ficou para trás: condenado a uma morte certa sob o sol ardente do deserto. Passaram-se quilómetros até ser notada a ausência de Gasim. Então, Lawrence da Arábia voltou o camelo e guiado apenas por uma bússula, num acto de incrível audácia, quase loucura, lançou-se no deserto, arriscando perder-se e ser engolido por ele. «Não vás», disse o príncipe Aura, um dos líderes árabes da expedição:«É inútil. Nunca o encontrarás. E se por acaso o encontrares, ele já estará certamente morto. E mesmo que não esteja, nunca vocês dois encontrarão o caminho de volta até nós. Era o destino de Gasim morrer assim. Estava escrito.» Lawrence não respondeu e foi à procura de Gasim. Encontrou-o e trouxe-o de volta. Vivo. Quando, quatro horas depois, e muitos quilómetros adiante, finalmente se juntaram à coluna armada, Lawrence parou, sorriu e disse simplesmente: «Nada está escrito. Nada.»..."

Em Os Sete Pilares da Sabedoria

A razão porque nada está escrito, é porque somos nós que escrevemos o livro da vida. Pelo que todos, todos, podem ser senhores e não escravos do destino. Isto aplica-se a pessoas, empresas e países.
Nada é constante, excepto a mudança. E o futuro pode mudar. Para melhor ou para pior, dependendo do que se faz no presente. Lamúrias? Queixas? Desculpas? São a matéria-prima de que se faz o insucesso.
O sucesso, pelo contrário, é feito de outra argamassa: pensar, actuar, acreditar, persistir. A sorte bate (às vezes) à porta? Sem dúvida. O azar também? Seguramente. Mas o que decididamente desequilibra a vida a favor do sucesso ou do insucesso não vem de fora. Vem de dentro. Vem de nós. A vida é o que fazemos dela. Porque nada, nada, está verdadeiramente escrito.

José Manuel Mendonça
(Movimento Hiep-Khi-Vo-Dao - As Artes Marciais e a Vida, 15/10/2003)

11 novembro 2005

Eleições Presidenciais.

A nossa companheira da blogosfera, Encandescente, volta-nos a surpreender com brilhantes posts sobre os candidatos às Eleições Presidenciais, mostrando (como se fosse necessário...) que além de uma excelente escritora, é possuidora de um humor muito peculiar...
Consultem o "Erotismo na Cidade" mencionado nos meus links.

Bom fim de semana!

Sérgio

São Martinho e as Castanhas.



Desconheço o autor do texto ou da fotografia. Agradeço à Rosa o envio do mesmo.
Bom dia de São Martinho para todos e que as castanhas vos saibam bem!

Sérgio

Como tudo o que marca o nosso calendário, também a tradição do São Martinho tem uma explicação. Os dias arrefecem e o Outono chega ao quotidiano na altura em se dão por terminadas as vindimas e as castanhas amadurecem. Para juntar o útil ao agradável, provam-se os primeiros produtos da época da vinha e do castanheiro.

A História

Pensa-se que a castanha assada seja uma invenção de pastores e lenhadores há mais de mil anos, quando nas noites frias se aqueciam à fogueira e ali cozinhavam as castanhas colhidas nas proximidades. Assadas, cozidas ou transformadas em farinha, substituindo o pão na ausência deste, sempre foram um alimento bastante popular, cujo aproveitamento remonta talvez à pré-história.
As castanhas chegaram a ser a grande base da alimentação na Idade Média, muito utilizadas em sopas, guisados e cozidos, e até na preparação de pão e biscoitos e em épocas em que os cereais escasseavam.
Apesar de muito calóricas, estão recheadas de nutrientes que trazem vários benefícios à saúde, como as gorduras mono-insaturada e poli-insaturada, vitaminas e minerais, destacando-se os glícidos, o potássio e as vitaminas C e B.
Mas há mais: estas oleaginosas, fazem parte do selectivo grupo de frutos ideais para emagrecer. Estudos indicam que, quando aliadas a uma dieta, auxiliam na perda de peso, pois são ricas em gorduras monoinsaturadas, responsáveis por manter o nível de açúcar no sangue estável e activar o metabolismo da queima de gorduras.
Graças à sua composição rica em fibras, proteínas, cálcio, ferro, potássio, zinco, selênio, vitamina E, ácido fólico, entre outros, as castanhas actuam no equilíbrio da tiróide (evitando oscilações de peso); previnem tumores; fortalecem o sistema imunológico e protegem contra a acção dos radicais livres. São ainda poderosas na prevenção de doenças cardíacas.

