05 agosto 2008

Conversas Soltas III - 1.ª parte.

Como de uma conversa entre dois amigos, durante um café numa esplanada antes de jantar, se dá uma grande salgalhada... ou apenas se resolve algo que já há muito deveriam ter tido a coragem de enfrentar...

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Lourenço: ...foi bem escolhida a esplanada! Está um final de tarde incrível... para Maio!
Catarina: Sem dúvida! É para veres como eu sei escolher bem o dia para o nosso jantar!
- Sim, ao tempo que andas para jantar comigo... em vez da Primavera, estava a ver que ia ser no Outuno... no Dia de São Nunca! Ou seja, o de todos os santos a torcerem para o jantar acontecer! Eheheh!
- hihihi! Parvo!
- Pois... andas a adiar um jantar comigo... e eu é que sou o parvo!
- Ah... convencido...
- Tinha que ter um defeito!
- Um não... vários!
- Claro! Uma desgraça nunca vem só...
- Bem... o que é que isso interessa?! Não estamos aqui?! Não vamos jantar a seguir?!
- ...se entretanto não te arrependeres...
- ...a não ser faças por isso!
- Claro... por alguma razão, a culpa haveria de vir para à minha porta!
- É pá! Que melga! Agora percebo, porque é que estás sem namorada! Levaste com os pés, não foi?!
- Ehehe! Não... desta vez foi uma opção minha... Mas também não podes falar muito...
- Ei! Não tem nada a ver...
- Claro, nunca tem nada a ver...
- Claro que não! O João foi fazer um douturamento para Dallas e optamos por terminar a relação... foi de mútuo acordo. É a melhor opção para os dois... afinal ele não virá cá frequentemente... e eu também não posso ir lá...
- Isso para mim só prova que vocês não eram assim tão um para o outro como me querias fazer ver...
- Oh! Não há relações perfeitas...
- Nota-se! Eheheh!
- Eheheh!
- E dá-te por cheia de sorte! Se assim não fosse não estarias aqui comigo, provavelmente!
- Pois não... mas poderíamos estar aqui os quatro...
- Sim... mas pouco provável... Para te ser sincero, sinto-me bem melhor assim... tem-me feito bem estar sozinho... acho que me saíu um peso de cima... E tu? Como tens andado?
- ah... o pior já passou... já lá vão 3 meses, também! Mas por acaso, agora precisava mesmo de um “namorado”...
- ahahahah! Explica-te, porque não estou a entender... para dares uma queca não precisas de um namorado!
- É sempre a mesma coisa! Porque é que a conversa tem de sempre aterrar na cama?!
- Porque de outra forma, sobe-nos à cabeça!
- Não será ao contrário?!
- Eheheheh! Também tens razão!
- Ahahaha... Mas não, palerma... Se bem que não passe de uma palermice de menina do liceu...
- Entende-se, vindo de ti... ainda não fizeste 30 anos sequer...
- És mesmo estúpido!
- Puxa! É a 3.ª vez que me insultas em 5 minutos! Fiz-te algum mal?
- Fazes! Estás sempre a gozar comigo e a fazer trocadilhos com o que eu digo...
- Olha quem fala! Quem é que brincou ainda agora com aquela história da cama?
- Não interessa! Foste tu que começaste! E tu?! Não sentes falta da tua namorada? Ou só das quecas?
- Não... não sinto... já te disse... por vezes sinto falta da amiga... mas o mau estar que se estava a gerar em matéria de sentimentos ia acabar por destruir a amizade, portanto, assim é melhor para ambos... Quanto às quecas sou auto-suficiente!
- Convencido! Mr. Sex Simbol, queres ver?! Martini Man, olha?! Deves meter-te com todas... porco...
- Precipitada e palerma! Se eu fosse assim, gostavas da minha companhia? Eras minha amiga? Estarias aqui agora?
- Claro que não...
- Então porque é que dizes essas coisas? Não sabes que ofendes? Que magoas? Fiz-te uma confissão, que nunca fiz a ninguém... o que eu disse é que trato de me “acalmar” em vez de vir para a rua armado em predador! Já devias conhecer-me o suficiente para saberes, que além do mais, sou criterioso com as pessoas com quem partilho a minha intimidade... se calhar porque sou também um tanto tímido... Olha, se queres saber, chateaste-me com esse comentário, portanto, vamos mudar de assunto... O que é que estavas a dizer há um bocado?... Precisavas de um namorado?... Capricho colegial?! Que história é essa?!
- Sabes, tenho umas colegas de curso irritantes... desde a altura da faculdade que querem competir comigo em tudo: nas notas, nos amigos, no desporto, nos hobbies... às vezes parecia perseguição! Houve uma altura que até assediavam um ex-namorado meu... Sempre a olharem... Sempre com cochichos... Não sei se era inveja ou só estupidez... Vou estar a trabalhar 3 dias de apoio a um torneio de ténis; elas vão lá estar... com os namorados... inscritos no torneio... e eu vou estar sozinha... Como vez, é uma estupidez! Como se estivesse em inferioridade... tipo, passados estes anos, elas estão mais realizadas do que eu... uma estupidez de miúdas!
- Acho que te entendo... é daquelas coisas que não fazem sentido, nem entendemos o porquê do que estamos a sentir... mas estamos!
- É mais ao menos isso... basta chegar lá, não lhes dar confiança, falar com as pessoas que conheço e aproveitar ao máximo o fim-de-semana. Vai ser no Hotel do Caramulo! Conheces? Depois da obras ficou fantástico!
- Conheço... Joguei lá um torneio de squash... tem SPA e tudo! Vai ser um bom fim-de-semana de certeza!
- Também, tinhas logo de jogar squash! Não podia ser ténis?! Mania de ser elitista!
- Eu jogo aquilo que me apetecer! E ténis também...
- Eu sei que tu jogas tudo... e volei, e andebol, e futebol, e rugby, e praticas até coisas que eu nunca ouvi falar... Há algum desporto que não faças?!
- Eu estou a falar a sério... eu jogo ténis, a sério! Jogo torneios com alguma regularidade...
- ...e onde queres chegar com isso?
- Gostava de jogar esse torneio!
- Não podes! É promovido por uma empresa farmaceutica e a inscrição é por convite... é oferta...
- Fácil! Tu inscreves-me... sugeres o meu nome.
- Como assim?
- Da mesma forma que as tuas amigas inscreveram os namorados delas...
- Estou em estado de choque!
- Deve ser da fome! Vamos jantar e falamos sobre isso ao jantar.
- Falámos sobre o quê?
- Sobre juntar o útil ao agradável! Anda daí...
- Não posso...
- Anda lá! Estou a ficar esfomeado!...

