(Enquanto não consigo tempo para escrever sobre as tão abençoadas férias de neve da passada semana, deixo-vos com um sonho recorrente... o tempo passa, mas o sonho repete-se...).
Sonho contigo, sereia do meu coração... sonho connosco a passear na praia ao final do dia... O Sol acusa serem mais de 7 horas da tarde e estarmos no fim do Verão.
Este é um cenário que conheço bem. No Verão tento sempre sair mais cedo da empresa e passear sozinho na praia ao final do dia. A essa hora o Sol já não é quente, mas é envolvente ainda... O Mar parece ter acalmado e cansado de um dia de ondas, mostra-se mais brando e tranquilo; o mergulho é apetecível e demonstra-se mais rejuvenescedor que qualquer outro... o arrepio da água fria e o arrefecer de fim de tarde, obrigam o corpo a reagir à diferença térmica, o que exponencia a sensação de relaxamento. Depois, subo a duna e preparo uma bebida para mim e para o meu Pai, enquanto acendemos o churrasco e grelhamos o jantar... sempre com a minha mãe por perto, que nos brinda com iguarias únicas, que prontamente nos deliciam num jantar descontraído... estamos vestidos com t-shirts e calções e jantamos no alpendre, iluminados por os últimos raios de Sol do dia... os mais emblemáticos pela sua coloração avermelhada...
No meu sonho passeio pela praia contigo. Ambos conversamos e sorrimos... ambos vivemos aquele momento como se fosse o último dia em que o pudéssemos viver... Aproveitamos na plenitude cada momento um do outro, cada toque das nossas mãos, cada abraço... cada palavra... cada brisa, cada pedacinho de areia molhada nos nossos pés, cada gota de água do mar que sobe pela areia até nós trazida por uma onda meiga e acariciante, cada momento de luz daquele Sol vigilante... cobertos por um céu cheio de tons brandos, desde o azul ao laranja... A tua voz meiga e o teu riso inebriante são tudo o que preciso para considerar a vida como o que de mais desejável posso ambicionar. É nestes momentos que vejo como nos complementamos e como na verdade somos um só... arrancar essa parte de mim, a melhor parte, a tua parte, torna a vida um vazio sem graça... O teu sorriso, os teus olhos são os tónicos da minha alma... São eles que me fazem acordar com um sorriso e começar a sonhar imediatamente com tudo o que de bom vou voltar a viver mais um dia. A tua pele e o teu abraço são tudo o que quero proteger; o teu carinho é o meu maior protector e revitalizador... és tu que me tornas forte e indestrutível... és tu que me fazes respirar... O teu corpo é a cama que me abraça ao final do dia e as tuas mãos o unguento que me cura das intempéries do dia a dia. O meu desejo... é ser para ti tanto ou mais do que tu és para mim, representas, complementas e completas...
A praia está praticamente deserta... talvez já estejamos em Setembro... e os veraniantes já se tenham recolhido... mas não estamos sós... Connosco passeia pela praia uma pequena sereia... que hora corre, ora chapina na água, ora desenha na areia lisa da descida da maré... ora pendura-se nos nossos braços, ora trepa para os meus ombros. Ri muito e muito alto! As gargalhadas dela conseguem calar o imenso oceano, que para a ouvir parece suspender momentâneamente as ondas, já de si mais tranquilas. Ela é como tu... tem cabelo castanho, com fios aloirados agora pelo Sol de Verão... morena... como tu... ou será mesmo do tempo de praia... Tem os teus olhos brilhantes, a boca expressiva e as bochechas mais fofas do mundo... Apesar da ténua idade, transcreve um corpo de sereia... um decalque teu... É linda e encanta-me vê-la correr e gritar os nossos nomes.
Se um dia puder escolher o meu "paraíso", será este o meu momento... o momento que quero aprisionar no tempo... o momento que quero recordar na velhice. E quando fechar os olhos, terei um sorriso tranquilo no rosto... de satisfação de quem viveu sabiamente porque assumiu a plenitude dos sentimentos, que momento a momento, o Presente nos dá (e é mesmo um presente!). A satisfação de quem soube amar, porque confiou no coração, e não na mente, sempre afectada pelos juízos estereotipados e experiências em que tendemos a julgar diferentes pessoas pelo mesmo padrão... e de quem deu à pessoa que mais mereceu tudo o que tinha dentro de si, sem medir esforços para a complementar e fazer tão feliz quanto eu próprio sou com ela... sem medir ou comparar... sem deve e haver... sempre de peito aberto, boa fé e sem receios de traição ou dissabores... porque também atraímos o que pensamos. A satisfação de ter a consciencia tranquila, porque servi com satisfação todos os que por mim se cruzaram, recordando as boas experiências que celebraram boas relações pessoais, e rapidamente esquecendo os episódios desagradáveis... deixando o peso de consciencia a cargo dessas pessoas que por momentos tiveram medo... medo de viver plenamente... e tendo esperança que esse sentimento inconveniente os faça mudar... afinal, a única justiça eficaz é a da nossa consciência.
Sonho contigo... connosco...
Sérgio