O despertador tocou às 8 da manhã, por inacreditável que tal parecesse a Lourenço... Catarina que já havia acordado, comentou que lhe estava a saber bem aquela preguiça, pelo que decidiu calar o despertador e aguardar que ele tocasse novamente 10 minutos depois.
Quando Lourenço conseguiu abrir os olhos, depois de alguns minutos a descolar remelas, apercebeu-se que Catarina tinha dormido praticamente em cima dele, apesar de ele ter adormecido de barriga para cima e acordado ao contrário...
- Custa-me sempre tanto acordar... – comentou.
- Descansa um bocadinho mais... está tão boa esta preguiça...
- Bem preciso de acordar devagarinho, senão fico com um humor de cão...
- Já somos dois... acordo sempre revoltada por ter de acordar... mas passa-me logo...
- És mais ou menos como eu...
- O pequeno almoço e o banho também ajudam...
- Mas hoje já estou bem disposto!
- Dormias profundamente até agora... deves estar cansado.
- Um tanto... ontem foi um dia de muitas emoções... algumas ansiedades!... mas dormi tranquilo e estou mesmo descansado... e bem disposto!
- ...também dormi muito bem...
- E... ias dizer qualquer coisa mais!
- Não ia nada...
- Ias, ias...
- ...pois! Confesso que gostei de dormir contigo... e soube-me mesmo bem acordar agarrada a ti.
- Queres dizer em cima de mim?!
- Pronto! Tinhas de estragar tudo!
- Estou a brincar... só estás um bocadinho em cima de mim... a cabeça... um braço... meio tronco... uma perna!
- Ehehe! Tens uma pele macia... mas para que não fiques já convencido pela manhã, deixa-me dizer-te que és um tanto duro!
- Se fizeres questão disso, posso engordar uns 10 quilos e já devo ficar mais balofo...
- Hihihi! Não obrigado... gosto mais assim!
- Também gostei muito adormecer, dormir, acordar contigo...
- Bem... como o menino está em competição, vou dar-lhe um privilégio: levantou-me eu primeiro!
- Eheheh! Que bom!!!
Catarina tomou um duche e mal saiu da casa-de-banho, enrolada numa toalha, pôs Lourenço fora da cama.
- Levanta-te preguiçoso!
- Estou espantado... – bocejava Lourenço enquanto se levantava lentamente – não me puseste na varanda!
- Como te portaste bem durante a noite, dou-te a intimidade de te cruzares comigo de toalha e cabelo molhado. Agora, já chega, casa-de-banho! Duche frio dorminhoco! Eheheh! – enquanto isso, batia-lhe com a toalha que tirara do cabelo.
- Frio... ainda por cima! Eheheh! És mesmo sádica!
- Deficiencia profissional! Hihihihihi!
Lourenço tomou um banho rápido e equipou-se directamente. Desceram os dois no elevador e dirigiram-se à sala de pequeno-almoço. Comentavam os dois que estavam esfomeados, mas que não o podiam demonstrar, caso contrário ganhariam a fama de terem passado por uma noite de sexo intenso, o que não era verdade. Lourenço recusava ter essa fama... sem o proveito! Caso contrário, poderia ser raptado pelas amigas de Catarina... Catarina perdida de riso é novamente interpelada por Mariana, que de imediato comenta:
- Vocês estão sempre à gargalhada... bom dia!
- Lourenço, está na altura de fazeres aquele comentário... – respondia engasgada Catarina, tendo voltado os dois a perderem-se em gargalhadas.
Lourenço ainda tentou cumprimentar Mariana, mas acabou por desistir. Tomaram os dois pequeno-almoço, passaram novamente pelo quarto e dirigiram-se para o court de ténis, onde os jogadores começavam a bater as primeiras bolas para aquecimento.
Catarina e Lourenço sentaram-se a assistir. O jogo foi interessante, mas João ganhou com facilidade (6-4, 6-4). O adversário tinha um bom serviço, mas era um tanto irregular; João, mostrando grande tranquilidade, foi contruíndo o seu jogo e manteve uma margem de conforto de início ao fim do jogo.
- Parabéns João! Muito bem jogado! Muito inteligente e bem construído o resultado! – congratulava-o Lourenço.
- E grande estilo de pancada! – comentava Gonçalo, entretanto chegado e ainda com cara de sono.
- Boa João! Ainda bem que já arrumou com este... é nosso convidado, mas é da concorrência! – todos se riram do comentário de um dos organizadores, e inclusivamente o jogador derrotado.
- Lourenço, já viste que vais jogar contra um dos candidatos ao título, o Augusto? – perguntava Gonçalo.
- Já! Parece que estou com sorte no sorteio... primeiro tu, agora o Hulk Augusto! – lamentava sorrindo Lourenço.
- Mas ele ganha desta vez, de certeza! Não tenho qualquer dúvida. – afirmava Catarina.
- Estás muito segura de mim, Catarina! – Lourenço espantado.
- Tratei-te bem, por isso, não há adversário que te pare!
- Também sinto isso... mas vindo de ti... estou banzado! Eheheh...
O horário dos jogos estava a ser cumprido e já outra dupla de adversários estava em campo a bater as primeiras bolas. Lourenço ficou por momentos sozinho, visto que Catarina havia sido solicitada no SPA para uma massagem de relaxamento ao derrotado elemento da “concorrência”, em simultâneo com Joana, que premiava João com alguns mimos...
Este jogo opunha dois ex-vencedores do torneio noutros anos. Curiosamente, o nível não pareceu muito elevado, quer a Lourenço, quer a Gonçalo. Quando Catarina regressou, encontrou-os com Mariana. Sentou-se ao lado de Mariana e começaram a conversar sobre as clínicas e as condições de trabalho, por comparação com o SPA. Rapidamente a conversa derivou para o reflexo do esforço muscular nos jogadores de ténis, especialmente logo após um jogo e a reincidência noutro, poucas horas depois. Trocaram impressões sobre como tratar os namorados logo a seguir aos jogos. Gonçalo jogava a seguir a Lourenço e tinham intervalos entre jogos de 4 horas.
Por momentos a “alergia” existente entre Catarina e Mariana parecia ter desaparecido... Catarina mostrava-se afável e Mariana mais terra-a-terra, como se descontraísse de algo. Talvez o bom relacionamento entre Lourenço e Gonçalo a isso levasse. Logo a seguir chegou Joana, que trazia o namorado com um ar totalmente relaxado. Lourenço aproveitou logo para o picar:
- Afinal, estava a contar contigo para aquecer antes de jogar e tu estás mais para dormir uma soneca do que outra coisa...
- Crava o Gonçalo! Afinal, ele joga a seguir a ti!
- Nem penses... se ele aquece comigo, ainda perde o jogo e diz que o culpado sou eu, que o cansei muito no aquecimento!
- Ou ao contrário... lesionas-te comigo e serve-te de desculpa para perderes com o vencedor do ano passado...
- Esse é o Augusto! – respondia Gonçalo – e cabe-te a ti eliminá-lo! Nem quero imaginar a cara do Augusto... derrotado e fora do torneio na 1.ª eliminatória!
- E não pode ser repescado? – perguntou Lourenço.
- Não... é puro “bota-fora”, ou “mata-mata”, como o Scolari diz! Eheheh! Só podes perder nas pré-eliminatórias, porque na verdade só servem para te posicionar no quadro de jogo.
- Boa! – sorria Lourenço, com ar de quem ia “jogar para matar”.
O jogo decorria empatado 1-1 em sets. Ambos os jogadores começavam a demonstrar algum cansaço. Estes 3 casais faziam algum esforço para não perturbarem a concentração dos jogadores; as piadas eram frequentes... Gonçalo e Mariana mostrava-me bem mais próximos e sinceros que no dia anterior.
Chegou a hora do tão esperado jogo. Lourenço levantou-se e os outros 5 fizeram questão de mostrar que estavam a torcer por ele. Claro que o beijinho da Catarina era tudo para Lourenço... Este entrou em campo descontraidíssimo e logo no aquecimento com Augusto, mostrou um excelente supless. Batia na bola com grande descontração, o que levou a algum espanto por parte de Augusto.
O jogo começou com o serviço para Lourenço e este não se fez rogado ao abrir o jogo com um às, para espanto de tudo e todos, e alguma raiva instalada em Augusto. Neste ritmo, o 1.º jogo terminou com apenas um ponto de Augusto e o 1.º set rapidamente chegou a 6-2 para Lourenço. Sem dúvida que a preparação para o Torneio com a Sofia Prazeres havia sido importante. As pancadas estavam mais abertas, com mais efeito e mais consistentes. O próprio Lourenço se surpreendia por vezes com alguns passing shots de direita e top spins de esquerda a duas mãos. No 2.º jogo, Augusto tentou equilibrar a partida que esteve ranhida até ao 4-4; depois Lourenço, com um break de serviço, conseguiu fechar em 6-4. Augusto estava incrédulo... havia sido eliminado na 1.ª ronda por um rookie, e pela primeira vez, não chegava ao 2.º dia de prova... Lourenço, tranquilamente, tentou explicar que teve muita sorte e que tudo lhe saíu bem desde o início. Augusto abandonou o court revoltado e sem se despedir do adversário... O silêncio era constrangedor... A organização pediu aos jogadores seguintes que entrassem em campo para iniciar o jogo seguinte, até porque já passava um quarto de hora do meio-dia, altura em que Gonçalo deveria iniciar o seu jogo.
O adversário era imponente fisicamente... não queria dizer nada... Lourenço apressou-se a desejar boa sorte a Gonçalo. Não ia ver uma parte do jogo, pois ia ter um miminho em forma de massagem e tomar um duche rápido.
- Joga rápido e ataca com alternâncias de jogo. Ele é demasiado pesado para jogar ténis!
Riram-se os dois e Lourenço foi directo ao duche, trocou de roupa, e mal chegou ao SPA, Catarina saltou-lhe para o colo com um grande abraço.
- Parabéns! Que grande jogo! Puxa... demolidor! Houve alturas que o Augusto até estava tonto... nem sabia por onde tinha passado a bola!
- É! Correu mesmo bem... Vamos pensar no próximo, agora!
- E a pensar nisso... vou dar-te muitos miminhos agora! Vais relaxar um bocadinho...
A massagem começou com um abraço enorme a Lourenço e alguns beijinhos nas costas... Entre suspiros de Lourenço, Catarina massajou-lhe lentamente os ombros e o pescoço, passando posteriormente para os braços, e terminando nas costas. Lourenço, quase a dormir ainda pediu um prolongamento, mas sem sucesso...
- Vamos ver como está o jogo do Gonçalo para depois almoçarmos... anda lá! – e deu-lhe um beijinho na face, afastando-se depois para lavar as mãos.
Chegados ao court, Gonçalo estava empatado 1-1 em sets. Mariana dizia que ele havia ganho o 1.º set folgado e que no 2.º entrou um tanto desconcentrado. A leitura de Mariana estava correcta, porque Gonçalo fechou o 3.º set de forma desconcertante: 6-1! Brilhante! Sempre muito aguerrido a atacar na rede e em passing shots bem jogados, pondo o adversário em contra-pé.
No fim do jogo houve tempo para congratulações. Até o adversário, no seu ar sisudo e corpolento entrou na brincadeira daquele grupo bastante animado.
- Pronto, agora já chega! Vai lá tomar um duche, para vires almoçar connosco. – comentava João.
- E a massagem? – apontava Catarina para Mariana.
- Vai ter de ficar para depois de almoço... – lamentava Mariana - ... se ele estiver tão esfomeado quanto eu, não há massagem que o segure!
Dirigiram-se todos para a esplanada onde o almoço volante estava a ser servido, excepto Gonçalo, que re-apareceu ainda de cabelo molhado 10 minutos depois.
O fim-de-semana corria da melhor forma. O tempo estava excelente e até havia vontade de dar um mergulho na piscina. A água é que parecia um tanto fria...
Do almoço aos courts foi um ápice. A 1.ª ronda já havia terminado e tudo estava a postos para a segunda ronda do dia. Eram já 18 horas... o torneio estava atrasado uma hora face ao previsto... isto implicava que Lourenço e Gonçalo começassem a jogar depois da 9 e 10 da noite... se não houvesse mais atrasos, ou seja, jogos disputados para lá de uma hora. Só que havia grande probabilidade de isso acontecer...
A organização comentava, que para o ano, se tivessem tantos interessados como este ano, iriam alargar a mais um dia de prova este evento: mais jogos, mais jogadores, mais terapetas, mais convivio.
João voltava a ser o primeiro a entrar em campo e tinha pela frente o vencedor de há 2 anos. O jogo foi bastante interessante. João conseguiu vencer o 2.º e 3.º set fruto de grande consistência no jogo. E se no 1.º havia perdido 3-6, passou por um 2.º set muito difícil, que só ultrapassou em tie break, beneficiando do nervosismo do adversário no 3.º set, que lhe permitiu um confortável 6-4. Como prémio, teve direito aos bons tratos de Joana em formato prolongado... mas antes, Gonçalo e Lourenço agarraram-no e atiram-no ao ar como congratulação. Havia que comemorar! Era um dos semi-finalistas de Domingo!
