04 novembro 2009

António Sérgio


Faleceu este fim-de-semana com 59 anos, vítima de problemas cardíacos, o meu locutor de rádio favorito.

Dono de uma voz grave e cavernosa, foi desde sempre o símbolo sonoro dos sons novos e inovadores. Os seus programas tinham uma linha muito própria, e durante anos, apresentou ao país aquilo que poucos teriam capacidade de conhecer por si próprios: música de qualidade inquestionável fora dos catálogos comerciais dos media.

Programas como "O Vapor da Meia-Noite", "O Som da Frente" ou "A Hora do Lobo" são apenas os mais mediáticos das rádios com maiores audiências. Para trás ficam outras rádios como a XFM, e mais recentemente, a RADAR FM.

A apresentação de "Masters of War" dos "The Long Ryders" terá sido a sua última gravação... no derradeiro "SOS RADAR".

No seu funeral estiveram presentes mais de 200 pessoas e a comunicação social está cheia de declarações de homenagem à sua imensa qualidade, quer como locutor, como à sua capacidade de discenir qualidade musical e originalidade na imensa oferta de novos sons que o mercado musical cada vez mais oferece. De Rodrigo Leão aos Xutos e Pontapés, ninguem foi indiferente.

António Sérgio foi daquelas pessoas, que sem nunca o ter conhecido, marcou-me. Dele apenas conhecia a voz e o seu inesgotável conhecimento musical (além do bom gosto!). Só conheci a cara deste homem por fotografia, depois do seu falecimento. Agora que já não está entre nós... sinto a sua falta...

Recordo um dos momentos mais incriveis que me proporcionou. Depois de um dia de trabalho longo em Lisboa, fui jantar com um amigo. Devo ter iniciado o regresso ao Porto depois das 23h. Cansado de uma semana fora de casa com muitos quilómetros percorridos e dos cds que várias vezes ouvira, esperei que fosse meia-noite para passar para a Rádio Comercial. Na A1 chuvia impiedosamente ao ponto de quando passava os 140 kms/h, o carro entrava em aquaplaning. A "Hora do Lobo" começou com uns sons estranhos... melancólicos e pesados... uma voz misteriosa e melodiosa completava uma sonoridade abstrata, com uma componente arrepiante, e em simultâneo, tranquilizadora. Havia algo de electrónico naquele som... mas ao mesmo tempo, a simplicidade e suavidade profunda de um eco vindo das montanhas repletas de neve da Aústria... Este cenário inóspito terminou com a voz carismática de António Sérgio a apresentar uma banca de nome GoldFrapp. Jamais esquecerei...

Onde quer que estejas agora, nunca aqui serás esquecido...

Sérgio

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