26 julho 2008

Quinta da Fonte.

Quando há duas semanas ouvi as notícias sobre os episódios insólitos ocorridos em Loures, outras tantas coisas me ocorreram quanto às causas que levariam a toda aquela onda de violência, selvajaria e vandalismo.
Para vos dizer a verdade, achei que estava a complicar e fiquei calado... nem comentei com ninguém... não fosse estar a ser injusto e elitista ou demagôgo nas minhas conclusões.
Eis que esta semana, um amigo envia-me um email com um excelente artigo de um jornalista da minha maior simpatia e admiração: Mário Crespo. Leiam e comentem... se forem capazes...

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"Limpeza étnica

O homem, jovem, movimentava-se num desespero agitado entre um grupo de mulheres vestidas de negro que ululavam lamentos. "Perdi tudo!" "O que é que perdeu?" perguntou-lhe um repórter. "Entraram-me em casa, espatifaram tudo. Levaram o plasma, o DVD a aparelhagem..."
Esta foi uma das esclarecedoras declarações dos auto desalojados da Quinta da Fonte. A imagem do absurdo em que a assistência social se tornou em Portugal fica clara quando é complementada com as informações do presidente da Câmara de Loures: uma elevadíssima percentagem da população do bairro recebe rendimento de inserção social e paga "quatro ou cinco euros de renda mensal" pelas habitações camarárias.
Dias depois, noutra reportagem outro jovem adulto mostrava a sua casa vandalizada, apontando a sala de onde tinham levado a TV e os DVD. A seguir, transtornadíssimo, ia ao que tinha sido o quarto dos filhos dizendo que "até a TV e a playstation das crianças" lhe tinham roubado.
Neste país, tão cheio de dificuldades para quem tem rendimentos declarados, dinheiro público não pode continuar a ser desviado para sustentar predadores profissionais dos fundos constituídos em boa fé para atender a situações excepcionais de carência. A culpa não é só de quem usufrui desses dinheiros. A principal responsabilidade destes desvios cai sobre os oportunismos políticos que à custa destas bizarras benesses, compraram votos de Norte a Sul. É inexplicável num país de economias domésticas esfrangalhadas por uma Euribor com freio nos dentes que há famílias que pagam "quatro ou cinco Euros de renda" à câmara de Loures e no fim do mês recebem o rendimento social de inserção que, se habilmente requerido por um grupo familiar de cinco ou seis pessoas, atinge quantias muito acima do ordenado mínimo. É inaceitável que estes beneficiários de tudo e mais alguma coisa ainda querem que os seus T2 e T3 a "quatro ou cinco euros mensais" lhes sejam dados em zonas "onde não haja pretos". Não é o sistema em Portugal que marginaliza comunidades. O sistema é que se tem vindo a alhear da realidade e da decência e agora é confrontado por elas em plena rua com manifestações de índole intoleravelmente racista e saraivadas de balas de grande calibre disparadas com impunidade. O país inteiro viu uma dezena de homens armados a fazer fogo na via pública. Não foram detidos embora sejam facilmente identificáveis. Pelo contrário. Do silêncio cúmplice do grupo de marginais sai eloquente uma mensagem de ameaça de contorno criminoso - "ou nos dão uma zona etnicamente limpa ou matamos." A resposta do Estado veio numa patética distribuição de flores a cabecilhas de gangs de traficantes e auto denominados representantes comunitários, entre os sorrisos da resignação embaraçada dos responsáveis autárquicos e do governo civil. Cá fora, no terreno, o único elemento que ainda nos separa da barbárie e da anarquia mantém na Quinta da Fonte uma guarda de 24 horas por dia com metralhadoras e coletes à prova de bala. Provavelmente, enquanto arriscam a vida neste parque temático de incongruências socio-políticas, os defensores do que nos resta de ordem pensam que ganham menos que um desses agregados familiares de profissionais da extorsão e que o ordenado da PSP deste mês de Julho se vai ressentir outra vez da subida da Euribor. "

Já tinham visto as coisas nesta perspectiva? É o que dá terem pena dos coitadinhos em vez de ajudarem quem faz por merecer!

Sérgio

3 comentários:

Gisela FFale disse...

boa noite, realmente difícil de comentar!
quando se deram estes vergonhoso incidentes, eu não estava em Portugal, e confesso que no dia que regressei e ouvi na TV, não valorizei...achei apenas que seria mais fogo de vista...depois o desenvolvimento das noticias, continuava incrédula ao tempo e atenção dispensada a isto, quer viver ali, vive, não quer, temos pena…anda aqui uma pessoa a trabalhar, a pagar impostos e casa e juros…para esta gente andar a recusar viver em determinados sítios!
só ontem vi algumas imagens, e fiquei estupefacta…uma “guerra” à luz do dia, num bairro, onde se espera integração social, por um grupo de marginais, que deviam ser todos realojados era em Caxias e de preferência todos na mesma “habitação”!!!
O Sr. Mário Crespo é realmente um jornalista notável!

Anónimo disse...

são realmente uma incongruência estas situações. acredita que cada vez sou mais imune a estas coisas, cada vez mais faço por ser. anda mais de meio País a sustentar uma outra metade que vontade de trabalhar tem muito pouco...quem se sente marginalizada no meio disto tudo sou eu que não tenho plasma :)

Trouble disse...

Dos 50.000 cidadãos de etnia cigana, 30.000 recebem o rendimento de inserção social...

in Expresso desta semana