O jogo seguinte foi muito disputado. Três sets jogados ao limite e a terminarem em tie break. O nível de jogo era agora mais elevado. Consequentemente, quando Lourenço entrou em campo passava já das nove e meia da noite... Antes disso, o ambiente mantinha-se divertido...
- Ouve, vais entrar em campo, vais ganhar o jogo depressinha, porque isto está muito atrasado... É que eu não quero começar a jogar às 11 da noite! Aliás, vou ter de ir comer qualquer coisa, que estou cheio de fome! – brincava Gonçalo.
- E tu achas que eu já não fui assaltar o buffet do jantar?! – respondia Lourenço.
- Não... ele vai atrasar o jogo ao máximo, para o teu terminar tarde e amanhã estares cansado! – Catarina espicassava Gonçalo.
- Não é justo! – Gonçalo incrédulo...
- Não te preocupes, amor, recupero-te durante a noite! – Mariana intervinha em jeito de piada.
- Prometo fair play! – despediu-se Lourenço e foi para o court.
- Não esperava de ti outra coisa... – respondeu ainda Gonçalo, gesticulando a Lourenço, como quem diz que ia tratar do estômago.
Na verdade o jogo não foi fácil. Lourenço ganhou o 1.º set com muita dificuldade para fechar em 6-4. Perdeu o 2.º set 4-6, e o derradeiro set foi mesmo a 7-5, que estranhamente fechou com dois jogos muito curtos. Terão sido os jogos mais fáceis do set, visto que o adversário aparentemente ter caído muito em frescura física.
À saída do court e ao cruzar-se com Gonçalo ainda trocaram algumas impressões.
- Grande jogo! Jogaram mesmo muito... impressionante!
- Olha, eu bem queria terminar o jogo mais cedo... já são onze e um quarto... parece que te cabe a ti ser o demolidor e recuperar o atraso do torneio!
- Nem que seja, porque senão ainda fico sem jantar! Ehhehe!
- Tranquilo... Guardo-te umas munições e uma garrafa de tinto! Além do mais, vais jogar com o adversário mais fraco da 2.ª ronda... lembraste do jogo da manhã, a seguir ao do João?
- Sim lembro... não foi grande coisa, não...
- Então já sabes! Tens meia hora para jogar 2 sets!
- É louco! Ehehe!
Despediram-se, e logo a seguir, Catarina esperava por Lourenço com um sorriso do tamanho do mundo, acompanhada de Mariana e Joana. Deu-lhe um abraço enorme, mesmo apertado!
- Parabéns!!! – gritaram as 3 terapeutas trajadas a rigor.
- Vai tomar um banhito rápido, que eu quero ver esse ombro... – dizia Mariana.
- Não Mariana, eu vejo isso, fica a ver o Gonçalo. – comentava Catarina.
- Vamos lá as 3 num instante, e depois ficas tu a tratar dele. – interveio Joana.
- Meninas! Calma... está tudo bem! Há muitos anos que sou assim... volta e meia, resolve estalar um nadinha... Não é nada.
- Pois, mas eu vi-te várias vezes a levar a mão ao ombro... vamos ver isso! Banho rápido! Vá lá!
Quando Lourenço regressou, já Gonçalo ia no 2.º set.
- Incrível! Ele está imparável!
- Está sempre a jogar na rede e tem ganho muitos jogos mesmo a zero! – Mariana comentava enquanto já agarrava Lourenço por um braço e as outras duas o empurravam para o SPA.
Depois de ter levado alguns esticões e ter sido bem amassado e torcido pelas 3 terapeutas, concluíram que, de facto, não havia sinais para alarme, deixando Catarina a tratar do seu namorado. Mariana voltou logo a seguir, mas já acompanhada de Gonçalo...
- Não foi meia hora, mas foram 40 minutos! Eheh!
- Parabéns! Estás imparável! – aplaudiu Lourenço.
- Vou tomar um banho ao quarto e regresso já, já!
- Até já!
- Campeões merecem bons tratos! Portanto, prepara-te!
Este último grito de guerra de Mariana, significava que se ia juntar a Catarina para massajar Lourenço. Catarina, se inicialmente, não reagiu muito bem, acabou por concordar com a utilidade da ideia. Terminava a massagem mais depressa de Lourenço; a seguir, as duas tratavam também o Gonçalo, o que lhes permitia passarem pelo quarto, também elas tomarem um duche rápido e irem jantar os quatro.
Já ao jantar, ainda que ligeiro dado o adiantar da hora, Lourenço e Gonçalo davam o seu melhor para conseguirem que os empregados do hotel lhes servissem uns petiscos extra-buffet.
- Bem, parece que o convenceste! – comentava Gonçalo com Lourenço.
- Foi fácil! O homem é simpático. Resta saber se o cozinheiro também é e nos prepara aquela espetada de caça deliciosa de ontem!
- Se não vais ter entrar mesmo na cozinha para falar com ele.
- Hoje consigo tudo! O meu charme natural está exponenciado pelo gel de mentol que estas duas nos puseram!
- Eheheh!
- És mesmo palerma! Só não levas outro cacete, para não estragar o trabalho que tivemos com o teu ombro. – estas palavras de Catarina eram ditas num tom sedutor de Catarina enquanto se aproximava de Lourenço.
- Pois é! O que tu não sabes, Gonçalo, é que podes ter tido duas massagistas mais tempo do que eu... mas eu tive 3 no inicio da massagem! Ehehhe!
- Contenta-te com isso, porque vai ser a única coisa que me vais ganhar! Ehehhe!
- “Não ignore uma ciência que à partida desconhece”!!! Carmo Sunday Power!
- Isso tem nome de chocolate!
- Logo é bom! – intervem Mariana.
- Ele acha que ao Domingo tem melhor desempenho, só porque costuma jogar futebol ao Domingo de manhã. – comenta com ar descrente Catarina.
- Pois, mas a final é à tarde! – acrescentou Gonçalo.
- Lá isso é! Mas eu tenho como adversário alguém, teoricamente pelo menos, mais fácil do que tu... ehehe!
- Pois é Gonçalo! É que quem vai estar na final sou eu! Não passas por mim de manhã... nem penses! – João juntava-se ao grupo, já de chávena de café na mão. – E a primeira vantagem que tenho, é que já vou à frente no jantar! Eheh!
- Hihihihi! Quando eramos miúdas é que fazíamos corridas para ver quem acabava primeiro. – ria-se Joana.
- Então conta lá, que tal massajar o Lourenço?! – Gonçalo tentava corar Joana.
- É pá, está calado que até a mim, me deixas constrangido... isto de ser massajado pelas namoradas dos meus amigos não dá pica... deviam ser inteiramente desconhecidas!
- Eheheh! Tens toda a razão! Isto de ter a tua namorada a massajar-me as costas, não está com nada!
- Olha que tu levas?! – Catarina ameaçava Gonçalo de faca na mão. – Ou vais dizer que não gostaste?! Hihihih! Ok, não digas à frente da Mariana! Hihihi!
- Ahahahah! – entre as gargalhadas de todos, Joana intervem – E tu Lourenço, quem é que te massajou melhor o ombro de nós as três?!
- Massagem?! Aquilo foi tortura! Estica, aperta, torce... estava a ver que a certa altura iam buscar as agulhas da Catarina e fazer de mim boneco vodu!
- Ahahahaha! É tão palerma!!! Curei-te ou não com as agulhas?!
- Catarina... até curaste... mas agradável não é!
- Pois é Mariana, mas estás tão calada... não gostaste de massajar o Lourenço?! Ahahahah!
- É mesmo do piorio... Joaninha, devo dizer-te que só tive a honra de massajar o lado direito. Agora que ele tem umas pernas impressionantes, tem!!! Hihihih!
- Ahahah! Acredito... eu ainda tive esperança que a Catarina me pedisse para a ajudar, mas ela preferiu ficar sozinha... eheheheh!
- Isto é um bando de gente depravada... – comenta João. – estão aqui a levar a asta pública se a namorada de um gostou de massajar as pernas do namorado da outra... e se esse namorado gostou mais das massagens da namorada dele ou da do amigo... isto está tudo perdido! – e nesse instante tirou o copo de vinho à namorada e pediu ao empregado – ...por favor, não traga mais vinho para aqui... coca-cola, sumo de laranja, ou mesmo água, está bem?! – o empregado sorriu e até corou entre as bem sonoras gargalhadas daquela mesa.
O jantar continuou enfórico e Lourenço resolveu não deixar cair a conversa, instaurando um processo de interrogatório sobre as massagens nos possantes braços de Gonçalo. O tom jurídico e irónico, no qual João servia de escrivão, interrompendo para pequenos comentários e esclarecimentos, sempre irónicos, levou à continuação de um jantar em que muito se riu e pouco se comeu ou bebeu... o que até foi adequado dada a hora... já passava da uma da manhã e a 1.ª meia-final que opunha João a Gonçalo estava marcada para as 11.
Depois de um passeio à volta do hotel, todos recolheram aos quartos. Os três jogadores estavam nitidamente cansados... dois jogos num dia só são mais que suficientes para que a casa dos 30 se faça sentir. Apesar de não o reconhecerem, culpabilizaram o vinho do Dão pela moleza instaurada.
Quando chegaram aos quarto, Lourenço, bem humorado, perguntou:
- E agora, tenho de ir para a varanda?...
- Hihi... vai para onde quiseres, mas para já, desaperta-me o vestido nas costas... estou cansada para me torcer e encontrar os botões...
Ainda que espantado, Lourenço dirigiu-se até ela, que com um olhar malandro lhe virou costas para este lhe desabotoar os vestido.
- E já está!
- Obrigado... agora podes optar entre o quarto e a varanda! Porque eu vou ocupar a casa-de-banho! Hihihi! – e rapidamente o fez, entre saltinhos e risos, já descalça.
Quando Catarina apareceu já pronta para se meter na cama, reparou que Lourenço estava na varanda.
- Hihihi... não acredito que estás aí fora!
- Sabes como é! O hábito faz o monge... está mais fresquinho aqui fora!
Mesmo em camisa de noite, Catarina veio até à varanda e abraçou Lourenço pelas costas.
- Não sei se está! Hihihihi! És tão quente!
- Eheheheh!
- A sério! Tens sempre uma temperatura elevada...
- É de ter uma brasa por perto!
- Ohohoh! Palerma... Não te vens deitar?!
- Ia... mas estava a gostar do abraço!
- Não seja por isso... dou-te mais... na cama...
E com isto correu para o quarto voando para cima da cama como se Lourenço a tentasse apanhar. Lourenço entrou e dirigiu-se até à casa de banho. Veio logo a seguir e encontrou Catarina sentada na cama à espera dele.
- Deita-te aqui...
- Queres que feche já as cortinas?
- Deixa estar... sabe bem o vento fresquinho!
Lourenço sentou-se na cama e arrastou-se até Catarina, que encostada às costas da cama o abraçou de braços e pernas, apertando-o contra ela.
- Que bom!
- Também acho... apetecia-me mesmo apertar-te... é a continuação do abraço da varanda...
- Sabes... tenho gostado de estar perto de ti noite e dia... já estamos juntos há quase 36 horas! Eheheh!
- Hihi! Também tenho gostado... muito... e acho que te devo um pedido de desculpas...
- A mim?! Não andaste outra vez no vinho?...
- Oh! Estou a falar a sério... Há muito que tenho vontade de me aproximar de ti... Mas vêm-me sempre à memória coisas que me desmotivam e... não sei bem... mas quando estou contigo, é como se soubesses tocar nesses pontos e mudá-los em mim.
- Uau! Estou impressionado comigo mesmo!
- Lourenço, estou a falar a sério contigo... estou a esforçar-me... ajuda-me por favor... não brinques agora... isto não é fácil para mim...
- Catarina, eu estou a brincar mesmo para desanuviar essa carga toda... esse tom pesado. Eu sei que isto não é fácil para ti... já deu para te conhecer bem nesse aspecto!
- Então não gozes...
- Não gozo! Mas se um assunto é sério, porquê torna-lo ainda mais pesado... mais sério... mais frio... se mudares o tom e o ambiente, ajuda a desanuviar... ou não será?
- Sim... visto dessa forma... tens razão. – Catarina intervalava as palavras com beijinhos no pescoço de Lourenço, que estava meio encostado às costas da cama e meio enrolado por Catarina de pernas e braços.
- Catarina, pelo que me parece, evitas-me para não te envolveres muito comigo... Podes aproveitar para me chamar de convencido! Mas eu acho que nós os dois temos muito em comum e todas as características para estarmos felizes juntos... O que sinto quando estás por perto é quase mágico. Estes dois dias para mim têm sido surpreendentes! Cada vez tenho mais certeza do que sinto por ti e de que não te sou indiferente. Combinamos e complementamo-nos lindamente em cada palavra que dizemos...
