21 outubro 2008

Uma Lição de Morte...

Há pessoas realmente incríveis! Mas este certamente bate bastantes records na capacidade de nos surpreender...

O nosso paradigma sobre a morte e a doença é naturalmente depressivo e triste. Naturalmente digo eu... porque é um paradigma aceite... Mas porque é que há-de ser assim?! Porque não gozar a vida até ao último minuto com o máximo de qualidade e alegria? Não é isso que fazemos noutras situações em que algo vai acabar?! Aproveitamos até ao fim... deliciámo-nos até ao fim... porque tudo é uma dádiva capaz de nos fazer felizes se soubermos aproveita-la.

Se este Homem é capaz de fazer isto com os dias contados, imaginem o que não faria se tivesse uma saúde normal como a nossa... Somos, de facto, uns grandes sortudos!

Este fim-de-semana terminei um livro inédito (aconselhado pela nossa amiga Trouble): "A Inutilidade do Sofrimento" de Maria Jesús Álava Reyes. De um momento para o outro, associei a este video que vi também no Sábado (obrigado Lover pelo email). De facto, que me adianta sofrer por antecipação quando prevejo que algo mau me irá acontecer? Em que é que isso contribui para a minha felicidade, qualidade de vida ou possibilidade de melhorar o meu estado actual?! Nada! Absolutamente nada! E ainda por cima, grande parte destas situações que nos levam a sofrer por antecipação, acabam por não acontecer, o que faz com que sejamos, acima de tudo, uns grandes palermas.

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Este livro faz-nos ver coisas fantásticas no nosso dia-a-dia, nomeadamente, a forma perfeitamente idiota com que olhamos para determinados acontecimentos e fazemos tudo para que consigamos ser cada dia mais infelizes; e cada vez mais, desperdicemos as fantásticas oportunidades que a vida nos oferece diariamente.

Acima de tudo, porque havemos de nos amesquinhar quando uma dificuldade nos surge? E lamentamo-nos que não temos sorte... E arranjamos 30 culpados para tudo aquilo... E daí?! Resolve alguma coisa?! Aumenta a nossa felicidade?! Resolve os nossos problemas?! Nada! Novamente, nada! Só nos faz sentir pior e gastar energias e tempo útil que poderíamos usar em nosso benefício. Mas nós somos insistentes! E continuamos dia após dia a fazer a mesma coisa; a não aprender nada, e a não usufruir nada do que podemos aprender e aproveitar do nosso dia-a-dia. Lembram-se da letra do "Chuva Dissolvente" dos Xutos e Pontapés? É por aí!

A vida tem de ser vista como uma forma de melhorar dia-a-dia as nossas capacidades e características pessoais, e desta forma, sermos mais felizes, porque melhor gerimos as dificuldades e melhor aproveitamos as oportunidades que temos. O contrário é irracional: não aprender, não melhorar, não gerir melhor a algo que nos acontece pela segunda vez.

O ser humano tem esta capacidade. E se repararmos bem, os ditos animais irracionais também a têm. Mas nós, que somos superiores, dámo-nos à preguiça de não nos esforçarmos... porque vivemos numa civilização evoluída e que nos dá condições de bem-estar mínimo aceitáveis. Os nossos antepassados não tiveram essa possibilidade... por isso, a civilização evoluíu até ao estado de elevado desenvolvimento actual.

Para ter esta atitude não é preciso ser sobredotado; apenas força de vontade de ser feliz... de que o dia de amanhã seja mais fácil do que o de hoje, porque amanhã estaremos mais preparados do que estávamos hoje: "Experience is what you get, when you didn't get what you wanted to get".

Possivelmente esta atitude medíocre, mesquinha e tacanha do ser humano, mais comum na Europa, que na América, deve-se muito à nossa socialização e educação. De facto, algumas religiões levam à anulação da personalidade do indivíduo, pela submissão (o fantasma da Idade Média continua bem presente após seis séculos de História). A nossa educação assenta muito mais na repreensão dos nossos erros, do que no reconhecimento e motivação perante as nossas vitórias e sucessos. Há falta de empreendedorismo nas nossas almas!

E se pensarmos bem na nossa formação e na quantidade massiva de conhecimentos com que massacramos os nossos neurónios (muitos deles rapidamente ultrapassados e outros que nunca nos serão úteis), mais uma vez verificamos o efeito de standardização das nossas formas de ser. Na verdade, ninguém nos ensina a sermos felizes e a rir! Na verdade, ninguém nos ensina a gerir as nossas emoções e sentimentos. A inteligência emocional parece passar ao lado dos programas currículares, que absorvemos durante um quarto ou mais nas nossas vidas.

Há que ter presente, que o que sentimos não é reflexo do que nos acontece. Já pensaram nisso?! Reparem que apesar do efeito standardizador referido, reagimos de forma diferente uns dos outros, perante as mesmas situações e acontecimentos... Então, o que realmente influi no que sentimos?! São os nossos pensamentos! Esses sim, são capazes de gerar emoções, condicionando o nosso estado emocional. Façam um teste: pensem num conjunto de coisas que vos são especialmente agradáveis, tipo, as últimas férias! Fixem-se só nessas recordações durante uns instantes... Naturalmente, sentiram-se bem! Façam agora o contrário: pensem em algo realmente desagrádável... e já estão a sentir-se infelizes, azarados, pequenos e impotentes perante o mundo. Afinal, decorrente do que estamos a pensar, podemos sentir-nos bem ou mal.