A Lenda de São Martinho

Também conhecido por S. Martinho de Tours, nasceu na Hungria, em 316 ou 317. Serviu na guarda imperial até aos 40 anos, altura em que foi ao encontro de Santo Hilário, bispo de Poitiers, que lhe conferiu ordens sacras para entrar na vida religiosa, tendo sido nomeado Bispo de Tours.
No calendário litúrgico, o dia de S. Martinho celebra-se a 11 de Novembro, data em que este Santo foi a enterrar, no ano de 397. Segundo a igreja, "São Martinho é o primeiro dos Santos não Mártires, o primeiro Confessor, que subiu aos altares do Ocidente".
Durante toda a Idade Média e até uma época recente, São Martinho foi o santo mais popular de França; é aliás, o Apóstolo das Gálias. O seu túmulo em Tours, transformado numa Basílica no século V, era o maior centro de peregrinação de toda a Europa Ocidental. Graças à sua generosidade e humildade, e também fama de milagreiro, foi um dos santos mais queridos da população.
O facto do dia do seu enterro coincidir com a época do ano em que se celebra o culto dos antepassados e com a altura em que termina a faina agrícola contribui para a componente festiva e popular das celebrações, que assim integram os produtos das colheitas e também um forte espírito de solidariedade.

O Verão de São Martinho

Reza a lenda que, ainda na sua vida de soldado, se deparou com um mendigo a pedir esmola. Sem nada para lhe dar, lembrou-se de cortar a sua capa vermelha com uma espada para dar metade ao homem que enregelava. Satisfeito com este acto altruista e generoso, Deus fez surgir no céu um sol de Verão, para que nem o pobre nem o soldado ficassem com frio. Assim, todos os anos temos o Verão de São Martinho...

10 novembro 2005

O Mito de Lilith: a mulher que antecedeu Eva.

Deixo-vos com o Mito de Lilith: uma história que desconhecia e que me agradou muito mais que a já conhecida dualidade de Adão e Eva.
Além desta curiosidade, a autora do blog (conhecida na blogosfera por tutticutti) brinda-nos com fotografias de sonho. Consultem:

http://www.photoblog.be/photoblog.php?nickname=Tutticutti__&action=view&id=1612528

Sérgio

O Funcionamento do Cérebro.


Acontece-me por vezes não entender as pessoas, nem a mim mesmo... mau-humor, mau-estar... enfim! Coisas que à partida não têm explicação lógica. Aqui fica uma explicação para que nos possamos entender uns aos outros...

Sérgio


Para sobreviver, o Homo sapiens ganhou um cérebro que funciona, basicamente assim: “tudo aquilo que tem a sua atenção, ganha força e sua acção... e tende a crescer.”

Apesar de parecer uma frase vaga e pouco técnica, está correcta e precisamos entender o seu significado real nas nossas carreiras, empresas, vida pessoal e no nosso auto-controlo. Leia a frase novamente: “tudo aquilo que tem a sua atenção, ganha força e acção... e tende a crescer.”
Este simples mecanismo permitiu a construção da civilização como a conhecemos, incluindo os nossos erros e vitórias. Porquê? Porque o nosso cérebro não faz nenhuma distinção entre as coisas que queremos e as que não queremos. Ele somente se concentra em encontrar meios para obtermos aquilo que está no pensamento, mesmo que seja o que não queremos. Por isso Wayne Dyer afirma: "Mantenha seu foco naquilo que você quer, jamais no que você não quer, ou não tem."

Algumas pessoas acham que isto tem elementos esotéricos, paranormais ou de fé religiosa; não tem. Na verdade é somente biologia darwiniana e matemática pura, pois a mente não tem meios para avaliar a qualidade relativa de cada um dos 50 mil pensamentos gerados diariamente pelos neurónios. Por isso, de modo simples e directo, o cérebro ajuda-o a conseguir aquilo em que pensa. Sempre. Se pensa o dia inteiro no dinheiro que não tem, nas dívidas para pagar, nas noites solitárias e nos defeitos das pessoas.... o seu cérebro, obedientemente, vai procurar modos de conseguir mais daquilo em que pensa. Assim tenderá a conseguir mais falta de dinheiro, mais dívidas para pagar, mais noites solitárias e encontrará ainda mais defeitos em mais pessoas... Repito, não há magia envolvida neste processo... só biologia.