- ...eu também acho... – Lourenço fazia carinhos numa das pernas destapadas de Catarina que lhe cruzava a barriga. – ...mas acho sempre que nos devíamos conhecer mais... tudo o que eu não quero é ter de passar outra vez pelo fim de um relacionamento, que estou certa que a acontecer, vai ser muito bom, vai-me supreender muito, vai-me marcar-me muito e deixar óptimas recordações...
- Pequerrucha...
- Hihihi!
- Que foi?!
- Pequerrucha!
- Eheh! Olha, saíu... Pequerruchinha, diz-me uma coisa...
- Sim!
- Já sei que tiveste outros relacionamentos que te marcaram... toda a gente tem! Eu também já tive... Mas, essas memórias são-te agradáveis?!
- Sim, sem dúvida... mas as recordações do fim...
- Pára! Para aí... Guardas boas recordações, não guardas?!
- Sim, claro que sim...
- Então... com base nessas recordações, vês-te a ter excelentes momentos de felicidade com outra pessoa?!
- Sem dúvida!
- Ora, isso mostra que tens uma apetência para viveres e partilhares a tua vida com outra pessoa... Ou pelo contrário, as melhores recordações da tua vida vêm de momentos e conquistas tuas sozinha, em momentos de solidão, introspecção ou mesmo isolamento?
- Claro que não... tenho noção que sou mais feliz se tiver ao meu lado alguém que me complemente, que partilhe comigo a vida.
- Óptimo! Eu também... Agora repara... Se a felicidade que tu queres para ti, implica teres uma pessoa com determinadas características ao teu lado, porque é que evitas essa proximidade?... Não te parece um contra-senso... Tens é de procurar essa pessoa! Ou não será?!
- Pois... deixaste-me sem argumentos... parece que tenho feito tudo ao contrário...
- Ehehe! Nem para ti és boa!
- Eheheheh! Toma lá uma ferradela!
- Au!... Podes dar outra! Eheh!
- Hihihi! Parvo!
- Mas percebeste o que te disse... Percebeste acima de tudo quanto é inútil esse sofrimento? Que só te bloqueia...
- Tens umas ideias controversas tu... fogo! Sempre achei que o amor não se procurava... que se encontrava por acaso... por destino...
- Então a solução seria ir para a igreja rezar pela vinda do príncipe encantado!
- Hihihihi! Ou do lobo mau?!
- Eheheh! Mas é isso... Temos de procurar e criar um contexto propício para aquilo que queremos aconteça. Sou muito pragmático nesse aspecto... Não acredito que a minha felicidade dependa dos outros. Pelo contrário, decorre das minhas acções... E acho que é aplicável a tudo: vida profissional; vida afectiva; hobbies; sonhos... sei lá!
- Sempre te admirei por isso... és uma pessoa que transmite segurança e tranquilidade... apesar de encarar a vida de uma forma totalmente distinta da habitual...
- Sabes... algumas pessoas contentam-se com o que lhes sai na rifa... seja muito ou pouco, ou mesmo uma desgraça... há outros que são mais inconformados!
- Que é mais o teu caso!
- O nosso caso... também te acho assim. Gosto de bater os meus records.
- E o que é que te conformaria a dormires, porque já é tarde?
Lourenço afastou-se ligeiramente de Catarina e olhou-a nos olhos. Em simultãneo, tocava-lhe numa perna fazendo carinhos suaves, enquanto que com a outra mão, agarrava uma das mãos de Catarina. Catarina massajava-lhe suavemente o ombro direito...
- Se me adormecesses com beijinhos, eu não ofereceria resistência...
- Se é teu desejo, assim será!
Aproximou-se de Lourenço e deu-lhe um beijo leve nos lábios. Depois empurrou-o, deitando-o de barriga para baixo. Em seguida, deu-lhe inúmeros beijos nas costas... Lourenço adormeceu rapidamente e sem oferecer resistência, esboçando aquele sorriso de quem está em pleno paraíso!
Lourenço acordou às dez da manhã. Reparou que Catarina já estava acordada e ambos sorriram...
- Bom dia Princesa!
- Bom dia Sapo! Hihihi...
- Eheheh! Já estavas acordada há muito tempo?! Podias ter-me acordado... da mesma forma que me adormeceste... Não resmungava de certeza...
- Hihi! Acredito que sim... mas achei que já estavas excitado que chegue! Ehehhe! Não precisavas de mais contributos! Hihihihi!
- Oh... estás a gozar com o meu corpo e a envergonhar-me... O que é que queres que te faça... Não é algo que se controle... É fisiológico... De manhã...
- Pois... São resistentes esses boxers! Ahahahahah!
- Agora quem vais levar és tu! – e atirou-lhe com a almofada.
- Hihihihihi... até me doi a barriga! Hihiihihi!
Nessa altura batem à porta e soa uma voz: “Pouco barulho! Mesmo que não soubesse, pelas gargalhadas não me restaria qualquer dúvida que este quarto é o vosso!”. Era a voz de Mariana que se ouvia através da porta. Olharam um para o outro e riram-se ainda mais!
- Bem, pelo menos, de tanto rir, já me posso levantar para ir à casa-de-banho sem passar vergonhas à tua frente!
- Hihihihi! Então... hihihihi... não era suposto o contrário... Rir... excitado...
- Rir descontrai!
- Hihihihi!!!
Lourenço regressou da casa de banho já desperto e dirigiu-se a Catarina:
- Adorei adormecer com os teus beijinhos...
- Também me soube muito bem... a nossa conversa agarradinhos – e com isto agarrou-o e ficaram os dois deitados na cama – os teus miminhos... dar-te aqueles beijinhos e ver-te adormeceres a sorrir! Adormeci e acordei agarrada a ti... caso não tenhas notado...
- Pronto, está explicado o meu estado de há pouco...
- Hihihihi! Não comeces com essa conversa! Hihihihi! – Lourenço fazia-lhe cócegas e Catarina ria descontroladamente. Quando se acalmou, levantou-se ainda meia zonza e rir-se. Aproximou-se de Lourenço e disse-lhe:
- Bem... vou para a casa de banho e quando regressar, levantaste... senãhhooo... ei... perdemos o pequeno almoço. – mas antes de se dirigir à casa de banho, deixo-lhe um beijinho nos lábios!
Lourenço ficou deitado na cama a preguiçar; estava feliz porque o relacionamento com Catarina estava cada vez mais interessante... e os dois estavam muito tranquilos e felizes.
Não tardou estarem os dois a tomarem pequeno almoço. João e Gonçalo já se dirigiam para o court, para começarem a aquecer. Enquanto os empregados começavam a levantar as mesas, os dois conversavam calmamente, e deliciavam-se com um pequeno-almoço generoso.
No court, o jogo já havia começado. Ambos os amigos estavam a jogar bem, mas Gonçalo mostrava mais eficácia a fechar os pontos. O 1.º set terminou com 6-4 para Gonçalo. O jogo continuava competitivo mas também descontraído... os amigos trocavam uns comentários e brincadeiras entre eles, sob um ar de reprovação da equipa de arbitragem. A assistência, essa, ria-se abundantemente! O 2.º set foi favorável a João num 7-5 tirado a ferros! Já no 3.º set, Gonçalo voltou a impor-se por 6-4. O 4.º set acabou por ser o derradeiro para João, que não conseguiu contrariar a maior eficácia de Gonçalo, tendo perdido novamente por 4-6. O jogo foi muito aplaudido e todos congratularam o excelente nível técnico de ambos.
Já fora do court, as brincadeiras começavam:
- Ehehe! Vocês estão condenados a jogarem um contra o outro! – dizia João.
- Se tudo correr bem... lá vai o Gonçalo perder pela 1.ª vez... – sorria Lourenço.
- Pois, pois... o torneio vai terminar da mesma forma que começou: connosco no court e comigo a ganhar! Eheheh!
- Não sei... não sei... – Lourenço mantinha o mesmo sorriso.
- Bem, então dá lá cabo desse gajo e depois vemos isso!. Vou-me para o duche...e vou tentar dar um mergulho na piscina, depois da massagem.
- Ok! Mas há outra coisa... quem ganhar, paga um jantar no Porto!
- Combinado!
- Mas o jantar é a 6 e não a 4! – lembrava João entre gargalhadas. – Ainda nem te dei os parabéns...
O jogo começou muito bem e logo com vantagem para Lourenço. Na bancada Catarina mostrava-se algo ansiosa... No entanto, Lourenço impôs o seu primeiro serviço desde cedo e rapidamente o adversário começou a baixar os braços. Com o sorriso de Catarina a acompanhar, rapidamente os sets de sucederam com 6-4, 6-2, 6-2. Um jogo relativamente fácil, em que Lourenço aproveitou para por em prática um jogo mais ofensivo e de risco, com muitas subidas à rede, muitos voleys cruzados e smashes, para delícia da assistência presente. O adversário, simpático, congratulou Lourenço e saíram juntos do court. Lourenço aconselhou-o a ir ao SPA experimentar as excelentes massagens de que poderia desfrutar. Seguramente, não estaria massacrado fisicamente no dia seguinte. E de facto, ambos se encontraram no SPA.
Já ao almoço, e depois de terem desfrutado de um mergulho gélido na piscina... afinal estavam em Maio, Gonçalo continuava optimista com a sua vitória como certa. Lourenço ria-se... e ia-lhe explicando, que lhe convinha não entrar o torneio a ganhar, etc., entre argumentos estranhos e hilariantes.
- Sabes... o primeiro milho é para os pássaros!
- Ehehehe! Não vais ter hipótese! – Catarina ajudava agora à festa.
A final estava marcada para a 5 da tarde, mas a organização foi logo advertindo que às 7 todos os praticantes estavam convocados para uma futebolada! Ao que os dois jogadores imediatamente aderiram.
- Já agora – perguntava Lourenço – o que acham de ficarmos cá para amanhã? Em vez de irmos hoje à noite depois de jantar, dormimos cá, aproveitamos melhor o jantar... o bar aberto... ehehe! E amanhã, podíamos ir dar um passeio, em vez de irmos directos para o Porto... o que acham?!
- Olha – referia Joana – honestamente, nós já tínhamos decidido isso. Faz todo o sentido... portanto, marquem mais uma noite, quartos não faltam, e amanhã passamos o dia os seis a passear por aí!
- Que dizes Catarina?!
- Não é nada que não me tenha passado pela cabeça... afinal, amanhã nenhuma de nós trabalha, verdade?! E tu podes baldar-te?!
- Sim... não marquei nada... faço um telefonema só a avisar que não vou e o meu people aguenta aquilo!
- Então está combinado!
- EIA!!!
Tudo decorria de vento em popa. O fim de semana tinha-se revelado excelente para Gonçalo; ele e Catarina estava cada vez mais próximos. O torneio corria bem. Estavam a ser tratados princepescamente. Tinha conhecido pessoas que se revelavam excelente companhia. As perspectivas para este dia de Domingo eram excelentes: tencionava ganhar o torneio e o jogo de futebol (sobre o qual já toda a gente discutia mais do que sobre a final de ténis). Ia passar mais uma noite com Catarina (que minuto a minuto se tornava mais promissora!). E amanhã, ia ainda passear por Portugal. Vida de sonho!
Finalmente chegava a hora de voltar a vestir o equipamento. Confiantes os dois jogadores aguardaram um pelo outro à saída do quarto. Caminharam até ao court os dois, entraram em campo desejando boa sorte mútua.
O serviço saiu para Lourenço. Com uma confiança inabalável fez vários ases nos primeiros jogos e conseguiu o primeiro break de serviço ao 4.º jogo, repetindo ao 6.º. Fechava assim o 1.º set com 6-4. No 2.º set, entra ainda mais forte e faz 2-0. Já no 3.º jogo, faz um passing shot de esquerda impressionante para delírio da assistência... no entanto... fica com um ar desconfiado... A explicação surgiu no ponto seguinte com a rede a rebentar... Desolado, dirigi-se ao saco e troca de raquete. O problema é que trocar uma Volkl V10, por uma Prince Classic em magnésio com 20 anos, implica mudar toda a forma de jogar...
Lourenço regressou ao court inseguro... e nesse set não conseguiu ganhar mais nenhum jogo. Gonçalo pressionava-o muito bem a imprimir um ritmo rápido, situação em que Lourenço acabava por fazer bolas demasiado compridas... Resultado: 2-6 para Gonçalo e jogo empatado.
O 3.º set começou bastante mal, tendo estado Lourenço a perder por 3-0. Não estava a conseguir colocar efeito na bola e esta ia sempre fora... Depois de muito meter as mãos à cabeça, passou a optar por um jogo mais agressivo de rede, com voleys muito curtos e rápidos. Não hesitava em fazer smashes e nas pancadas mais longas, havia que imprimir uma forma brutal, para que aquela raquete conseguissem realmente aninhar a bola. O resto do set equilibrou-se, mas mesmo assim, Gonçalo fechou com 6-3; vencia neste momento por 2-1, deixando Lourenço no fio da navalha.
