Os dias seguintes sucederam-se entre sms frequentes e algumas conversas curtas ao telefone.
Só se voltaram a encontrar 15 dias depois. Lourenço estava um tanto inquieto... parecia-lhe que Catarina estava a evitá-lo ou a fugir dele... até tinha em mente propor acabar com aquela brincadeira; a pressão de passarem um fim-de-semana juntos estava a afastá-los ao contrário do que seria de esperar... Quando Catarina chegou, com um sorriso pôs-lhe a inscrição em cima da mesa da esplanada.
Só se voltaram a encontrar 15 dias depois. Lourenço estava um tanto inquieto... parecia-lhe que Catarina estava a evitá-lo ou a fugir dele... até tinha em mente propor acabar com aquela brincadeira; a pressão de passarem um fim-de-semana juntos estava a afastá-los ao contrário do que seria de esperar... Quando Catarina chegou, com um sorriso pôs-lhe a inscrição em cima da mesa da esplanada.
- Esta ofereço eu!
- Não posso...
- Posso eu!
- Não acho justo... eu é que vou jogar e divertir-me...
- Não vamos começar já com as nossas discussões; já está e acabou!
- Mas tu vais estar em trabalho e eu é que queria mesmo jogar. Já é um privilégio permitires-me aceder ao torneio e passares o fim-de-semana comigo...
- Então dá-te por feliz e não discutas! Além do mais, também me vou divertir... por estares por perto!
- Espero muito perto...
- Brinca! Brinca com o fogo! Depois ainda te queimas com uma raquete na cabeça!
- Ahahahah!
- Ri-te, ri-te!
- Queria mesmo falar contigo sobre isso...
- ...mas isso o quê?!
- Sobre o fim-de-semana...
- Então...
- Desde que saímos, tenho-te achado fugidía... acho que este fim-de-semana está a pressionar-nos... Naquela noite senti-me muito bem contigo... e não te voltei a sentir tão próxima desde aí...
- Também não voltamos a estar juntos!
- Também por isso... sempre que falámos parece que estavas a evitar-me...
- Lourenço... eu trabalho mesmo muito... a minha situação profissional ainda é um tanto precária... por isso aproveito tudo o que surge... não te estive propriamente a evitar ou fugir...
- Mas também não te esforças-te por te aproximares...
- Lourenço... aquela noite foi especial... senti-me muito próxima de ti... precisei de avaliar isso... também!
- E?!
- E... não está aí a inscrição?!
- Sim, até está... e não devia...
- Não vamos começar... para ajudar às despesas, vamos no teu carro!
- Eheheh! Não te importas de chegar despenteada ao pé das tuas amigas?!
- Vamos sem capota até ao Caramulo?!
- E estás com sorte que não é Vale do Lobo!
- Alternativas?!
- Podemos ir de moto!
- Esquece! Vamos no bólide olhudo descapotável... – o tom foi irónico em relação aos faróis escamoteáveism que segundo Catarina, tornam impossível fazer manobras quando estão levantados.
- Mas não te estiques na bagagem... a mala é pequena!
- Ainda por cima...
- E eu tenho de levar muita roupa! Ehehhe!
- Bem... importante é marcares os treinos depressa. De hoje a oito temos de sair a meio da tarde para o Caramulo. Vais ter o primeiro jogo às 19h00 de sexta-feira.
- Tranquila! Vai correr bem... E hoje, que fazemos?! Muito ocupada?!
- Não... livre...
- Gostava de ver um filme...
- E que filme?!
- Surpresa...
- Assim é complicado...
- Não digas que não confias em mim para escolher um filme, e confias para dormir contigo?!
- Fala baixo palerma...
- Eheheh!
- Diz lá que filme é?!
- Um dia de surf!
- Oh!
- In To The Wild.
- Que filme é esse?!
- Vais gostar!
Com um sorriso de desespero, Catarina puxou Lourenço da cadeira, movimento que este aproveitou para a abraçar sob o pretexto de cair.
Entre sorrisos e pequenas sapatadas de Catarina lá foram até ao Centro Comercial Cidade do Porto, visto lá ser o único sítio onde o filme era exibido. Jantaram rapidamente. O filme foi impressionantemente comovente... de facto, o mundo está cheio de herois que nascem e morrem anónimos, enquanto o mundo idolatra aqueles que fazem sempre a mesma coisa... ou o que se espera deles.