Catarina atordoada com toda aquela trapalhada, entrou no carro de Lourenço, que havia estacionado mais perto. Para trás ficava o Douro que corria veloz e a luz amarelada que ilumina a Ribeira e as pontes do Porto. O cenário de fim de dia havia sido encantandor... Não menos encantandora havia sido a forma como Lourenço lidava com ela naquele dia... Apesar da trapalhada em que a conversa havia descambado, havia ali algo de entusiasmante que a surpreendia.
Lourenço parecia uma pessoa ligeiramente diferente do que Catarina estava habituada... em simultâneo, reconhecia que nunca lhe havia dado grande atenção... Ele agia, falava e comportava-se de forma muito segura... como se estivesse em casa e com tudo à mão... Conhecia-o mal... Quando o conhecera na clínica onde trabalha e onde Lourenço recorreu para tratamento de uma ruptura muscular, ela tinha sido a fisioterapeuta que lhe calhara... De facto, Lourenço era admirado por todas as colegas e clientes; era bonito, educado e elegante, tinha um sentido de humor seco, mas muito oportuno, e por inúmeras vezes pôs toda a clínica à gargalhada com os comentários mais simples, mantendo sempre o seu ar sério. Era sem dúvida um gentleman... já se tinha apercebido disso quando havia saído com ele por duas vezes para tomar café. Até a forma como conduzia e o carro que conduzia, só podia ser dele... já para não falar no ar rebelde que impunha quando aparecia de moto. Era um homem imponente, uma presença marcante... daquelas pessoas a quem ninguém fica indiferente... para o bem ou para o mal. Infelizmente, nessa altura, Lourenço nutria um “carinho” especial por ela, que crescia de dia para dia. Catarina, ainda amargurada por uma relação mal terminada, não conseguiu lidar com aquela curiosidade crescente de Lourenço em conhece-la mais e melhor... E optou por se afastar, deixar de retribuir as chamadas ou responder aos sms... Algo que não se orgulhava, mas na altura, não conseguia lidar com a situação de outra forma, ou enfrentar Lourenço... Quando os tratamentos acabaram, deixaram de se ver; em simultâneo, Catarina abandonou o ginásio onde Lourenço jogava squash, e onde por coincidência, Catarina praticava Savat. Descobriram-no por coincidência, numa altura em que Lourenço explicava que praticava Viet Vo Dao desde miúdo.
Passaram-se 2 anos sem se verem ou falarem. Entretanto, Lourenço reapareceu na clínica, vítima de uma tendinite na mão direita. De início, fazia um esforço grande por ignorar Catarina e falava com ela o mínimo possível... Esforço que não durou muito; preferia passar por cima do seu orgulho a ser indelicado com alguém... Especialmente com Catarina, que definitivamente o atraía... por muito que ele não se quisesse envolver... outra vez... Entre muitos jogos de palavras e brincadeiras, acabou por assumir que Catarina lhe era muito especial e deu o seu melhor para conseguir que se encontrassem fora da clínica; o encontro ao final da tarde seguido de um jantar fora perfeito. Definitivamente, iria poder privar com ela descontraidamente durante algumas horas.
A viagem até Matosinhos foi curta e a conversa meramente casuística. Chegados ao restaurante, esperavam-nos um lugar de estacionamento à porta (sorte de campeão) e uma mesa reservada por Lourenço... com um ramo de girassois, as flores favoritas de Catarina.