O 4.º set começou com os dois jogadores muito concentrados. No entanto, o facto de Lourenço ter feito um break logo no 1.º jogo (já nas vantagens) e ter ganho o 2.º jogo a zero, tendo inclusivamente terminado com 2 ases, enfureceu Gonçalo que bateu com a raquete no chão e esta partiu! Não se contendo, os dois jogadores desatam à gargalhada. Lourenço aproxima-se da rede, enquanto Gonçalo ia buscar outra raquete ao saco:
- És mesmo um copião! Não podias só ganhar o jogo e pronto... Não, queres também jogar com a raquete de reserva!
- Eheheh! Não gozes, não gozes... ehehe!
- Ainda por cima tens outra raquete quase igual?! Tens patrocínio da Wilson?!
- Eheh! Não, esta é antiga!
- Wilson é a marca dos meninos queques!
- Já vais levar com um queque na tromba... ahah!
- Ehehe!
Esta brincadeira para descontracção levou a uma advertência da arbitragem a ambos os jogadores.
O jogo seguiu equilibrado. Gonçalo ainda conseguiu recuperar algum ritmo, mas Lourenço parecia já estar mais habituado à raquete e acabou por fechar com 6-4.
Entrados no derradeiro set, vivia-se a atmosfera do tudo ou nada. Lourenço arriscava tudo; batia na bola com quanto força tinha. Desde que tinha trocado de raquete, evitava as esquerdas, porque a direita saía melhor, com a bola a bater no chão e a aninhar bastante.
Já com o resultado em 3-1, Lourenço falha um smash e imediatamente põe a mão no ombro... Meio anestesiado vê Gonçalo a ganhar mais um jogo. Jogava-se literalmente o “vai ou racha”. O serviço era de Lourenço e com esta raquete parecia que o serviço saía ainda mais forte; no entanto, os arcos pronunciados que com a raquete anterior a bola desenhava, eram bem mais difíceis de receber e não conseguia fazer ases agora. O jogo tornou-se estonteante em velocidade, e os pontos eram maioritariamente decididos na rede.
O jogo chega a um ponto crucial: 5-4 para Lourenço e jogam-se as vantagens. Lourenço perde e Gonçalo pula e alegria. Tinha conseguido empatar ao 10.º jogo. Tudo estava em igualdade outra vez.
Numa troca de campo, Lourenço dizia: “...eu nunca gostei de piso sintético!”. Riam-se agora mais discretamente, não fosse o árbitro adverti-los outra vez.
Os dois jogadores tinham um ar tenso agora... E na assistência imperava o silêncio. Catarina e Mariana até tinham medo de ver.
Bola em jogo novamente e Lourenço voltava a surpreender. Recuperara a sua esquerda a duas mãos. Cruzava bolas rapidíssimas, que batia em aceleração para rede, para se antecipar à jogada seguinte. Estava literalmente a encostar Gonçalo às redes do fundo do court. Quando Gonçalo conseguia ainda jogar a bola, surpreendia-o com amorties na rede. 6-5 para Lourenço. Tudo restava saber agora se o serviço de Gonçalo os levava a tie break, ou se seria insuficiente.
Gonçalo abre o jogo com um às e colhe sonoros aplausos. Na jogada seguinte é Lourenço que responde com um passing shot muito rente à rede e a bater em cima da linha lateral, totalmente inalcansável para o adversário. Os pontos seguintes conduziram-nos às vantagens e foram os mais longos dos jogo. Algum cansaço e medo de arriscar por parte dos jogadores, levaram a jogadas embora rápidas, cautelosas. Com vantagem nula, Gonçalo consegue surpreender Lourenço, sobe à rede depois de o ter encostado ao canto direito com um fortíssimo passing shot; no entanto, este surpreende-o com um loob impressionante em altura. Gonçalo ainda recuperou a bola, que devolveu-a lenta, permitindo a Lourenço uma aceleração incrível e impossível de alcançar.
O árbitro dizia pela 5.ª vez “vantagem da resposta e match point”. Gonçalo serve forte, resposta cruzada de Lourenço mas ao cento, a qual Gonçalo responde facilmente. Os jogadores posicionam-se novamente para lá da linha de fundo, onde se mantiveram por mais de 10 pancadas entre esquerdas e direitas, drives e passing shots. Até que numa esquerda, Lourenço corta repentinamente a bola que cai poucos centímetros depois da rede; Gonçalo, incrédulo corre e bate a bola na última. Mas Lourenço já bem posicionado e perto da rede limita-se a empurrar a bola para o outro lado do court, totalmente fora do alcance de Gonçalo, saindo esta pela lateral.
Era o delírio da assistência. O jogo terminava ao fim de duas horas e uma quarto e com os dois jogadores nitidamente desgastados.
- Então, achas que ainda consegues jogar futebol? – perguntou Lourenço a Gonçalo, levantando-lhe o braço.
- Só se for na tua equipa!
- Eheheh! Foi um jogo espectacular. Acho que nunca joguei tão bem como hoje...
- Parabéns! Tomo isso como um elogio...
- Claro que sim! É mesmo isso.
Logo a seguir Catarina saltava-lhe para o colo, dando-lhe o primeiro beijo em público... Ninguém se apercebeu! Excepto Lourenço...
A seguir tembém decorreu uma pequena brincadeira, ao melhor estilo de entrega de prémios, e que terminou com a apresentação de um placar com as equipas a defrontarem o jogo de futebol. Irónicamente, Lourenço e Gonçalo estava nas balizas! Algo que foi logo contestado, e por mútuo acordo, João, Gonçalo e Lourenço ficaram na mesma equipa.
Quase ainda sem forças, o jogo começou e a equipa adversária ganhou vantagem de 3 golos no marcador.
- O primeiro milho é para os pássaros... – relembrava Lourenço, acalmando a equipa e fazendo re-ajustes nas posições dos jogadores.
Ao intervalo já só perdiam por um golo.
- Gonçalo, agora que já descansamos, vamos pressionar forte. Ficas a ponta de lança e eu jogo a lateral esquerdo. Mantem-se no meio!
- Combinado.
O jogo começou e logo a seguir, num contra-ataque com troca de lado dos laterais, Lourenço remata forte de pé esquerdo, a bola faz um arco a meia altura à frente do guarda-redes e entra bem rente ao poste. Jogo empatado com delírio no campo.
A partir daí, esta equipa dominou totalmente o jogo. As desmarcações pelo lado esquerdo eram frequentes, seguidas de cruzamentos de Lourenço para Gonçalo que irremediávelmente davam em golos. A cereja no bolo veio com o 3.º golo de vantagem, em que João fez um belíssimo livre directo por cima da barreira da defesa.
No final, ainda tiveram direito aos títulos de Melhor Jogador em Campo para Lourenço; Melhor Marcador em Campo, para Gonçalo com 6 golos; e Melhor Guarda-Redes para João, o único que passou pela baliza sem sofrer golos.
Á rebelia da gerência do hotel, as duas equipas atiraram-se para a piscina vestidas.
Dada a proximidade da hora de jantar não houve tempo para massagens... mesmo com reclamações! Havia uma pequena cerimónia para agradecimentos e divulgações técnicas dos novos produtos do patrocinador, pelo que os horários eram mais rígidos naquele dia.
O jantar foi tão animado quanto delicioso. A cerimónia em causa uma vez terminada deu origem ao maior convívio entre todos os convidados, até porque eram poucos os que iriam regressar naqueles dia.
Já a noite ia longa e devidamente regada por um bar aberto, quando os nossos amigos resolveram recolher aos quartos:
- É boa ideia! Já bebemos que chegue, precisamos de descansar, ainda quero fazer uns miminhos aqui à patroa, e amanhã, se vamos passear, não podemos dormir até ao meio-dia. – reclamava João.
- Até porque amanhã o pequeno-almoço é só até às 10 horas... e sem pequeno-almoço, não vou a lado algum! – reclamava Catarina.
Despediram-se e cada um foi para seu quarto.
- Catarina, foi um fim-de-semana e tanto...
- Ainda não acabou!
- Tenho de te agradecer... adorei tudo!
- Tudo?!
- Sim, tudo! E não vou para a varanda...
- Hihihihi!
- Não precisas... hoje podes ir tu primeiro para a casa de banho.
- Ahahaha! Olha que eu venho depressa!
- Óptimo!
Quando Lourenço regressou, Catarina já estava de camisa de noite.
- Uau! Que inovações por aqui andam...
- Um minuto e já regresso! – e entrou na casa de banho.
Mal apareceu, saltou para cima de Lourenço, agarrou-o e deu-lhe um beijo apaixonado.
- Não imaginas o bem que me tens feito neste fim-de-semana! E hoje, fizeste-me sentir uma privilegiada. Ganhas o torneio, o futebol, melhor jogador, toda a gente te acha simpático e gosta de ti... Até as minhas amigas te elogiam constantemente...
- Antes demais, adorei esse beijo – Catarina beija-o novamente interrompendo-o – e a pergunta que te queria fazer era se querias prolongar esse bem-estar?!
- Essa é uma forma muito original de propor alguma coisa...
- No fundo, a mesma coisa que te queria propôr há já algum tempo...
- Sim... mas só agora é que tal foi possível concretizar...
- A minha proposta é a de tornar este fim de semana extensível aos nossos dias... todos... Claro que não de uma vez só... Claro que podemos ter momentos muito melhores do que estes já de si muito bons...
- Achas mesmo que é possível compatibilizarmo-nos todos os dias e superar este fim de semana?
- Claro que sim!
- E prometes ter paciência para aturar aqueles momentos em que eu não vejo as coisas com o teu pragmatismo e simplicidade?
- Aos poucos, lá chegaremos... além do mais... se não tentarmos, nunca saberemos se conseguimos...
- E se ou outros conseguem...
- Não interessa o que sabes, mas sim o que fazer com o que sabes...
- Sabes uma coisa...
- Ainda não...
- Hoje, quem quer muitos beijinhos sou eu!
Lourenço abraçou Catarina carinhosamente, enquanto procurava os seus lábios com beijos na face. Enrolaram-se um no outro e ternamente foram soltando as poucas peças de roupa que tinham. Amaram-se como se um só fossem, longa e intensamente durante a noite. Adormeceram exaustos e donos de uma felicidade que poucas vezes somos capazes de sentir e viver.
No dia seguinte, foram acordados por alguém a bater à porta. Nús como estavam, não podiam abrir... Lourenço perguntou com uma voz enrolada quem era. Do outro lado, a voz meiga de Joana dizia: “Sou eu dorminhocos! Passei aqui e como não ouvi barulho nenhum no vosso quarto, vi logo que estavam na dorminhoquice! Toca a levantar! Já são nove e meia...”. Lourenço agradeceu a Joana e riu-se... tal como Catarina e Joana.
- Bom dia Princesa! Que despertar tão violento...
- Podes crer!
- Ainda por cima, vamos ter de acelerar...
- Oh não... e eu que ainda te queria mais um bocadinho...
- Também eu... mas ficamos sem pequeno-almoço...
- E rabugentos... e esfomeados...
- Catarina... vamos a um 2 em 1!
- Como?...
- Já para a banheira que eu já te explico!
- Eheheh! Anda daí!
Chegaram ao pequeno-almoço em cima da hora de fecho. Vinham com um sorriso descontraído, mas não escondiam umas boas olheiras!
- Olha-me para estes... atrasados ao pequeno-almoço!
- Que terão estado eles a fazer Gonçalo? – acrescentava Mariana.
- Ainda tens dúvidas... olha para aquelas olheiras! – observava Joana.
- Tchi... vocês não querem ficar cá! Nós vamos bem sozinhos! – ria-se João.
A animação começou logo ao pequeno-almoço, com o planeamento da viagem. Lourenço sugeriu ainda que jantassem todos juntos no Porto, à chegada. Afinal, cabia-lhe a ele oferecer um jantar por ter ganho a Gonçalo.
Estava um dia fantástico de Primavera, pelo que Catarina e Lourenço não hesitaram em vestir um casaco e abrir a capota. Os Divine Comedy deram lugar aos Rolling Stones, Cousteau, Amy Winehouse e De Phazz.
Seguiam em direcção a Aveiro para aí almoçarem, e depois conhecerem algumas praias.
Já ao final da tarde, havia que recolher a capota por causa do frio... Este acto tornou o convívio entre Catarina e Lourenço ainda mais aconchegante. Agora sim, sentiam-se realmente a cara metade um do outro... mas descontraídos e sem medos... seguros, gostando de si mesmos e sabendo que o outro apenas poderá melhorar a vida de ambos, complementando-se, nestas circunstâncias.
O dia terminou com um jantar num restaurante pequeno e acolhedor em Leça, escolhido por Lourenço, onde se poderam deliciar com uma especialidade de peixe. Este grupo de amigos havia conseguido muito boa sintonia entre si; seguramente tinham muito pela frente para conviver. Despediram-se já com saudades e planos para um novo jantar.