No caminho até ao carro de Catarina, ainda embalados pelo filme e pela soberba banda sonora composta por Eddie Vedder dos Pearl Jam, ambos divagavam sobre a vida, o mundo e o que os outros esperam de nós. Catarina era uma pessoa muito interessante na forma como entendia a nossa “missão” no mundo. Daquelas pessoas que são difíceis de conhecer, mas que quando conseguimos quebrar o vidro de protecção, são capazes de nos brindar com um ser muito mais completo do que se imagina num primeiro contacto. E se Lourenço já a achava muito interessante, mais envolvido ficava dia após dia.
Durante o fim-de-semana não se viram... e durante a semana, Lourenço telefonava para por Catarina ao corrente dos treinos. Lourenço falava das evoluções e Catarina avisava-o dos cuidados que deveria ter com o relaxamento e extiramento muscular. Catarina parecia agora especialmente saudosa, e até num dos telefonemas, relembrou um beijo que Lourenço lhe dera na mão, em pretexto de brincadeira... Lourenço reconheceu que também sentia saudades da companhia de Catarina, e que havia se sentido muito bem por ter a mão de Catarina entre as suas durante o filme. Nesse momento, Catarina “travou” a fundo novamente e desculpa-se com o precisar de desligar... Enfim, é preciso ter cá uma paciência, pensou Lourenço... Quem espera, desespera e é bem verdade!
Finalmente sexta-feira, 15 horas, Lourenço chega à porta de casa de Catarina. O tempo primaveril convida mesmo a um passeio de capota aberta. Lourenço não conseguia esconder alguma ansiedade sobre as próximas horas. Catarina trazia um sorriso de quem vai de férias. Bagagem esmagada para caber na curta mala do automóvel, portas fechadas, cintos de segurança, música, 1,2,3, partida!
O som grave do motor servia de fundo aos Divine Comedy, que embalaram a viagem, especialmente, depois de sair da A1 e entrar no IP5. Até ao Caramulo, o cheiro a férias estava presente e toda a boa disposição estava patente naqueles dois. O sindroma de aventura e de total desconhecido que pairava sobre aquele fim-de-semana e estimulava um ambiente de boa disposição, ajudado pelo encanto da paisagem, cada vez maior, à medida que o destino se aproximava.
Chegados ao Hotel do Caramulo e estacionado o carro no parque do hotel, o silêncio abateu-se sobre os dois aventureiros...
- Como é que se abre a mala?
- Deixa estar que eu levo o teu saco.
- Não. Abre que eu levo. Não precisas de ir carregado...
- Não custa nada... além do mais tens de ser tu a tratar do check-up.
- Check-up?! Hihihihi!
- Check-in!
- Ok, vou tratando… ihihihihi!
Já no hall do hotel, Lourenço entra com os sacos e encontra Catarina com as chaves e uns papeis na mão, acompanhada por duas amigas.
- Olá!
- Lourenço, estas são as minhas colegas, Joana e Mariana.
- Olá! – cumprimentou a Joana com um sorriso simpático.
- Tudo bem?! – sorriu a Mariana.
- Vocês deviam ter chegado mais cedo... o João e o Gonçalo já estão a aquecer para a eliminatória às 19h00... – comentava a Joana, mostrando alguma pena por não termos chegado tão cedo quanto eles.
- Pois... talvez! Como vim sozinho, não pensei nisso... aqueço a bater umas bolas contra a parede uma meia hora antes... deve chegar!
- Sozinho, não... Vieste comigo!
- Ehehe! Sim, mas não conheço nenhum dos adverdários para aquecer antes do jogo.
- Nesse caso, vamos ao quarto para te equipares e descemos já.
- Sim, porque também tens de estar connosco às 19h00 no SPA, Catarina – dizia Mariana.
Já no elevador, Lourenço comentava que as colegas da Catarina eram muito simpáticas, ao que esta reagiu com um soco na barriga de Lourenço em jeito de aviso: não sejas demasiado simpático com elas... e ambos se riram!
Chegados ao quarto, Catarina entrou primeiro e incrédula:
- ...não acredito! Calhou-nos uma cama de casal!
- Ahahaha!
- De que te ris, palerma?!
- Hihihihi! Eu não durmo no chão! Ahahah! Nem na banheira! Ahahaha!
- Raios... vou ter de ir à recepção pedir outro quarto...