- És sempre a mesma coisa!... deixas-me corada e sem saber o que dizer...
- Agradecer não te ficava mal!
- Pois... desculpa... obrigada! Não queria ser rude...
- Mas foste... e se queres saber, não foi a primeira vez...
- Como assim?
- Quando te envio flores nos anos e te telefono a dar-te os parabéns, não te fica mal sorrir enquanto falas comigo ao telefone. Afinal, nunca te pedi, nem peço, nada em troca... apenas gosto de ser gentil e retriuir bons momentos a quem me faz sentir bem!
- Se estou ao telefone, que te interessa o sorriso?
- Noto-o! Mas tudo bem! Não quero falar disso... o que faço ou deixo de fazer é a meu belo prazer! Se fosse ao contrário, ia gostar... e se não gostasse diria-o. Portanto, depreendo que gostas... mas não reconheces!
- Porque é que me fazes isto?...
- Para te fazer sentir bem... feliz... especial... acarinhada... Mas se não gostas... tudo bem... afinal há gostos para tudo...
- Não é isso... é que...
- Não quero nem saber! Quando não quiseres a minha atenção é só dizeres... eu prometo que desapareço. Já o fiz uma vez e faço-o novamente sem hesitar desta vez. Portanto, fala-me é do torneio! Fiquei interessado de repente!
- Lourenço...
- Catarina, agora o assunto é o torneio!
- Já não posso falar do que quero?
- Depende se eu também quero falar... Já te concedi várias vezes esse privilégio; podes conceder-mo uma vez? Obrigado! Vamos ao torneio; inscreves-me?
- Como é que queres que te inscreva? Como meu namorado?
- Foste tu que o disseste...
- Mas não há outra forma de o fazer... É muito restrito! Como vou estar em trabalho, posso inscrever uma pessoa... mas não um amigo! Terias de ficar comigo no quarto... Porque com todos os outros inscritos é assim. É um fim-de-semana “social”; a divulgação dos produtos farmaceuticos daquela marca utiliza muito esta estratégia das pessoas mais próximas...
- E a ti até te dava jeito ter um namorado para aferroar as tuas amigas...
- És tão parvo!
- Foste tu que disseste!
- Que não ia gostar de estar sozinha! É diferente de aferroar alguém! Isso é o que elas me querem fazer a mim...
- Ok! E então?! Sirvo ou não sirvo para fazer de teu namorado?...
- Ihihihi!... Serves... Claro que serves... Até para bem mais do que isso...
- Prometo que me porto à altura!
- À altura de namorado, ou de acompanhante que faz de namorado?
- De acompanhante que ninguém vai perceber que não é namorado, e que vai ganhar o torneio! Podes sossegar que eu porto-me bem.
- Eu sei que tu te portas bem... Sei que posso confiar em ti... Não sei é como é que me estou a meter nisto?...
- Porque eu te estou a pedir para me inscreveres num torneio que eu quero muito jogar. E até vai ser divertido passar por teu namorado! Um privilégio para mim!
- ...mas não exageres com a encenação em público!
- E em privado?!
- Aí... menos mal! Ahahahahah!
- Ahahahahah!
- Sugiro um brinde... para comemorar este momento crucial! Eheheh! E para te agradecer o fim de tarde, as flores e o magnífico restaurante que escolheste!
- A tudo isso e muito mais! Vamos escolher o jantar?!
- Vamos a isso! O que sugeres?...