Quando Lourenço deixou Catarina em casa, a despedida foi dolorosa. No entanto, ambos se sentiam leves... quase que descomprometidos com o futuro. Os desafios comuns são a melhor união de duas pessoas, por isso, ambos estavam seguros de si e em relação ao outro.
Apesar da profunda incógnita, a felicidade do momento fazia parecer que nem o céu seria o limite...
Sérgio
- Custa-me sempre tanto acordar... – comentou.
- Descansa um bocadinho mais... está tão boa esta preguiça...
- Bem preciso de acordar devagarinho, senão fico com um humor de cão...
- Já somos dois... acordo sempre revoltada por ter de acordar... mas passa-me logo...
- És mais ou menos como eu...
- O pequeno almoço e o banho também ajudam...
- Mas hoje já estou bem disposto!
- Dormias profundamente até agora... deves estar cansado.
- Um tanto... ontem foi um dia de muitas emoções... algumas ansiedades!... mas dormi tranquilo e estou mesmo descansado... e bem disposto!
- ...também dormi muito bem...
- E... ias dizer qualquer coisa mais!
- Não ia nada...
- Ias, ias...
- ...pois! Confesso que gostei de dormir contigo... e soube-me mesmo bem acordar agarrada a ti.
- Queres dizer em cima de mim?!
- Pronto! Tinhas de estragar tudo!
- Estou a brincar... só estás um bocadinho em cima de mim... a cabeça... um braço... meio tronco... uma perna!
- Ehehe! Tens uma pele macia... mas para que não fiques já convencido pela manhã, deixa-me dizer-te que és um tanto duro!
- Se fizeres questão disso, posso engordar uns 10 quilos e já devo ficar mais balofo...
- Hihihi! Não obrigado... gosto mais assim!
- Também gostei muito adormecer, dormir, acordar contigo...
- Bem... como o menino está em competição, vou dar-lhe um privilégio: levantou-me eu primeiro!
- Eheheh! Que bom!!!
Catarina tomou um duche e mal saiu da casa-de-banho, enrolada numa toalha, pôs Lourenço fora da cama.
- Levanta-te preguiçoso!
- Estou espantado... – bocejava Lourenço enquanto se levantava lentamente – não me puseste na varanda!
- Como te portaste bem durante a noite, dou-te a intimidade de te cruzares comigo de toalha e cabelo molhado. Agora, já chega, casa-de-banho! Duche frio dorminhoco! Eheheh! – enquanto isso, batia-lhe com a toalha que tirara do cabelo.
- Frio... ainda por cima! Eheheh! És mesmo sádica!
- Deficiencia profissional! Hihihihihi!
Lourenço tomou um banho rápido e equipou-se directamente. Desceram os dois no elevador e dirigiram-se à sala de pequeno-almoço. Comentavam os dois que estavam esfomeados, mas que não o podiam demonstrar, caso contrário ganhariam a fama de terem passado por uma noite de sexo intenso, o que não era verdade. Lourenço recusava ter essa fama... sem o proveito! Caso contrário, poderia ser raptado pelas amigas de Catarina... Catarina perdida de riso é novamente interpelada por Mariana, que de imediato comenta:
- Vocês estão sempre à gargalhada... bom dia!
- Lourenço, está na altura de fazeres aquele comentário... – respondia engasgada Catarina, tendo voltado os dois a perderem-se em gargalhadas.
Lourenço ainda tentou cumprimentar Mariana, mas acabou por desistir. Tomaram os dois pequeno-almoço, passaram novamente pelo quarto e dirigiram-se para o court de ténis, onde os jogadores começavam a bater as primeiras bolas para aquecimento.
Catarina e Lourenço sentaram-se a assistir. O jogo foi interessante, mas João ganhou com facilidade (6-4, 6-4). O adversário tinha um bom serviço, mas era um tanto irregular; João, mostrando grande tranquilidade, foi contruíndo o seu jogo e manteve uma margem de conforto de início ao fim do jogo.
- Parabéns João! Muito bem jogado! Muito inteligente e bem construído o resultado! – congratulava-o Lourenço.
- E grande estilo de pancada! – comentava Gonçalo, entretanto chegado e ainda com cara de sono.
- Boa João! Ainda bem que já arrumou com este... é nosso convidado, mas é da concorrência! – todos se riram do comentário de um dos organizadores, e inclusivamente o jogador derrotado.
- Lourenço, já viste que vais jogar contra um dos candidatos ao título, o Augusto? – perguntava Gonçalo.
- Já! Parece que estou com sorte no sorteio... primeiro tu, agora o Hulk Augusto! – lamentava sorrindo Lourenço.
- Mas ele ganha desta vez, de certeza! Não tenho qualquer dúvida. – afirmava Catarina.
- Estás muito segura de mim, Catarina! – Lourenço espantado.
- Tratei-te bem, por isso, não há adversário que te pare!
- Também sinto isso... mas vindo de ti... estou banzado! Eheheh...
O horário dos jogos estava a ser cumprido e já outra dupla de adversários estava em campo a bater as primeiras bolas. Lourenço ficou por momentos sozinho, visto que Catarina havia sido solicitada no SPA para uma massagem de relaxamento ao derrotado elemento da “concorrência”, em simultâneo com Joana, que premiava João com alguns mimos...
Este jogo opunha dois ex-vencedores do torneio noutros anos. Curiosamente, o nível não pareceu muito elevado, quer a Lourenço, quer a Gonçalo. Quando Catarina regressou, encontrou-os com Mariana. Sentou-se ao lado de Mariana e começaram a conversar sobre as clínicas e as condições de trabalho, por comparação com o SPA. Rapidamente a conversa derivou para o reflexo do esforço muscular nos jogadores de ténis, especialmente logo após um jogo e a reincidência noutro, poucas horas depois. Trocaram impressões sobre como tratar os namorados logo a seguir aos jogos. Gonçalo jogava a seguir a Lourenço e tinham intervalos entre jogos de 4 horas.
Por momentos a “alergia” existente entre Catarina e Mariana parecia ter desaparecido... Catarina mostrava-se afável e Mariana mais terra-a-terra, como se descontraísse de algo. Talvez o bom relacionamento entre Lourenço e Gonçalo a isso levasse. Logo a seguir chegou Joana, que trazia o namorado com um ar totalmente relaxado. Lourenço aproveitou logo para o picar:
- Afinal, estava a contar contigo para aquecer antes de jogar e tu estás mais para dormir uma soneca do que outra coisa...
- Crava o Gonçalo! Afinal, ele joga a seguir a ti!
- Nem penses... se ele aquece comigo, ainda perde o jogo e diz que o culpado sou eu, que o cansei muito no aquecimento!
- Ou ao contrário... lesionas-te comigo e serve-te de desculpa para perderes com o vencedor do ano passado...
- Esse é o Augusto! – respondia Gonçalo – e cabe-te a ti eliminá-lo! Nem quero imaginar a cara do Augusto... derrotado e fora do torneio na 1.ª eliminatória!
- E não pode ser repescado? – perguntou Lourenço.
- Não... é puro “bota-fora”, ou “mata-mata”, como o Scolari diz! Eheheh! Só podes perder nas pré-eliminatórias, porque na verdade só servem para te posicionar no quadro de jogo.
- Boa! – sorria Lourenço, com ar de quem ia “jogar para matar”.
O jogo decorria empatado 1-1 em sets. Ambos os jogadores começavam a demonstrar algum cansaço. Estes 3 casais faziam algum esforço para não perturbarem a concentração dos jogadores; as piadas eram frequentes... Gonçalo e Mariana mostrava-me bem mais próximos e sinceros que no dia anterior.
Chegou a hora do tão esperado jogo. Lourenço levantou-se e os outros 5 fizeram questão de mostrar que estavam a torcer por ele. Claro que o beijinho da Catarina era tudo para Lourenço... Este entrou em campo descontraidíssimo e logo no aquecimento com Augusto, mostrou um excelente supless. Batia na bola com grande descontração, o que levou a algum espanto por parte de Augusto.
O jogo começou com o serviço para Lourenço e este não se fez rogado ao abrir o jogo com um às, para espanto de tudo e todos, e alguma raiva instalada em Augusto. Neste ritmo, o 1.º jogo terminou com apenas um ponto de Augusto e o 1.º set rapidamente chegou a 6-2 para Lourenço. Sem dúvida que a preparação para o Torneio com a Sofia Prazeres havia sido importante. As pancadas estavam mais abertas, com mais efeito e mais consistentes. O próprio Lourenço se surpreendia por vezes com alguns passing shots de direita e top spins de esquerda a duas mãos. No 2.º jogo, Augusto tentou equilibrar a partida que esteve ranhida até ao 4-4; depois Lourenço, com um break de serviço, conseguiu fechar em 6-4. Augusto estava incrédulo... havia sido eliminado na 1.ª ronda por um rookie, e pela primeira vez, não chegava ao 2.º dia de prova... Lourenço, tranquilamente, tentou explicar que teve muita sorte e que tudo lhe saíu bem desde o início. Augusto abandonou o court revoltado e sem se despedir do adversário... O silêncio era constrangedor... A organização pediu aos jogadores seguintes que entrassem em campo para iniciar o jogo seguinte, até porque já passava um quarto de hora do meio-dia, altura em que Gonçalo deveria iniciar o seu jogo.
O adversário era imponente fisicamente... não queria dizer nada... Lourenço apressou-se a desejar boa sorte a Gonçalo. Não ia ver uma parte do jogo, pois ia ter um miminho em forma de massagem e tomar um duche rápido.
- Joga rápido e ataca com alternâncias de jogo. Ele é demasiado pesado para jogar ténis!
Riram-se os dois e Lourenço foi directo ao duche, trocou de roupa, e mal chegou ao SPA, Catarina saltou-lhe para o colo com um grande abraço.
- Parabéns! Que grande jogo! Puxa... demolidor! Houve alturas que o Augusto até estava tonto... nem sabia por onde tinha passado a bola!
- É! Correu mesmo bem... Vamos pensar no próximo, agora!
- E a pensar nisso... vou dar-te muitos miminhos agora! Vais relaxar um bocadinho...
A massagem começou com um abraço enorme a Lourenço e alguns beijinhos nas costas... Entre suspiros de Lourenço, Catarina massajou-lhe lentamente os ombros e o pescoço, passando posteriormente para os braços, e terminando nas costas. Lourenço, quase a dormir ainda pediu um prolongamento, mas sem sucesso...
- Vamos ver como está o jogo do Gonçalo para depois almoçarmos... anda lá! – e deu-lhe um beijinho na face, afastando-se depois para lavar as mãos.
Chegados ao court, Gonçalo estava empatado 1-1 em sets. Mariana dizia que ele havia ganho o 1.º set folgado e que no 2.º entrou um tanto desconcentrado. A leitura de Mariana estava correcta, porque Gonçalo fechou o 3.º set de forma desconcertante: 6-1! Brilhante! Sempre muito aguerrido a atacar na rede e em passing shots bem jogados, pondo o adversário em contra-pé.
No fim do jogo houve tempo para congratulações. Até o adversário, no seu ar sisudo e corpolento entrou na brincadeira daquele grupo bastante animado.
- Pronto, agora já chega! Vai lá tomar um duche, para vires almoçar connosco. – comentava João.
- E a massagem? – apontava Catarina para Mariana.
- Vai ter de ficar para depois de almoço... – lamentava Mariana - ... se ele estiver tão esfomeado quanto eu, não há massagem que o segure!
Dirigiram-se todos para a esplanada onde o almoço volante estava a ser servido, excepto Gonçalo, que re-apareceu ainda de cabelo molhado 10 minutos depois.
O fim-de-semana corria da melhor forma. O tempo estava excelente e até havia vontade de dar um mergulho na piscina. A água é que parecia um tanto fria...
Do almoço aos courts foi um ápice. A 1.ª ronda já havia terminado e tudo estava a postos para a segunda ronda do dia. Eram já 18 horas... o torneio estava atrasado uma hora face ao previsto... isto implicava que Lourenço e Gonçalo começassem a jogar depois da 9 e 10 da noite... se não houvesse mais atrasos, ou seja, jogos disputados para lá de uma hora. Só que havia grande probabilidade de isso acontecer...
A organização comentava, que para o ano, se tivessem tantos interessados como este ano, iriam alargar a mais um dia de prova este evento: mais jogos, mais jogadores, mais terapetas, mais convivio.
João voltava a ser o primeiro a entrar em campo e tinha pela frente o vencedor de há 2 anos. O jogo foi bastante interessante. João conseguiu vencer o 2.º e 3.º set fruto de grande consistência no jogo. E se no 1.º havia perdido 3-6, passou por um 2.º set muito difícil, que só ultrapassou em tie break, beneficiando do nervosismo do adversário no 3.º set, que lhe permitiu um confortável 6-4. Como prémio, teve direito aos bons tratos de Joana em formato prolongado... mas antes, Gonçalo e Lourenço agarraram-no e atiram-no ao ar como congratulação. Havia que comemorar! Era um dos semi-finalistas de Domingo!