- Ahahahahahahaha!
- De que é que te estás a rir?
- Ehehehehe! E que desculpa vais dar para querer outro quarto?! Ehehehhehehe! Que não queres dormir com o teu namorado?! Ahahahahahah!
- Que engraçadinho...
- Ahahahahahaha! Não aguento mais... ahahahahahah!
- É mesmo um anormal! Hihihi! Fica aí a rir-te que eu vou à recepção... não preciso dizer nada... apenas que quero outro quarto!
- Ahahahaha! Ok! Ahahahah! Eu vou-me equipando! Hihihihii...
Passados alguns minutos, Catarina regressa com vontade de se rir...
- Então?! Trocamos de quarto ou não?! Eheheh!
- Palerma... praga tua!
- Eheheh! Não há mais quartos?! Eheh!
- Não sei... A Mariana e a Joana estão na recepção e não posso falar com o empregado à frente delas, não é?!
- Eheheheheheheh!
- És mesmo palerma...
- Ahahahaha!
- Estou com uma vontade de te bater... hihi!
Enquanto Lourenço ria descontroladamente e agarrado á barriga, Catarina saltou para cima dele, dando-lhe pequenos socos e fazendo-lhe cócegas, até Lourenço cair da cama abaixo.
- Ai!... hihihihihi! Já vou começar o torneio lesionado... hihihihii!
- Agora é que estamos bem! – respirava, aliviada, com a cama toda para ela.
Entre pequenas gargalhadas descontroladas, Lourenço subiu para cima da cama de novo e deitou-se ao lado de Catarina.
- Vês, mesmo atravessada na cama, cabemos bem aqui os dois... não há stress... vamos dormir bem os dois!
- Eheh! Isto complica-se a todo o momento...
- Porque?
- Esquece! Obrigado por teres vindo... dá-me um abraço!
- Dou-te todos os que tu quiseres! Eu é que agradeço o convite... – e agarrou Catarina dando-lhe um abraço enorme e puxando-a para cima de si.
- Nunca te tinha abraçado... és muito maior do que eu imaginava... pareces tão elegante, mas quase não te consigo abraçar...
- Vês... é só coisas boas!
- Por acaso até é! Gosto do teu abraço... e de me deitar em cima do teu peito...
- Também gosto de te abraçar...
- ...bem, vamo-nos deixar de brincadeiras. Já estás equipado e temos de descer! – e com isto levantou-se repentinamente, ao que Lourenço respondeu puxando-lhe um braço, o que a fez aterrar novamente na cama de barriga para cima. Lourenço rebolou por cima dela entre um abraço e um beijinho na testa.
- Vamos lá! – Lourenço já estava de pé, enquanto Catarina ainda estava meia abananada com aquele movimento tão rápido...
Desceram no elevador e atravessaram a recepção em direcção aos campos de ténis. Foram interceptados pelas colegas de Catarina, que os acompanharam:
- Vocês os dois vêm com um sorriso... – comentava Mariana com um ar malicioso!
- E só fomos 10 minutos ao quarto! – respondeu Lourenço.
- Lourenço! – respondeu Catarina corada e com as habituais sapatadas nas costas de Lourenço, perante as gargalhadas escancaradas das outras duas.
- Onde é o guichet de inscrições? Tenho que ver com quem jogo e conhecer as pessoas.
- É mesmo ali perto do court. – respondeu prestavelmente Mariana. – Vais jogar com o Gonçalo.
- Com esse sorriso, depreendo que o Gonçalo é o teu namorado?
- É! Começamos o torneio logo em família!
- Sim! E ainda bem... independentemente do resultado de hoje, podemos sempre recuperar amanhã e estar presentes nas meia-finais, no Domingo de manhã. Hoje é só para ordenar o quadro.
- Aí sim... pensava que podiam ficar eliminados já hoje...
- Um derrota ainda dá... duas, difícil. Mesmo assim, há que ter cuidado com os parciais...
- O João diz que não chega a Domingo... nunca jogou grande coisa, mas gosta de participar. – comentava Joana.
- Não quer dizer nada... às vezes quem joga menos, tem mais calma... e consegue ser mais regular. E isso, faz uma grande diferença no ténis...