O jantar decorreu animado entre histórias e partilha de vivências. Por momentos, ambos esqueceram o mundo, a vida do dia-a-dia e dreambularam entre sonhos, histórias de férias e planos para um futuro próximo. Lourenço estava encantado, pois finalmente tinha a oportunidade de conhecer uma pessoa que tanta curiosidade lhe suscitava. À medida que conhecia Catarina, mais encantado e envolvido se sentia.
Já Catarina teve a surpresa da vida dela. Aquele homem era tudo o que ela nunca tinha visto... e admirava... não dava pelo tempo passar... e tudo o que não queria era que a noite acabasse.
Quase sozinhos no restaurante, era altura de aterrar e acordar para a realidade. O momento em que o empregado trouxe a conta fez a ruptura temporal; já há algum tempo que não havia uma “discussão”, na qual Lourenço de forma pragmática pôs termo ao assunto: pagou o jantar, porque tinha sido ele a convidar, desafiando Catarina a convidá-lo para outro jantar... Nessa altura poderia pagar!
De regresso ao carro, optaram por passar por um bar e beber algo... não conseguiam ir dormir de barriga cheia! No caminho Catarina voltou ao assunto do torneio:

-...sabes que tens direito a 3 treinos com a Sofia Prazeres?!
- Eia!
- Amanhã confirmo as datas e ligo-te!
- Eheh! Vamos divertir-nos à grande!
- E dou-te o contacto para marcares os treinos. Mas atenção às expectativas!
- A minha única expectativa são as tuas massagens no final dos jogos!
- Ahahaha! E se te calhar outra massagista? Ou um massagista?
- Fácil! Não aceito... exijo a minha fisioterapeuta pessoal! Eheheh!
- Eheheh! Ok! Por aí temos acordo!

Já no bar, conversaram mais uma hora sobre amigos, sitios onde costumam passar tempo de lazer, música, livros, filmes e sobre os desportos que gostam de praticar. Lourenço era um expert em música. Já cansados, saíram e até ao carro de Catarina, fizeram contas às poucas horas que iriam dormir... afinal, no dia seguinte era dia de trabalho!

(continua)

Sérgio



7 comentários:

e não viveram felizes para sempre... disse...

a tua história promete...espero que no fim diga "e viveram felizes para sempre".

CARMO disse...

...pois... de facto... posso adiantar que isso fica ao critério da imaginação de cada um! Eheheh!

Anónimo disse...

Carmo, are you smoking strange things again?

Anónimo disse...

É pá! Isto sim! Muito melhor que os livros da Margarida Rebelo Pinto! E da Rita Ferro...
Vês Carmo, mesmo de férias, venho ao teu blog...

CARMO disse...

Sim Amiguinho!

Gisela FFale disse...

a continuação, não vai demorar muito, pois não?!
estou sinceramente a gostar da história, e anseio a continuação...talvez por conhecer bem esse Douro, as Pontes, as Esplanadas ao final da tarde...o cheiro dessa cidade e o caminho para Matosinhos...
(e até a Sofia Prazeres) ;)
:)

Anónimo disse...

Que raio de escrita é esta?! Português?! Até os espanhois escrevem melhor! LOL!