O jogo seguinte foi muito disputado. Três sets jogados ao limite e a terminarem em tie break. O nível de jogo era agora mais elevado. Consequentemente, quando Lourenço entrou em campo passava já das nove e meia da noite... Antes disso, o ambiente mantinha-se divertido...
- Ouve, vais entrar em campo, vais ganhar o jogo depressinha, porque isto está muito atrasado... É que eu não quero começar a jogar às 11 da noite! Aliás, vou ter de ir comer qualquer coisa, que estou cheio de fome! – brincava Gonçalo.
- E tu achas que eu já não fui assaltar o buffet do jantar?! – respondia Lourenço.
- Não... ele vai atrasar o jogo ao máximo, para o teu terminar tarde e amanhã estares cansado! – Catarina espicassava Gonçalo.
- Não é justo! – Gonçalo incrédulo...
- Não te preocupes, amor, recupero-te durante a noite! – Mariana intervinha em jeito de piada.
- Prometo fair play! – despediu-se Lourenço e foi para o court.
- Não esperava de ti outra coisa... – respondeu ainda Gonçalo, gesticulando a Lourenço, como quem diz que ia tratar do estômago.
Na verdade o jogo não foi fácil. Lourenço ganhou o 1.º set com muita dificuldade para fechar em 6-4. Perdeu o 2.º set 4-6, e o derradeiro set foi mesmo a 7-5, que estranhamente fechou com dois jogos muito curtos. Terão sido os jogos mais fáceis do set, visto que o adversário aparentemente ter caído muito em frescura física.
À saída do court e ao cruzar-se com Gonçalo ainda trocaram algumas impressões.
- Grande jogo! Jogaram mesmo muito... impressionante!
- Olha, eu bem queria terminar o jogo mais cedo... já são onze e um quarto... parece que te cabe a ti ser o demolidor e recuperar o atraso do torneio!
- Nem que seja, porque senão ainda fico sem jantar! Ehhehe!
- Tranquilo... Guardo-te umas munições e uma garrafa de tinto! Além do mais, vais jogar com o adversário mais fraco da 2.ª ronda... lembraste do jogo da manhã, a seguir ao do João?
- Sim lembro... não foi grande coisa, não...
- Então já sabes! Tens meia hora para jogar 2 sets!
- É louco! Ehehe!
Despediram-se, e logo a seguir, Catarina esperava por Lourenço com um sorriso do tamanho do mundo, acompanhada de Mariana e Joana. Deu-lhe um abraço enorme, mesmo apertado!
- Parabéns!!! – gritaram as 3 terapeutas trajadas a rigor.
- Vai tomar um banhito rápido, que eu quero ver esse ombro... – dizia Mariana.
- Não Mariana, eu vejo isso, fica a ver o Gonçalo. – comentava Catarina.
- Vamos lá as 3 num instante, e depois ficas tu a tratar dele. – interveio Joana.
- Meninas! Calma... está tudo bem! Há muitos anos que sou assim... volta e meia, resolve estalar um nadinha... Não é nada.
- Pois, mas eu vi-te várias vezes a levar a mão ao ombro... vamos ver isso! Banho rápido! Vá lá!
Quando Lourenço regressou, já Gonçalo ia no 2.º set.
- Incrível! Ele está imparável!
- Está sempre a jogar na rede e tem ganho muitos jogos mesmo a zero! – Mariana comentava enquanto já agarrava Lourenço por um braço e as outras duas o empurravam para o SPA.
Depois de ter levado alguns esticões e ter sido bem amassado e torcido pelas 3 terapeutas, concluíram que, de facto, não havia sinais para alarme, deixando Catarina a tratar do seu namorado. Mariana voltou logo a seguir, mas já acompanhada de Gonçalo...
- Não foi meia hora, mas foram 40 minutos! Eheh!
- Parabéns! Estás imparável! – aplaudiu Lourenço.
- Vou tomar um banho ao quarto e regresso já, já!
- Até já!
- Campeões merecem bons tratos! Portanto, prepara-te!
Este último grito de guerra de Mariana, significava que se ia juntar a Catarina para massajar Lourenço. Catarina, se inicialmente, não reagiu muito bem, acabou por concordar com a utilidade da ideia. Terminava a massagem mais depressa de Lourenço; a seguir, as duas tratavam também o Gonçalo, o que lhes permitia passarem pelo quarto, também elas tomarem um duche rápido e irem jantar os quatro.
Já ao jantar, ainda que ligeiro dado o adiantar da hora, Lourenço e Gonçalo davam o seu melhor para conseguirem que os empregados do hotel lhes servissem uns petiscos extra-buffet.
- Bem, parece que o convenceste! – comentava Gonçalo com Lourenço.
- Foi fácil! O homem é simpático. Resta saber se o cozinheiro também é e nos prepara aquela espetada de caça deliciosa de ontem!
- Se não vais ter entrar mesmo na cozinha para falar com ele.
- Hoje consigo tudo! O meu charme natural está exponenciado pelo gel de mentol que estas duas nos puseram!
- Eheheh!
- És mesmo palerma! Só não levas outro cacete, para não estragar o trabalho que tivemos com o teu ombro. – estas palavras de Catarina eram ditas num tom sedutor de Catarina enquanto se aproximava de Lourenço.
- Pois é! O que tu não sabes, Gonçalo, é que podes ter tido duas massagistas mais tempo do que eu... mas eu tive 3 no inicio da massagem! Ehehhe!
- Contenta-te com isso, porque vai ser a única coisa que me vais ganhar! Ehehhe!
- “Não ignore uma ciência que à partida desconhece”!!! Carmo Sunday Power!
- Isso tem nome de chocolate!
- Logo é bom! – intervem Mariana.
- Ele acha que ao Domingo tem melhor desempenho, só porque costuma jogar futebol ao Domingo de manhã. – comenta com ar descrente Catarina.
- Pois, mas a final é à tarde! – acrescentou Gonçalo.
- Lá isso é! Mas eu tenho como adversário alguém, teoricamente pelo menos, mais fácil do que tu... ehehe!
- Pois é Gonçalo! É que quem vai estar na final sou eu! Não passas por mim de manhã... nem penses! – João juntava-se ao grupo, já de chávena de café na mão. – E a primeira vantagem que tenho, é que já vou à frente no jantar! Eheh!
- Hihihihi! Quando eramos miúdas é que fazíamos corridas para ver quem acabava primeiro. – ria-se Joana.
- Então conta lá, que tal massajar o Lourenço?! – Gonçalo tentava corar Joana.
- É pá, está calado que até a mim, me deixas constrangido... isto de ser massajado pelas namoradas dos meus amigos não dá pica... deviam ser inteiramente desconhecidas!
- Eheheh! Tens toda a razão! Isto de ter a tua namorada a massajar-me as costas, não está com nada!
- Olha que tu levas?! – Catarina ameaçava Gonçalo de faca na mão. – Ou vais dizer que não gostaste?! Hihihih! Ok, não digas à frente da Mariana! Hihihi!
- Ahahahah! – entre as gargalhadas de todos, Joana intervem – E tu Lourenço, quem é que te massajou melhor o ombro de nós as três?!
- Massagem?! Aquilo foi tortura! Estica, aperta, torce... estava a ver que a certa altura iam buscar as agulhas da Catarina e fazer de mim boneco vodu!
- Ahahahaha! É tão palerma!!! Curei-te ou não com as agulhas?!
- Catarina... até curaste... mas agradável não é!
- Pois é Mariana, mas estás tão calada... não gostaste de massajar o Lourenço?! Ahahahah!
- É mesmo do piorio... Joaninha, devo dizer-te que só tive a honra de massajar o lado direito. Agora que ele tem umas pernas impressionantes, tem!!! Hihihih!
- Ahahah! Acredito... eu ainda tive esperança que a Catarina me pedisse para a ajudar, mas ela preferiu ficar sozinha... eheheheh!
- Isto é um bando de gente depravada... – comenta João. – estão aqui a levar a asta pública se a namorada de um gostou de massajar as pernas do namorado da outra... e se esse namorado gostou mais das massagens da namorada dele ou da do amigo... isto está tudo perdido! – e nesse instante tirou o copo de vinho à namorada e pediu ao empregado – ...por favor, não traga mais vinho para aqui... coca-cola, sumo de laranja, ou mesmo água, está bem?! – o empregado sorriu e até corou entre as bem sonoras gargalhadas daquela mesa.
O jantar continuou enfórico e Lourenço resolveu não deixar cair a conversa, instaurando um processo de interrogatório sobre as massagens nos possantes braços de Gonçalo. O tom jurídico e irónico, no qual João servia de escrivão, interrompendo para pequenos comentários e esclarecimentos, sempre irónicos, levou à continuação de um jantar em que muito se riu e pouco se comeu ou bebeu... o que até foi adequado dada a hora... já passava da uma da manhã e a 1.ª meia-final que opunha João a Gonçalo estava marcada para as 11.
Depois de um passeio à volta do hotel, todos recolheram aos quartos. Os três jogadores estavam nitidamente cansados... dois jogos num dia só são mais que suficientes para que a casa dos 30 se faça sentir. Apesar de não o reconhecerem, culpabilizaram o vinho do Dão pela moleza instaurada.
Quando chegaram aos quarto, Lourenço, bem humorado, perguntou:
- E agora, tenho de ir para a varanda?...
- Hihi... vai para onde quiseres, mas para já, desaperta-me o vestido nas costas... estou cansada para me torcer e encontrar os botões...
Ainda que espantado, Lourenço dirigiu-se até ela, que com um olhar malandro lhe virou costas para este lhe desabotoar os vestido.
- E já está!
- Obrigado... agora podes optar entre o quarto e a varanda! Porque eu vou ocupar a casa-de-banho! Hihihi! – e rapidamente o fez, entre saltinhos e risos, já descalça.
Quando Catarina apareceu já pronta para se meter na cama, reparou que Lourenço estava na varanda.
- Hihihi... não acredito que estás aí fora!
- Sabes como é! O hábito faz o monge... está mais fresquinho aqui fora!
Mesmo em camisa de noite, Catarina veio até à varanda e abraçou Lourenço pelas costas.
- Não sei se está! Hihihihi! És tão quente!
- Eheheheh!
- A sério! Tens sempre uma temperatura elevada...
- É de ter uma brasa por perto!
- Ohohoh! Palerma... Não te vens deitar?!
- Ia... mas estava a gostar do abraço!
- Não seja por isso... dou-te mais... na cama...
E com isto correu para o quarto voando para cima da cama como se Lourenço a tentasse apanhar. Lourenço entrou e dirigiu-se até à casa de banho. Veio logo a seguir e encontrou Catarina sentada na cama à espera dele.
- Deita-te aqui...
- Queres que feche já as cortinas?
- Deixa estar... sabe bem o vento fresquinho!
Lourenço sentou-se na cama e arrastou-se até Catarina, que encostada às costas da cama o abraçou de braços e pernas, apertando-o contra ela.
- Que bom!
- Também acho... apetecia-me mesmo apertar-te... é a continuação do abraço da varanda...
- Sabes... tenho gostado de estar perto de ti noite e dia... já estamos juntos há quase 36 horas! Eheheh!
- Hihi! Também tenho gostado... muito... e acho que te devo um pedido de desculpas...
- A mim?! Não andaste outra vez no vinho?...
- Oh! Estou a falar a sério... Há muito que tenho vontade de me aproximar de ti... Mas vêm-me sempre à memória coisas que me desmotivam e... não sei bem... mas quando estou contigo, é como se soubesses tocar nesses pontos e mudá-los em mim.
- Uau! Estou impressionado comigo mesmo!
- Lourenço, estou a falar a sério contigo... estou a esforçar-me... ajuda-me por favor... não brinques agora... isto não é fácil para mim...
- Catarina, eu estou a brincar mesmo para desanuviar essa carga toda... esse tom pesado. Eu sei que isto não é fácil para ti... já deu para te conhecer bem nesse aspecto!
- Então não gozes...
- Não gozo! Mas se um assunto é sério, porquê torna-lo ainda mais pesado... mais sério... mais frio... se mudares o tom e o ambiente, ajuda a desanuviar... ou não será?
- Sim... visto dessa forma... tens razão. – Catarina intervalava as palavras com beijinhos no pescoço de Lourenço, que estava meio encostado às costas da cama e meio enrolado por Catarina de pernas e braços.
- Catarina, pelo que me parece, evitas-me para não te envolveres muito comigo... Podes aproveitar para me chamar de convencido! Mas eu acho que nós os dois temos muito em comum e todas as características para estarmos felizes juntos... O que sinto quando estás por perto é quase mágico. Estes dois dias para mim têm sido surpreendentes! Cada vez tenho mais certeza do que sinto por ti e de que não te sou indiferente. Combinamos e complementamo-nos lindamente em cada palavra que dizemos...
- ...eu também acho... – Lourenço fazia carinhos numa das pernas destapadas de Catarina que lhe cruzava a barriga. – ...mas acho sempre que nos devíamos conhecer mais... tudo o que eu não quero é ter de passar outra vez pelo fim de um relacionamento, que estou certa que a acontecer, vai ser muito bom, vai-me supreender muito, vai-me marcar-me muito e deixar óptimas recordações...