Chegados ao court, o jogo de Lourenço e Gonçalo era mesmo o 1.º do torneio. Jogo de abertura! Uau! Conhecendo os dois adversários, percebia-se que Gonçalo tinha um ar um tanto de galo emproado. Já João, bem mais humilde e afável. Lourenço comentava com Catarina, que por vezes, a tensão pré-competitiva deixava as pessoas um tanto mais tensas e antipáticas... mas que depois, ao jantar, iríamos ter oportunidade de conhecer melhor todos. Catarina dizia que tinha tudo a ver com a Mariana... que era também um tanto intratável... com a mania que é boa!
- ...honestamente, Catarina, até agora foi simpática. E lá boa é!
Claro que isto custou-lhe mais uma sapatada e um amuo de Catarina. Estava-se a ver a picardia ali bem patente entre as duas.
Num breefing rápido entre todos os participantes, houve oportunidade de conhecer toda a organização, assim como os vários jogadores, as fisioterapeutas, e as equipas de arbitragem, constituídas pelos quadros da empresa patrocinadora.
Ficaram também apresentadas as regras do torneio. As eliminatórias eram à melhor de 3, as meias-finais e finais à melhor de 5. Portanto, as marcações dos jogos eram espaçadas de uma hora na sexta e sábado, enquanto no Domingo de duas. Horário muito apertado, fazendo-se prever atrasos óbvios. Ficou também esclarecido que o dia de sexta apenas inclui 4 jogadores, visto funcionar como pré-eliminatória para ordenar os novatos no ranking. Lourenço e Gonçalo estavam incluídos, enquanto João não, visto já ter jogado no ano anterior. A equipa de fisioterapeutas poderia assistir aos jogos se assim entendesse; só precisava de estar no SPA com marcações, ou intervenções de recurso.
Lourenço tinha meia hora para aquecer e entrar em campo. Um tanto ansioso, bateu algumas bolas contra a parede, mas quando percebeu que já estava demasiado transpirado parou; fez alguns estiramentos e entrou no court, onde Gonçalo o aguardava.
19h00 em ponto, começa o jogo com Gonçalo a servir. O 1.º set demonstrou um nível interessante por parte de ambos os jogadores, sem grande falhas de ambos. No entanto, Lourenço não conseguia fazer um break a Gonçalo, acabado por perder em tie-break, por 7-5.
O 2.º set foi mais fácil, conseguindo Lourenço vencer por 6-4.
No entanto, um volte de face no jogo, e apesar do 3.º set ter sido absolutamente espectacular, com jogadas de alto recorte técnico de ambos os jogadores, Gonçalo impôs um ritmo mais forte e venceu justamente. Foi mais forte em campo, mais rápido e tal como o seu adversário, praticamente não falhou.
A abertura do torneio não podia ter sido melhor para a organização, que comentava abundantemente “...este ano isto promete!!”. Aliás, durante o jogo, havia-se criado um ambiente de grande emotividade à volta do corte.
Lourenço cumprimentou e aplaudiu o seu adversário. De facto, nada mais podia ter feito. Tinha jogado o seu melhor ténis de sempre; até se tinha surpreendido a ele mesmo... mas não havia sido suficiente! Havia que ter esperança de o dia seguinte correr melhor para conseguir, pelo menos, ir à semi-final de Domingo.
Já fora do court re-encontrou Catarina, que o saudou com um beijinho.
- ...deixa lá. Não fiques triste... jogaste lindamente e surpreendeste todos ao teres aplaudido o Gonçalo durante o jogo.
- Na verdade não estava triste... até me ter lembrado que o Gonçalo é namorado da Mariana e que tu não ias ficar contente com a minha derrota, teu suposto namorado, face ao namorado da tua “amiga”...
- ...oh! Então... se fosse ao contrário, até acredito que a Mariana estivesse amuada a esta hora! Agora eu estou surpreendida contigo... um Senhor em campo! Um gentleman... nem discute com o árbitro nem nada!
- Eheheh! Eu confesso que vejo mal... não posso discutir se é dentro ou fora! Ehehe! Não vejo...
- Hihihi! Anda daí... ofereço-te uma massagem para amanhã estares novo!
- Eia! Disto é que eu gosto! – é claro que estes excessos de animação custavam-lhe sempre uma sapatada carinhosa...
Depois de uma massagem de relaxamento surpreendente, especialmente nas costas e pescoço, Lourenço rejuvenescido foi para o quarto tomar banho. Aproveitou ainda para descançar na varanda do quarto, perante uma paisagem tranquila, enquanto Catarina esperava pelo final do 2.º jogo para poder, também ela, vir ao quarto preparar-se para o jantar.
