É uma das mais originais interpretações de Nneka, a nigeriana que nos brindou ontem com um dos melhores concertos que alguma vez assisti.
Já não entrava na sala do Cinema Batalha desde miúdo... há 30 anos?!... O local continua sinistro, mas tem uma acústica excelente. E esta é a parte importante... porque o concerto foi intenso, vibrante, com ritmo, soul e muita personalidade.
A voz de Nneka tem o poder de nos fazer vibrar por dentro. Acompanhada por uma excelente banda, levou os ritmos e sons ao limite da interpretação e feeling de cada um dos músicos. Uma voz forte que sai de uma alma carinhosa e meiga, e que exterioriza com facilidade a forma como sente a música, a vida, as injustiças do mundo, mas também a arte... a melodia, o ritmo, o balanço, a dança tipicamente africana esvai-lhe do sangue para a alma e novamente para o corpo. Dali saiem ritmos e melodias com influência africana, letras cantadas em inglês, reagge no ritmo e na guitarra, jazz nas percursões e até rock nas teclas e no baixo. A alma é nigeriana, a forma é universal... o resultado indescritível!
Fica a vontade de a rever, de comprar tudo o que está editado e a saudade do que sentimos ao ouvir aquela música intensa... rodeada por um ambiente de fumo a que já não estou habituado (fumava-se dentro da sala do Batalha!) e por cheiros intensos de perfurmes doces e suor. A atmosfera é dificil de descrever... não sei se estava mesmo muito calor, ou se foi esta intensidade brutal do que ali se expressou através da voz, da música e da dança, que me fez transpirar o concerto todo... toda gente dançava ainda que inconscientemente. Sim, porque aquele som entra-nos no corpo... e este reage fora do controlo da nossa mente...
BRUTAL!
Um registo totalmente diferente leva o meu imaginário para o concerto no fantástico Centro Cultural Vila Flor (onde curiosamente Nneka actua hoje!), onde no passado dia 14 assisti (pela segunda vez!) a uma actuação dos deslumbrantes Casino Royal.
Esta banda da Figueira da Foz expoe-nos num tom quase gélido a sons que mais parecem sair da banda sonora de um filme de 007, parecendo que por momentos temos James Bond ao nosso lado a acender um cigarro... Digo parecer, porque a música destes Portugueses está ao nível de qualquer uma destas bandas sonoras... e quanto a Bond Girls, seguramente as vi por lá (quer no Porto, no Palácio de Cristal onde os vi pela primeira vez, quer agora em Guimarães).
Outro cenário possível para onde esta música sensacional nos leva, são os anúncios da Martini. O Viva da Vita está bem presente pelo charme e envolvência, quer da voz poderosa da Marisa, quer pela elegãncia, distinção e excelência com que todos os instrumentos são tocados.
O som oriundo da Figueira da Foz parece ter uma paralelo com a Riviera francesa dos anos 50 e 60 (vá-se lá avaliar os reflexos da obra de Santana Lopes!). Pelo menos a inspiração está lá, embora os oceanos sejam distintos (e os ventos também!).
É claramente um som com pedigree, com emblemática e misticismo de quem sabe viver a vida, e de quem sabe apreciar as boas coisas a que podemos aceder.
Toda esta envolvência nos toca... a altivez do tom dá-lhe um toque de inacessibilidade, que parece criar uma distancia entre nós e aqueles que saboreiam esta atmosfera... quando afinal, também a sentimos da mesma forma. Ou seja, tornámo-nos parte da elite que sabe o que quer e que se empenha para viver bem... saboreando cocktails, vestindo roupas elegantes, olhando em volta com determinação e confiança... saboreando a realização pessoal e o sucesso... com sonhos... com glamour... com cor!
Sérgio
Sem comentários:
Enviar um comentário