É impossível explicar neuropsicologia num texto de sete parágrafos, mas observe se isto não ocorre constantemente. Tudo aquilo que tem a sua atenção, ganha força e acção... e tende a crescer. Sejam pensamentos que ajudam; ou atrapalham...

Embora praticamente todos os livros de sucesso digam isto (com palavras diferentes), o impacto que este conceito pode ter, por aqueles que o entendem e o aplicam, é poderoso; seja dentro da cultura de uma empresa, de uma equipa de trabalho, num casamento e até dentro de nossa própria cabeça...

Tudo aquilo que tem a sua atenção, ganha força e acção... e tende a crescer, por isso, faça como sugere Wayne Dyer: mantenha seu foco naquilo que você quer, jamais no que você não quer, ou não tem.

Fábio Toneli

09 novembro 2005

Conflitos sociais em Paris.

Sobre este tema, o Calimerosmix (esse grande sitio da blogosfera!) publicou um excelente texto da Clara Ferreira Alves.

http://calimerosmix.blogspot.com/2005/11/paris-j-est-arder-por-clara-ferreira.html

Sérgio

Construir um País.


Por várias vezes já pensei que o nosso País não tem emenda... seria mais fácil "fechar e abrir com uma nova gerência"... mas qual nova gerência?!
Sem qualquer síndroma de pessimismo, há que apontar o dedo à mentalidade da maioria do Povo Português e louvar as excepções, responsáveis pelos poucos casos de sucesso dos quais vamos sobrevivendo.
Pensem nisso e aproveitem a estação do ano para saborearem umas boas castanhas!

Sérgio

Construir um país. Precisa-se de matéria prima para construir um País.
por Eduardo Prado Coelho - in Público


A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro.
Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.
Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...
Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?
Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.
Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de
mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.

E você, o que pensa?.... MEDITE!

EDUARDO PRADO COELHO

04 novembro 2005

ENCANDESCENTE



Hoje deixo-vos uma sugestão literária.

Um dos meus blogs favoritos chama-se "Erotismo na Cidade". Já aqui o referi uma vez a propósito de umas crónicas sobre as eleições autárquicas (http://eroticidades.blogspot.com/).
A sua autora, de nome Ana, também conhecida por Encadescente, é uma escritora única pela forma como transmite pensamentos nos quais tantas vezes nos revemos, pela própria originalidade, pela versatilidade da escrita.
Pessoalmente, o que mais me faz admirar os textos publicados, é a forma tão pessoal e sensitiva como nos passa a mensagem descrita. Dizer que é única e original é pouco... parece que estamos a sentir e a viver o que as palavras nos transmitem e não apenas a ler.
É com grande surpresa e alegria que vos transmito que foi publicado o seu primeiro livro, de título "Encandescente" (como não podia deixar de ser, acho eu... foi a primeira vez que não fui surpreendido!).

E agora?! De que estão à espera?! Toca a encomendar o livro! Para já só o podem fazer seguindo as instruções do "Erotismo na Cidade". Rápido!

Bom fim-de-semana!
Sérgio

03 novembro 2005

Paixão: a Cor da Vida.


Será que estes dois estão apaixonados?! Acho que sim! Parecem pelo menos...
Se ontem o tema foi AMOR, hoje de paixão se trata.