- Pequerrucha...
- Hihihi!
- Que foi?!
- Pequerrucha!
- Eheh! Olha, saíu... Pequerruchinha, diz-me uma coisa...
- Sim!
- Já sei que tiveste outros relacionamentos que te marcaram... toda a gente tem! Eu também já tive... Mas, essas memórias são-te agradáveis?!
- Sim, sem dúvida... mas as recordações do fim...
- Pára! Para aí... Guardas boas recordações, não guardas?!
- Sim, claro que sim...
- Então... com base nessas recordações, vês-te a ter excelentes momentos de felicidade com outra pessoa?!
- Sem dúvida!
- Ora, isso mostra que tens uma apetência para viveres e partilhares a tua vida com outra pessoa... Ou pelo contrário, as melhores recordações da tua vida vêm de momentos e conquistas tuas sozinha, em momentos de solidão, introspecção ou mesmo isolamento?
- Claro que não... tenho noção que sou mais feliz se tiver ao meu lado alguém que me complemente, que partilhe comigo a vida.
- Óptimo! Eu também... Agora repara... Se a felicidade que tu queres para ti, implica teres uma pessoa com determinadas características ao teu lado, porque é que evitas essa proximidade?... Não te parece um contra-senso... Tens é de procurar essa pessoa! Ou não será?!
- Pois... deixaste-me sem argumentos... parece que tenho feito tudo ao contrário...
- Ehehe! Nem para ti és boa!
- Eheheheh! Toma lá uma ferradela!
- Au!... Podes dar outra! Eheh!
- Hihihi! Parvo!
- Mas percebeste o que te disse... Percebeste acima de tudo quanto é inútil esse sofrimento? Que só te bloqueia...
- Tens umas ideias controversas tu... fogo! Sempre achei que o amor não se procurava... que se encontrava por acaso... por destino...
- Então a solução seria ir para a igreja rezar pela vinda do príncipe encantado!
- Hihihihi! Ou do lobo mau?!
- Eheheh! Mas é isso... Temos de procurar e criar um contexto propício para aquilo que queremos aconteça. Sou muito pragmático nesse aspecto... Não acredito que a minha felicidade dependa dos outros. Pelo contrário, decorre das minhas acções... E acho que é aplicável a tudo: vida profissional; vida afectiva; hobbies; sonhos... sei lá!
- Sempre te admirei por isso... és uma pessoa que transmite segurança e tranquilidade... apesar de encarar a vida de uma forma totalmente distinta da habitual...
- Sabes... algumas pessoas contentam-se com o que lhes sai na rifa... seja muito ou pouco, ou mesmo uma desgraça... há outros que são mais inconformados!
- Que é mais o teu caso!
- O nosso caso... também te acho assim. Gosto de bater os meus records.
- E o que é que te conformaria a dormires, porque já é tarde?
Lourenço afastou-se ligeiramente de Catarina e olhou-a nos olhos. Em simultãneo, tocava-lhe numa perna fazendo carinhos suaves, enquanto que com a outra mão, agarrava uma das mãos de Catarina. Catarina massajava-lhe suavemente o ombro direito...
- Se me adormecesses com beijinhos, eu não ofereceria resistência...
- Se é teu desejo, assim será!
Aproximou-se de Lourenço e deu-lhe um beijo leve nos lábios. Depois empurrou-o, deitando-o de barriga para baixo. Em seguida, deu-lhe inúmeros beijos nas costas... Lourenço adormeceu rapidamente e sem oferecer resistência, esboçando aquele sorriso de quem está em pleno paraíso!
Lourenço acordou às dez da manhã. Reparou que Catarina já estava acordada e ambos sorriram...
- Bom dia Princesa!
- Bom dia Sapo! Hihihi...
- Eheheh! Já estavas acordada há muito tempo?! Podias ter-me acordado... da mesma forma que me adormeceste... Não resmungava de certeza...
- Hihi! Acredito que sim... mas achei que já estavas excitado que chegue! Ehehhe! Não precisavas de mais contributos! Hihihihi!
- Oh... estás a gozar com o meu corpo e a envergonhar-me... O que é que queres que te faça... Não é algo que se controle... É fisiológico... De manhã...
- Pois... São resistentes esses boxers! Ahahahahah!
- Agora quem vais levar és tu! – e atirou-lhe com a almofada.
- Hihihihihi... até me doi a barriga! Hihiihihi!
Nessa altura batem à porta e soa uma voz: “Pouco barulho! Mesmo que não soubesse, pelas gargalhadas não me restaria qualquer dúvida que este quarto é o vosso!”. Era a voz de Mariana que se ouvia através da porta. Olharam um para o outro e riram-se ainda mais!
- Bem, pelo menos, de tanto rir, já me posso levantar para ir à casa-de-banho sem passar vergonhas à tua frente!
- Hihihihi! Então... hihihihi... não era suposto o contrário... Rir... excitado...
- Rir descontrai!
- Hihihihi!!!
Lourenço regressou da casa de banho já desperto e dirigiu-se a Catarina:
- Adorei adormecer com os teus beijinhos...
- Também me soube muito bem... a nossa conversa agarradinhos – e com isto agarrou-o e ficaram os dois deitados na cama – os teus miminhos... dar-te aqueles beijinhos e ver-te adormeceres a sorrir! Adormeci e acordei agarrada a ti... caso não tenhas notado...
- Pronto, está explicado o meu estado de há pouco...
- Hihihihi! Não comeces com essa conversa! Hihihihi! – Lourenço fazia-lhe cócegas e Catarina ria descontroladamente. Quando se acalmou, levantou-se ainda meia zonza e rir-se. Aproximou-se de Lourenço e disse-lhe:
- Bem... vou para a casa de banho e quando regressar, levantaste... senãhhooo... ei... perdemos o pequeno almoço. – mas antes de se dirigir à casa de banho, deixo-lhe um beijinho nos lábios!
Lourenço ficou deitado na cama a preguiçar; estava feliz porque o relacionamento com Catarina estava cada vez mais interessante... e os dois estavam muito tranquilos e felizes.
Não tardou estarem os dois a tomarem pequeno almoço. João e Gonçalo já se dirigiam para o court, para começarem a aquecer. Enquanto os empregados começavam a levantar as mesas, os dois conversavam calmamente, e deliciavam-se com um pequeno-almoço generoso.
No court, o jogo já havia começado. Ambos os amigos estavam a jogar bem, mas Gonçalo mostrava mais eficácia a fechar os pontos. O 1.º set terminou com 6-4 para Gonçalo. O jogo continuava competitivo mas também descontraído... os amigos trocavam uns comentários e brincadeiras entre eles, sob um ar de reprovação da equipa de arbitragem. A assistência, essa, ria-se abundantemente! O 2.º set foi favorável a João num 7-5 tirado a ferros! Já no 3.º set, Gonçalo voltou a impor-se por 6-4. O 4.º set acabou por ser o derradeiro para João, que não conseguiu contrariar a maior eficácia de Gonçalo, tendo perdido novamente por 4-6. O jogo foi muito aplaudido e todos congratularam o excelente nível técnico de ambos.
Já fora do court, as brincadeiras começavam:
- Ehehe! Vocês estão condenados a jogarem um contra o outro! – dizia João.
- Se tudo correr bem... lá vai o Gonçalo perder pela 1.ª vez... – sorria Lourenço.
- Pois, pois... o torneio vai terminar da mesma forma que começou: connosco no court e comigo a ganhar! Eheheh!
- Não sei... não sei... – Lourenço mantinha o mesmo sorriso.
- Bem, então dá lá cabo desse gajo e depois vemos isso!. Vou-me para o duche...e vou tentar dar um mergulho na piscina, depois da massagem.
- Ok! Mas há outra coisa... quem ganhar, paga um jantar no Porto!
- Combinado!
- Mas o jantar é a 6 e não a 4! – lembrava João entre gargalhadas. – Ainda nem te dei os parabéns...
O jogo começou muito bem e logo com vantagem para Lourenço. Na bancada Catarina mostrava-se algo ansiosa... No entanto, Lourenço impôs o seu primeiro serviço desde cedo e rapidamente o adversário começou a baixar os braços. Com o sorriso de Catarina a acompanhar, rapidamente os sets de sucederam com 6-4, 6-2, 6-2. Um jogo relativamente fácil, em que Lourenço aproveitou para por em prática um jogo mais ofensivo e de risco, com muitas subidas à rede, muitos voleys cruzados e smashes, para delícia da assistência presente. O adversário, simpático, congratulou Lourenço e saíram juntos do court. Lourenço aconselhou-o a ir ao SPA experimentar as excelentes massagens de que poderia desfrutar. Seguramente, não estaria massacrado fisicamente no dia seguinte. E de facto, ambos se encontraram no SPA.
Já ao almoço, e depois de terem desfrutado de um mergulho gélido na piscina... afinal estavam em Maio, Gonçalo continuava optimista com a sua vitória como certa. Lourenço ria-se... e ia-lhe explicando, que lhe convinha não entrar o torneio a ganhar, etc., entre argumentos estranhos e hilariantes.
- Sabes... o primeiro milho é para os pássaros!
- Ehehehe! Não vais ter hipótese! – Catarina ajudava agora à festa.
A final estava marcada para a 5 da tarde, mas a organização foi logo advertindo que às 7 todos os praticantes estavam convocados para uma futebolada! Ao que os dois jogadores imediatamente aderiram.
- Já agora – perguntava Lourenço – o que acham de ficarmos cá para amanhã? Em vez de irmos hoje à noite depois de jantar, dormimos cá, aproveitamos melhor o jantar... o bar aberto... ehehe! E amanhã, podíamos ir dar um passeio, em vez de irmos directos para o Porto... o que acham?!
- Olha – referia Joana – honestamente, nós já tínhamos decidido isso. Faz todo o sentido... portanto, marquem mais uma noite, quartos não faltam, e amanhã passamos o dia os seis a passear por aí!
- Que dizes Catarina?!
- Não é nada que não me tenha passado pela cabeça... afinal, amanhã nenhuma de nós trabalha, verdade?! E tu podes baldar-te?!
- Sim... não marquei nada... faço um telefonema só a avisar que não vou e o meu people aguenta aquilo!
- Então está combinado!
- EIA!!!
Tudo decorria de vento em popa. O fim de semana tinha-se revelado excelente para Gonçalo; ele e Catarina estava cada vez mais próximos. O torneio corria bem. Estavam a ser tratados princepescamente. Tinha conhecido pessoas que se revelavam excelente companhia. As perspectivas para este dia de Domingo eram excelentes: tencionava ganhar o torneio e o jogo de futebol (sobre o qual já toda a gente discutia mais do que sobre a final de ténis). Ia passar mais uma noite com Catarina (que minuto a minuto se tornava mais promissora!). E amanhã, ia ainda passear por Portugal. Vida de sonho!
Finalmente chegava a hora de voltar a vestir o equipamento. Confiantes os dois jogadores aguardaram um pelo outro à saída do quarto. Caminharam até ao court os dois, entraram em campo desejando boa sorte mútua.
O serviço saiu para Lourenço. Com uma confiança inabalável fez vários ases nos primeiros jogos e conseguiu o primeiro break de serviço ao 4.º jogo, repetindo ao 6.º. Fechava assim o 1.º set com 6-4. No 2.º set, entra ainda mais forte e faz 2-0. Já no 3.º jogo, faz um passing shot de esquerda impressionante para delírio da assistência... no entanto... fica com um ar desconfiado... A explicação surgiu no ponto seguinte com a rede a rebentar... Desolado, dirigi-se ao saco e troca de raquete. O problema é que trocar uma Volkl V10, por uma Prince Classic em magnésio com 20 anos, implica mudar toda a forma de jogar...
Lourenço regressou ao court inseguro... e nesse set não conseguiu ganhar mais nenhum jogo. Gonçalo pressionava-o muito bem a imprimir um ritmo rápido, situação em que Lourenço acabava por fazer bolas demasiado compridas... Resultado: 2-6 para Gonçalo e jogo empatado.
O 3.º set começou bastante mal, tendo estado Lourenço a perder por 3-0. Não estava a conseguir colocar efeito na bola e esta ia sempre fora... Depois de muito meter as mãos à cabeça, passou a optar por um jogo mais agressivo de rede, com voleys muito curtos e rápidos. Não hesitava em fazer smashes e nas pancadas mais longas, havia que imprimir uma forma brutal, para que aquela raquete conseguissem realmente aninhar a bola. O resto do set equilibrou-se, mas mesmo assim, Gonçalo fechou com 6-3; vencia neste momento por 2-1, deixando Lourenço no fio da navalha.