Quando chegou ao quarto, encontrou já Lourenço pronto no seu habitual ar elegante, atlético e descontraído.
- Como agradecimento da massagem excepcional, fui buscar uma flor para ti!
- Eia! Obrigado!
- E então?! Pronta para o jantar?! Estou a ficar com fome...
- Nem pensar! Preciso de um banho... portanto, o senhor, rua! Vá tomar uma bebidita ao bar enquanto espera por mim!
- Não acredito... expulso do próprio quarto, pela própria namorada, porque ela quer tomar banho! A tradição já não é o que era...
- ... mas já agora... e qual era a tradição?!
- Num primeiro fim-de-semana juntos, a namorada aproveitava todos os momentos que tinha para saltar para cima do namorado...
- Vais ver como a tua raquete salta em direcção à tua cabeça!
Catarina salta por cima da cama de raquete em punho, enquanto Lourenço foge pelo quarto fora à gargalhada.
Já no bar, Catarina surge por trás de Lourenço que conversava com mais dois participantes do torneio e comentavam, que havia um grande gap entre o nível do 1.º e do 2.º jogo das pré-eliminatórias. Tapou-lhe os olhos, ao que ele respondeu:
- Ehehe! Denunciada pelo perfume!
- Bolas...
- Também... quem é que me poderia fazer uma coisa destas... não conheço mais ninguém!
Riram os 4 e Catarina sentou-se ao lado de Lourenço. Continuaram a falar dos jogos e do que havia ocorrido noutros anos. Catarina, com a sua simpatia habitual, imediatamente cativou aqueles dois jogadores, que afirmaram quererem experimentar os seus tratos! Lourenço avisou que era um tanto dolorosos, mas sem dúvida eficazes... E tive direito a mais uma sapatada da praxe! Um daqueles participantes, Augusto, já havia ganho um dos anos e este ano mostrava-se em excelente forma. Queria, sem dúvida, repetir o feito.
Entretanto, outras pessoas foram chegando, até que se levantaram e dirigiram-se à sala de jantar.
- Malandreco! Estás em competição! Que história é essa de beber gin tónico?!
- Eheheh! Eu posso beber alcool... desde que pouco. Até me descontrai... Tu é que não...
- Porque não?!
- Por causa da tua medicação...
- Que medicação?!
- Os teus calmantes.
- Calmantes?!
- Sim! Presumo que a tua calma aparente, por contra-posição à euforia inebriante de há pouco, se deva a algum fármaco, quem sabe oriundo do patrocinador, para te acalmares!
- Hihihihi! Não tens emenda!
- Eu sei que ansiedade de dormires comigo dá cabo de ti!
- Parvo! Pelo menos fala baixo... ihihihi!
- Eheheh!
O jantar foi agradável. Com oportunidade de conhecer mais pessoas, de comentar vários aspectos do hotel e dos jogos. Já no final do jantar, a voz da organização apresentou-se, agradeceu a presença dos participantes e elogiou os primeiros jogos como bastante competitivos. Na altura de saudar os primeiros vencedores, Lourenço levantou-se da mesa e em passos decididos foi ao encontro de Gonçalo, para lhe levantar a mão, ao melhor estilo boxer. Aplausos gerais para todos. A organização desejou a continuação de uma boa estadia e convidou todos os participantes a dirigirem-se ao bar, para café e digestivos, algo que Catarina se apressou a avisar Lourenço:
- Nem penses!
- Não digas que não posso tomar um cafézito?!
- Claro que sim. Mas copos nada!
- Uau! Tenho uma namorada, fisioterapeuta e agora também treinadora, a dormir no meu quarto!
- Não tens emenda mesmo... eheh!
- Vá lá... Descontrai! Estamos aqui para nos divertirmos.
- Sem dúvida!
- Até te quero ver a mandar-me para a cama cedinho!
- Hihihihihi! És mesmo terrível! Mas vou fazê-lo!
- Que bom!
- Mas é para dormires... cedo! Já viste que jogas de manhã?
- Sim, mas só às 11 horas.
- Como convem que durmas no mínimo 8, já não tens muito tempo... contando com a digestão é claro...
- Aceleramos a digestão com um digestivo!
- Batoteiro!