Mais do que isso: podemos controlar os nossos pensamentos! Acabamos de o fazer! Portanto, sempre que algo de mal me ocorrer, tenho de bloquear esses pensamentos e pensar em algo que me enalteça, para a seguir conseguir gerir a dificuldade que vou ter de superar. Obriguem o vosso cérebro a fazer aquilo que vocês querem, porque ele não distingue um bom pensamento de um mau... O nosso cérebro foge da dor em direcção ao prazer, nem que para isso nos ponha a cometer deslealdades para connosco, como fugir, mentir ou outras coisas mais graves. Temos de ser nós a controlá-lo. Consegue-se com treino. Comecem por coisas simples: quando estão a beber água, bebam até ao fim do copo; quando estão a ler um livro chato, leiam até ao fim; quando estão a fazer uma tarefa doméstica e querem ir ver televisão, primeiro acabem a tarefa doméstica. Aos poucos, o vosso cérebro deixará de aceitar a incongroência de fugirmos aos desafios e de desistir daquilo que nos oferece resistência. Estaremos a alargar a nossa área de conforto a novos domínios, onde não nos sentíamos confortáveis... por desconhecimento! Por falta de arrojo em alcançar novas metas.

E o mais fantástico disto tudo: é que quando nos sentimos bem, tudo o que fazemos nos sai bem e sem esforço! Conseguimos bom desempenho e motivação! Por vezes trabalhamos horas a fio em coisas para as quais estamos altamente motivados. Terminamos orgulhosos, felizes e o cansaço? Nem vê-lo! Mas com frequência, temos alguns fretes para fazer... demoramos muito tempo... não ficam especialmente bem feitos... e terminamos injustificavelmente exaustos! Porquê?! O que custa não é fazer as coisas... o que custa é fazê-las sem empenho.

E ainda mais um bónus: quando estamos felizes, quando nos sentimos bem e temos um bom desempenho, esta atitude contagia e cria grande admiração naqueles que connosco se cruzam. O que por sua vez, facilita o nosso desempenho! É um ciclo vicioso que nunca mais pára!

Para terminar, digo-vos que o fim do livro é comovente... Mas nada mais direi, porque não há nada como recorrer ao original! Se querem ser melhores pessoas e viverem mais felizes, façam alguma coisa por vocês mesmos, porque caso contrário, ninguém fará! Os nossos sonhos só dependem de nós... ninguém pode sonhar e concretizar esses sonhos por nós. Caso contrário, deixariam de ser sonhos e em nada contribuiriam para a nossa felicidade!

Sérgio

2 comentários:

Gisela FFale disse...

Excelente post!

Quanto ao vídeo, que me parece das coisas boas que se pode partilhar com algumas pessoas, a vida do Prof. já cessou...apesar de admirar muito toda a postura, dele como de outros, que como ele aceitaram a sua finitude, e encararam o "tempo que restava" não como o caminho para um fim, mas acima de tudo mais uma oportunidade de partilhar a vida na vida e em vida e aproveitar ainda para dar mais uma lição, talvez a mais importante de sempre; não acredito muito honestamente, que esta seja a atitude quando a "notícia" é dada, não acredito que estejamos preparados para a nossa finitude...acredito sim, que toda a estrutura de apoio que este homem teve da família, amigos e muito provavelmente da Equipa Médica que o acompanhou lhe tenham "facilitado" a atitude, que deve ser reconhecida como tendo sido a sua escolha, porque claro que poderia ter escolhido outro caminho...e hoje, não ouvíamos falar dele!;)
o que infelizmente, não acontece na maior parte dos casos, um apoio da parte dos médicos, para uma melhor qualidade de vida enquanto “dura”, infelizmente, muitos doentes terminais é-lhes passado o atestado de óbito muito antes...infelizmente, a muitos doentes terminais, nem lhes é dito que o são, e vão levando a vida numa esperança de experiências…e o "egoísmo" da família, não condenável, mas que não deixa de o ser...a maior parte das vezes até de forma inconsciente, não queremos perder quem amamos, custe o que custar...o que não pensamos, é que não é a nós que o maior sofrimento é infligido...acredito que acaba por ser acima de tudo uma questão cultural, que poderá (e deverá) ser mudada...creio que nessa perspectiva é que é importante a partilha de “momentos” como este, mas não esperemos um milagre…eu faço parte das pessoas que acreditam que as pessoas importantes das nossas vidas nunca morrem, mudam apenas de estado…mas reconheço que o caminho é longo para se chegar ao ponto de “ajudar” a partir para um viagem sem tempo, nem espaço…mas é um passo!;)

Quanto ao livro, está há um ano e qualquer coisa na mesinha de cabeceira e vai sendo lido…mas a curiosidade aumentou;)

E sim, a vida pode e deveria ser vivida na intensidade do que nos acontece de bom…e tornar o “mau” num aprendizado para um amanhã melhor…afinal, “pre-ocupar”, para quê? nem sabemos se vai dar para isso..;)


Sérgio, desculpa o testamento;) B. B.

MTOCAS disse...

A Trouble deu boa dica, anda numa fase mt boa :-)