A paixão é no mínimo eloquente!
Tem o dom de nos fazer sentir os dois extremos e em simultâneo... por um lado, a mais louca e viva das felicidades; por outro, a profundidade da tristeza e o peso da depressão.
Vivem-se assim um misto de facetas muito intensas, em que ora tudo é bonito e colorido; a música soa melódica e fascinante; a vida é toda ela cor, animação e adrenalina, como se de uma gargalhada escancarada se tratasse, intervalada por sorrisos constantes e que me dão uma sensação de charme, felicidade, boa-disposição e bem-estar únicos, inigualáveis, inexplicáveis. Esta faceta torna a vontade de viver o mais saudável dos vícios. Morrer seria o pior dos pesadelos... abdicar de todas as maravilhas que a vida me pode proporcionar e cujo tempo não chega para as usufruir plenamente.
Mas por vezes há momentos difíceis, cinzentos, vazios... Somos invadidos por um vácuo, que apenas nos faz sentir pequenos, insignificantes. Por vezes este sentimento é melancólico e devastador... faz-nos ter vontade de morrer; morrer e desejar que ninguém note ou sinta. Acima de tudo uma vontade de desaparecer, estar sozinho, não ver ninguém. Nem mesmo a pessoa por quem nos apaixonamos! Uma vontade poderosa de fugir, adormecer profunda e longamente, mas sem sonhos.
Sim, porque sonhar faz parte do outro cenário. Sonhar muito, sonhar acordado o dia todo.
Este é o impacto ou o reflexo da paixão. E para passar de um extremo ao outro basta uma reacção da pessoa eleita, que teve o dom de existir e fazer-me apaixonar por ela.
Será que os prós compensam os contras? Nem é questionável... E é por isso que vivo sempre apaixonado por alguém, ou pelo menos, por alguma coisa! Talvez isso se explique o lado sonhador inato e apaixonado inveterado... estou viciado na arte da ilusão de me sentir no meu melhor; de bem com a vida e com tudo e todos; sentir o “natural high” a todo o momento; o charme e o ego no auge... estou viciado e já não sei viver sem isto! É como respirar!
Este é o grande dom do sexo feminino; agradeço-vos só pelo facto de existirem e me transmitirem toda esta motivação para viver: energia positiva sobre a forma de paixão. Reparem que a paixão pode ser inócua: pode começar com o fascínio que por vezes sintimos quando conhecemos alguém, e que inevitavelmente nos faz incorrer num esforço desproporcionado para a conhecer. E neste contexto, é alucinantemente delicioso e sedutor o dia-a-dia. Fica-nos gravado na mente, e para sempre, a eloquência desses dias: as cores, os odores, as músicas, os sorrisos, os carinhos repentinos e momentâneos, a sensualidade e o desafio das trocas de olhares. O jogo da sedução levado ao limite numa ânsia desmesurada de ver quem é o primeiro a cair, só para elevar o patamar do confronto e podermos dar largas às carícias que tanto ambos desejam proporcionar.
Na maioria das paixões que intensamente vivi, a aproximação nem aconteceu, tendo o sentimento pura e simplesmente se esvaído... mas não troco o sufoco desses dias por nada! Foi bom... acabou é um facto; mas ainda bem que existiu... tal como no fim de uma relação, prefiro temporariamente chorar ou mesmo desejar morrer, do que viver no cinzento constante, confortável, previsível, controlado, indolor, inodoro, incolor, seguro... até porque tudo é efémero (e disto não tenham dúvidas!). Mas mesmo depois da paixão ter desaparecido, continuo a nutrir uma enorme admiração por essa pessoa. Se calhar, um eterno agradecimento...
A paixão pelas coisas é importante para que a nossa vida tenha objectivos, para que nos realizemos e empenhemos, desenvolvamos capacidades que de outra forma não seriam estimuladas. Encontro essa paixão na música, nas Artes Marciais, na velocidade, na praia, no ski, no wind-surf, no mar, no sol, na leitura... enfim, coisas que nos tocam de uma forma peculiar, que geram adrenalina, que nos fazem empenhar com unhas e dentes... infelizmente isso não acontece muitas vezes no trabalho... porque será?! Mas não se queira enganar quem encontra na paixão pelas coisas o “substituto ideal”, para a frustração pessoal, face à ausência de paixão e sentimento por outra pessoa (e mesmo amor)... sabem o que quer dizer a palavra “prioridade”?!...
Não espero nada das mulheres por quem me apaixono; pelo menos inicialmente. É claro que algumas vezes essa paixão é mútua e cria condições para um relacionamento. Ainda não descobri a fórmula de transformar essa paixão em amor, que por sua vez tenha a capacidade de ir revitalizando a paixão em diferentes momentos da vida de ambos. É essa a minha ambição e sonho. Acredito que seja algo que só se encontra a dois; mas não um “dois” qualquer... tem de ser aquele “dois”!

Sérgio

P.S.: este texto foi originalmente publicado no CALIMEROSMIX (o melhor blog da blogosfera), e reescrito na presente data.

02 novembro 2005

ELOGIO AO AMOR


Ora aí está um texto que descreve o amor tal como eu o entendo. Sou de extremos: gosto ou não gosto! É ou não é... Lido mal com a média, com o morno, com o cinzento, com o conformismo, com o socialmente aceitável e confortável, e/ou politicamente correcto, só por o ser... aplico ao amor a mesma medida...

Sérgio


"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas.
Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza.
Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro.
Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado.
Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem.
A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.
O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina.
O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber.
O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

Miguel Esteves Cardoso, in Expresso