- É só uma forma de ganhar tempo...
- Para que queres ganhar tempo?
- Para ter mais tempo para ti... a dois.
- Ahahah! Quando formos para o quarto é para dormir!
- Nem um bocadinho de conversa?!
- Conversamos cá em baixo!
- Sobre nós os dois... precisamos de alguma privacidade...
- Não sei para quê!
- Sabes, sabes... e muito bem! Não te faças de sonsa!
- Sonsa?! Eheheh! Não sou seguramente!
- Então... assume!
- Assumo o quê?!
- Que também queres conversar comigo com a devida privacidade...
Entretanto são interrompidos por Mariana:
- Então?! Estão a gostar?! – com um tom histérico a condizer.
- Até ao momento de tudo... mesmo de ter perdido com o teu namorado!
- Eheheh! Não acredito... – intervinha Gonçalo entretanto chegado também.
- Pelo menos perdi com alguém com quem podia apreender alguma coisa!
- Bem... na verdade, cometemos pouquíssimos erros...
- Sem dúvida. E se tivesse falhado bastante, estava aqui que ninguém me aturava!
- Não duvido! – acrecentou Catarina. – Do pouco que te conheço...
- Do pouco que te conheço?... – Mariana estava baralhada. Lourenço solta uma gargalhada escancarada, que acabou por salvar a situação, até porque Gonçalo o acompanhou.
- Eh... No que diz respeito a competições, é a primeira vez que acompanho o Lourenço. Normalmente estou a trabalhar ao Sábado.
- ... mas afinal há quanto tempo é que vocês estão juntos? – Mariana continuava sismática.
- 2 meses! – respondeu Lourenço repentinamente - ...faz dia 15! Já lá vão 2 meses! – Catarina estava calada e corada.
- Pois... porque não tinha ouvido falar de ti... ainda! Só hoje! Não sabia que a Catarina tinha namorado. Sabia que já não estavas com o Pedro há algum tempo...
- Também não nos temos encontrado muito...
A conversa continuou casual e depois com outras pessoas a cruzarem-se. Num primeiro instante em que ficaram a sós, olharam um para o outro e desataram à gargalhada os dois. Já tinha passada mais de uma hora, mas aquela gargalhada estava ali encravada...
Perante tal alarido, Joana e João aproximaram-se deles. A Joana comentava com o João, que já era a segunda vez hoje, que os encontrava perdidos de riso:
- Bem, acho que não é do alcool então! Não me parece que tenham vindo a conduzir “animados”!
- Seguramente que não! – Lourenço chorava já de tanto rir.
- E quase não bebo... – perante esta afirmação de Catarina, Lourenço começou a rir ainda mais, contagiando os dois recém-chegados.
Com Joana a relação de Catarina era bem diferente da de Mariana. Não havia chispas nem picardias passadas. Por seu lado, Joana era uma pessoa bem mais simples e honesta. A verdade é que Mariana era um tanto falsa e espalhafatosa. Durante a noite, de facto reconhecia Lourenço, parecia pavonear-se com o seu namorado, exibindo-o a todos os presentes com grandes abraços, e com o ego muito em cima, até pela vitória do namorado. Gonçalo entrava bem naquele jogo; aquela sensação de ser desejado agradáva-lhe. Por seu turno, João era bem mais recatado e até um pouco tímido. Preferia os ambientes mais sossegados e evitava as multidões, muita gente ao mesmo tempo a falar, sem se conseguir ter uma conversa “completa” com ninguém.
Ficaram na conversa os quatro algum tempo, se bem que por vezes, uma ou outra pessoa se juntava a eles.
Era já meia-noite e Joana sugeriu que se fossem deitar. Afinal, João tinha o primeiro jogo às 9h00... E convinha que ganhasse! Espantosamente Catarina disse o mesmo... entre-abrindo a boca, para depois se aperceber que tinha acabado de dar um tiro nos pés! Lourenço só jogava às 11h00, pelo que poderia ter minimizado o tempo no quarto. No entanto, ela também tinha de estar pronta às 9h00, caso houvesse alguma necessidade de tratamento a fazer. Subindo no elevador, Lourenço desejou boa sorte a João e prometeu-lhe assistir ao jogo dele; como também não conhecia os adversários, convinha-lhe saber como jogavam.