O 4.º set começou com os dois jogadores muito concentrados. No entanto, o facto de Lourenço ter feito um break logo no 1.º jogo (já nas vantagens) e ter ganho o 2.º jogo a zero, tendo inclusivamente terminado com 2 ases, enfureceu Gonçalo que bateu com a raquete no chão e esta partiu! Não se contendo, os dois jogadores desatam à gargalhada. Lourenço aproxima-se da rede, enquanto Gonçalo ia buscar outra raquete ao saco:
- És mesmo um copião! Não podias só ganhar o jogo e pronto... Não, queres também jogar com a raquete de reserva!
- Eheheh! Não gozes, não gozes... ehehe!
- Ainda por cima tens outra raquete quase igual?! Tens patrocínio da Wilson?!
- Eheh! Não, esta é antiga!
- Wilson é a marca dos meninos queques!
- Já vais levar com um queque na tromba... ahah!
- Ehehe!
Esta brincadeira para descontracção levou a uma advertência da arbitragem a ambos os jogadores.
O jogo seguiu equilibrado. Gonçalo ainda conseguiu recuperar algum ritmo, mas Lourenço parecia já estar mais habituado à raquete e acabou por fechar com 6-4.
Entrados no derradeiro set, vivia-se a atmosfera do tudo ou nada. Lourenço arriscava tudo; batia na bola com quanto força tinha. Desde que tinha trocado de raquete, evitava as esquerdas, porque a direita saía melhor, com a bola a bater no chão e a aninhar bastante.
Já com o resultado em 3-1, Lourenço falha um smash e imediatamente põe a mão no ombro... Meio anestesiado vê Gonçalo a ganhar mais um jogo. Jogava-se literalmente o “vai ou racha”. O serviço era de Lourenço e com esta raquete parecia que o serviço saía ainda mais forte; no entanto, os arcos pronunciados que com a raquete anterior a bola desenhava, eram bem mais difíceis de receber e não conseguia fazer ases agora. O jogo tornou-se estonteante em velocidade, e os pontos eram maioritariamente decididos na rede.
O jogo chega a um ponto crucial: 5-4 para Lourenço e jogam-se as vantagens. Lourenço perde e Gonçalo pula e alegria. Tinha conseguido empatar ao 10.º jogo. Tudo estava em igualdade outra vez.
Numa troca de campo, Lourenço dizia: “...eu nunca gostei de piso sintético!”. Riam-se agora mais discretamente, não fosse o árbitro adverti-los outra vez.
Os dois jogadores tinham um ar tenso agora... E na assistência imperava o silêncio. Catarina e Mariana até tinham medo de ver.
Bola em jogo novamente e Lourenço voltava a surpreender. Recuperara a sua esquerda a duas mãos. Cruzava bolas rapidíssimas, que batia em aceleração para rede, para se antecipar à jogada seguinte. Estava literalmente a encostar Gonçalo às redes do fundo do court. Quando Gonçalo conseguia ainda jogar a bola, surpreendia-o com amorties na rede. 6-5 para Lourenço. Tudo restava saber agora se o serviço de Gonçalo os levava a tie break, ou se seria insuficiente.
Gonçalo abre o jogo com um às e colhe sonoros aplausos. Na jogada seguinte é Lourenço que responde com um passing shot muito rente à rede e a bater em cima da linha lateral, totalmente inalcansável para o adversário. Os pontos seguintes conduziram-nos às vantagens e foram os mais longos dos jogo. Algum cansaço e medo de arriscar por parte dos jogadores, levaram a jogadas embora rápidas, cautelosas. Com vantagem nula, Gonçalo consegue surpreender Lourenço, sobe à rede depois de o ter encostado ao canto direito com um fortíssimo passing shot; no entanto, este surpreende-o com um loob impressionante em altura. Gonçalo ainda recuperou a bola, que devolveu-a lenta, permitindo a Lourenço uma aceleração incrível e impossível de alcançar.
O árbitro dizia pela 5.ª vez “vantagem da resposta e match point”. Gonçalo serve forte, resposta cruzada de Lourenço mas ao cento, a qual Gonçalo responde facilmente. Os jogadores posicionam-se novamente para lá da linha de fundo, onde se mantiveram por mais de 10 pancadas entre esquerdas e direitas, drives e passing shots. Até que numa esquerda, Lourenço corta repentinamente a bola que cai poucos centímetros depois da rede; Gonçalo, incrédulo corre e bate a bola na última. Mas Lourenço já bem posicionado e perto da rede limita-se a empurrar a bola para o outro lado do court, totalmente fora do alcance de Gonçalo, saindo esta pela lateral.
Era o delírio da assistência. O jogo terminava ao fim de duas horas e uma quarto e com os dois jogadores nitidamente desgastados.
- Então, achas que ainda consegues jogar futebol? – perguntou Lourenço a Gonçalo, levantando-lhe o braço.
- Só se for na tua equipa!
- Eheheh! Foi um jogo espectacular. Acho que nunca joguei tão bem como hoje...
- Parabéns! Tomo isso como um elogio...
- Claro que sim! É mesmo isso.
Logo a seguir Catarina saltava-lhe para o colo, dando-lhe o primeiro beijo em público... Ninguém se apercebeu! Excepto Lourenço...
A seguir tembém decorreu uma pequena brincadeira, ao melhor estilo de entrega de prémios, e que terminou com a apresentação de um placar com as equipas a defrontarem o jogo de futebol. Irónicamente, Lourenço e Gonçalo estava nas balizas! Algo que foi logo contestado, e por mútuo acordo, João, Gonçalo e Lourenço ficaram na mesma equipa.
Quase ainda sem forças, o jogo começou e a equipa adversária ganhou vantagem de 3 golos no marcador.
- O primeiro milho é para os pássaros... – relembrava Lourenço, acalmando a equipa e fazendo re-ajustes nas posições dos jogadores.
Ao intervalo já só perdiam por um golo.
- Gonçalo, agora que já descansamos, vamos pressionar forte. Ficas a ponta de lança e eu jogo a lateral esquerdo. Mantem-se no meio!
- Combinado.
O jogo começou e logo a seguir, num contra-ataque com troca de lado dos laterais, Lourenço remata forte de pé esquerdo, a bola faz um arco a meia altura à frente do guarda-redes e entra bem rente ao poste. Jogo empatado com delírio no campo.
A partir daí, esta equipa dominou totalmente o jogo. As desmarcações pelo lado esquerdo eram frequentes, seguidas de cruzamentos de Lourenço para Gonçalo que irremediávelmente davam em golos. A cereja no bolo veio com o 3.º golo de vantagem, em que João fez um belíssimo livre directo por cima da barreira da defesa.
No final, ainda tiveram direito aos títulos de Melhor Jogador em Campo para Lourenço; Melhor Marcador em Campo, para Gonçalo com 6 golos; e Melhor Guarda-Redes para João, o único que passou pela baliza sem sofrer golos.
Á rebelia da gerência do hotel, as duas equipas atiraram-se para a piscina vestidas.
Dada a proximidade da hora de jantar não houve tempo para massagens... mesmo com reclamações! Havia uma pequena cerimónia para agradecimentos e divulgações técnicas dos novos produtos do patrocinador, pelo que os horários eram mais rígidos naquele dia.
O jantar foi tão animado quanto delicioso. A cerimónia em causa uma vez terminada deu origem ao maior convívio entre todos os convidados, até porque eram poucos os que iriam regressar naqueles dia.
Já a noite ia longa e devidamente regada por um bar aberto, quando os nossos amigos resolveram recolher aos quartos:
- É boa ideia! Já bebemos que chegue, precisamos de descansar, ainda quero fazer uns miminhos aqui à patroa, e amanhã, se vamos passear, não podemos dormir até ao meio-dia. – reclamava João.
- Até porque amanhã o pequeno-almoço é só até às 10 horas... e sem pequeno-almoço, não vou a lado algum! – reclamava Catarina.
Despediram-se e cada um foi para seu quarto.
- Catarina, foi um fim-de-semana e tanto...
- Ainda não acabou!
- Tenho de te agradecer... adorei tudo!
- Tudo?!
- Sim, tudo! E não vou para a varanda...
- Hihihihi!
- Não precisas... hoje podes ir tu primeiro para a casa de banho.
- Ahahaha! Olha que eu venho depressa!
- Óptimo!
Quando Lourenço regressou, Catarina já estava de camisa de noite.
- Uau! Que inovações por aqui andam...
- Um minuto e já regresso! – e entrou na casa de banho.
Mal apareceu, saltou para cima de Lourenço, agarrou-o e deu-lhe um beijo apaixonado.
- Não imaginas o bem que me tens feito neste fim-de-semana! E hoje, fizeste-me sentir uma privilegiada. Ganhas o torneio, o futebol, melhor jogador, toda a gente te acha simpático e gosta de ti... Até as minhas amigas te elogiam constantemente...
- Antes demais, adorei esse beijo – Catarina beija-o novamente interrompendo-o – e a pergunta que te queria fazer era se querias prolongar esse bem-estar?!
- Essa é uma forma muito original de propor alguma coisa...
- No fundo, a mesma coisa que te queria propôr há já algum tempo...
- Sim... mas só agora é que tal foi possível concretizar...
- A minha proposta é a de tornar este fim de semana extensível aos nossos dias... todos... Claro que não de uma vez só... Claro que podemos ter momentos muito melhores do que estes já de si muito bons...
- Achas mesmo que é possível compatibilizarmo-nos todos os dias e superar este fim de semana?
- Claro que sim!
- E prometes ter paciência para aturar aqueles momentos em que eu não vejo as coisas com o teu pragmatismo e simplicidade?
- Aos poucos, lá chegaremos... além do mais... se não tentarmos, nunca saberemos se conseguimos...
- E se ou outros conseguem...
- Não interessa o que sabes, mas sim o que fazer com o que sabes...
- Sabes uma coisa...
- Ainda não...
- Hoje, quem quer muitos beijinhos sou eu!
Lourenço abraçou Catarina carinhosamente, enquanto procurava os seus lábios com beijos na face. Enrolaram-se um no outro e ternamente foram soltando as poucas peças de roupa que tinham. Amaram-se como se um só fossem, longa e intensamente durante a noite. Adormeceram exaustos e donos de uma felicidade que poucas vezes somos capazes de sentir e viver.
No dia seguinte, foram acordados por alguém a bater à porta. Nús como estavam, não podiam abrir... Lourenço perguntou com uma voz enrolada quem era. Do outro lado, a voz meiga de Joana dizia: “Sou eu dorminhocos! Passei aqui e como não ouvi barulho nenhum no vosso quarto, vi logo que estavam na dorminhoquice! Toca a levantar! Já são nove e meia...”. Lourenço agradeceu a Joana e riu-se... tal como Catarina e Joana.
- Bom dia Princesa! Que despertar tão violento...
- Podes crer!
- Ainda por cima, vamos ter de acelerar...
- Oh não... e eu que ainda te queria mais um bocadinho...
- Também eu... mas ficamos sem pequeno-almoço...
- E rabugentos... e esfomeados...
- Catarina... vamos a um 2 em 1!
- Como?...
- Já para a banheira que eu já te explico!
- Eheheh! Anda daí!
Chegaram ao pequeno-almoço em cima da hora de fecho. Vinham com um sorriso descontraído, mas não escondiam umas boas olheiras!
- Olha-me para estes... atrasados ao pequeno-almoço!
- Que terão estado eles a fazer Gonçalo? – acrescentava Mariana.
- Ainda tens dúvidas... olha para aquelas olheiras! – observava Joana.
- Tchi... vocês não querem ficar cá! Nós vamos bem sozinhos! – ria-se João.
A animação começou logo ao pequeno-almoço, com o planeamento da viagem. Lourenço sugeriu ainda que jantassem todos juntos no Porto, à chegada. Afinal, cabia-lhe a ele oferecer um jantar por ter ganho a Gonçalo.
Estava um dia fantástico de Primavera, pelo que Catarina e Lourenço não hesitaram em vestir um casaco e abrir a capota. Os Divine Comedy deram lugar aos Rolling Stones, Cousteau, Amy Winehouse e De Phazz.
Seguiam em direcção a Aveiro para aí almoçarem, e depois conhecerem algumas praias.
Já ao final da tarde, havia que recolher a capota por causa do frio... Este acto tornou o convívio entre Catarina e Lourenço ainda mais aconchegante. Agora sim, sentiam-se realmente a cara metade um do outro... mas descontraídos e sem medos... seguros, gostando de si mesmos e sabendo que o outro apenas poderá melhorar a vida de ambos, complementando-se, nestas circunstâncias.
O dia terminou com um jantar num restaurante pequeno e acolhedor em Leça, escolhido por Lourenço, onde se poderam deliciar com uma especialidade de peixe. Este grupo de amigos havia conseguido muito boa sintonia entre si; seguramente tinham muito pela frente para conviver. Despediram-se já com saudades e planos para um novo jantar.
Quando Lourenço deixou Catarina em casa, a despedida foi dolorosa. No entanto, ambos se sentiam leves... quase que descomprometidos com o futuro. Os desafios comuns são a melhor união de duas pessoas, por isso, ambos estavam seguros de si e em relação ao outro.
Apesar da profunda incógnita, a felicidade do momento fazia parecer que nem o céu seria o limite...
Sérgio