Uma vez dentro do quarto, Lourenço já com vontade de rir, perguntou:
- Diga-me, excelência... para onde quer que vá agora até se deitar? Posso sugerir a varanda? Sempre fumo um cigarrito antes de dormir...
- Estás a brincar?!
- Em relação à varanda ou ao cigarro?! Claro que não vou fumar... bem me apeteceu a seguir ao jantar... Mas estamos em estágio! E já bastou o álcool!
- Mas olha que a ideia da varanda até foi boa!
- Muito bem! Chama-me quando estiveres deitada... e não te esqueças de apagar a luz! Não vá eu ver alguma coisa que nunca tenha visto... além do mais, eu sou como os morcegos! Vejo no escuro!
- Só me faltava agora um vampiro! – gritou Catarina da casa-de-banho.
- Aliás, esqueci-me de algo muito importante...
- Preservativos queres ver?!
- Não... mas obrigado por me ilucidares quanto às tuas intenções... ehehe!
- Palerma!
- Bem... até nem mereces o que te vou dizer, dado o último elogio da noite... mas vou-te dizer na mesma...
- Ora diz lá! - A voz de Catarina estava mais próxima; já teria saído da casa-de-banho pensava Lourenço, que continuava a apanhar ar fresco e admirar a paisagem nocturna, com poucas luzes e ao longe.
- Estavas incrivelmente bonita hoje! Ficas mesmo bem com aquele vestido...
- Obrigado! – a voz voltou a soar mais abafada.
- De livre vontade...
- Sempre tão engraçado! Mas também tenho a dizer uma coisa... – a voz estava muito próxima. Lourenço olhou para dentro do quarto e Catarina aproximava-se da varanda. - Também estavas muito elegante! Gostei de te ver e de estar ao teu lado. E reparei como certas pessoas olhavam para ti...
- Quem?
- Não interessa... – Catarina, dentro de uma camisa de noite branca e justa, tinha um ar incrivelmente sensual. – Vai-te lá arranjar para te deitares!
- Uau! É a segunda vez em menos de uma hora que me mandas para a cama!
- E se não te portares bem, mando-te uma segunda vez também para a varanda!
- Eheheh! Terrível!
Lourenço pegou nas suas coisas e foi para a casa de banho. Quando voltou, a luz estava mesmo apagada.
- Estás com medo de me ver nú?!
- Presumo que durmas de pijama... além do mais, era para perceber se vias mesmo no escuro.
- Wrong! Durmo só de boxers... tenho muito calor. – De facto, Lourenço parecia mexer-se muito bem sem luz.
- Não acredito... nem por dormires comigo vestes alguma coisa!
- Porque haveria? Devemos sempre mostrarmo-nos como somos...
- No teu caso, levaste isso à letra...
- Pelo menos tenho os boxers vestidos... se dormisse sozinho, nem isso!
- Inacreditável...
- Posso deitar-me?!
- Sim... bem nessa pontinha...
- Ok! Está bem assim?!
- Lindamente! Agora é preciso que te mantenhas aí até o despertador tocar.
- Não digas que puseste o despertador para as 6 da manhã?
- Porque faria isso?...
- Para poderes estar comigo antes do pequeno-almoço!
- És mesmo um palhaço! E convencido! Ihihihi!
- Não seria nada de anormal entre dois namorados...
- Ai sim?! E o que mais seria normal entre dois namorados?! – Catarina havia-se aproximado de Lourenço.
- Dares-me um beijinho de boa noite e adormeceres agarrada a mim...
E foi exactamente o que Catarina fez. Aproximou-se mais dele, abraçou-o e puxou-o mais para o meio da cama, deu-lhe um beijo profundo na cara, voltou a abraça-lo, aconchegando-se a ele. Adormeceram os dois abraçados, rapida e profundamente.
(continua)
Sérgio
5 comentários:
Uma leitura divertida e refrescante para o meu final de dia...
Estranho que algumas personagens me pareçam familiares!! Mas enfim...
Excelente!!
"Devemos sempre mostrarmo-nos como somos..." uma excelente conversa, que de "solta" parece que tem pouco ou nada...um desfecho aguardado, que espero surpreendente...
http://www.youtube.com/watch?v=cnY9ea_q3nI
Finalmente um coment teu... Tens lá a resposta!
Loved it!!!
Bem.. até eu fico à espera do desfecho! Refrescante, sim!
Um excelente dia! : )
Enviar um comentário