Gosto muito de motos. E sempre que tenho a possibilidade de as conduzir, vou experimenta-las. Por curiosidade, por prazer, para conhecer e saber mais... e acima de tudo, porque não há prazer de condução que ultrapasse o de uma boa moto! Gosto, especialmente, das que "se ama, ou se detesta"; das que só fazem bem uma coisa, e não é por defeito ou limitação, mas por feitio e opção. Nunca achei piada alguma a motos versáteis e económicas, que acolhem o reconhecimento generalizado como "moto interessante" ou "opção racional"; tipo, "posso entregar pizzas à semana e passear ao Domingo com o pessoal do Motoclube pela A28 a 250 kms/h até Vila do Conde" ou "posso ir trabalhar e passear com a mulher confortavelmente, e em simultâneo, fazer track days". Não... para mim, moto é adrenalina e nega compromissos multifacetados. Claro que podemos (e devemos) fazer isto tudo com a mesma moto, mas escolher uma que faça bem tudo, é o mesmo que não fazer especialmente bem nada! E só a falta de isenção nos fará afirmar o oposto.
No Sábado passado fui ao Open Day da Ducati Norte. Em primeiro lugar, quero elogiar e agradecer o cuidado, a educação e a atenção com que fui tratado por toda as pessoas desta empresa. Não me conheciam de lado algum e eu nem sou um cliente de curto prazo... apenas um admirador da marca, como demonstra o lenço vermelho "Ducati Corse" que uso, habitualmente, ao pescoço.
Tive ainda o prazer de reencontrar o Joca (que já não via desde 2006, num jantar no Estoril, por ocasião do MotoGP) e foi ele a conhecer-me... a minha miopia deve estar a piorar! E mais tarde, também o Bruno Pinto apareceu para conversar um bocadinho. O meu primo Paulo chegou logo ao início da tarde, com a sua "nova" VFR 800fi vermelhinha! Um must!
A única Ducati que alguma vez conduzira, e já lá vão mais de 10 anos, era uma bela Monster 600 preta, que uma amiga havia comprado usada. Experimentei a moto num dia de chuva e ficaram duas memórias tão nítidas, como se tivesse sido ontem. Em primeiro lugar, a facilidade de condução envolvida numa melodia de motor/escape única; ao fim de 10 kms, parecia que a moto era minha de longa data e raspar com os avisadores no chão era tão natural como esgotar segundas e terceiras nas ultrapassagens, na estrada de Entre-os-Rios. A segunda memória foi a de os piscas deixarem de funcionar quando chovia intensamente (depois da moto secar, ressuscitavam!)...
Conduzi a Monster 696, que nada tem a ver com a versão original. Mantem-se muito viva, rápida e muito intuitiva. Arrisco dizer que curva sozinha! Sim, quando pensamos em curvar, ela já curvou e tudo o que fizermos a seguir, vamos ter de desfazer para voltar a equilibrar a moto. É inebriante! Acho que se andasse nela, diariamente, estaria tentado a usar uma só roda em vez de duas... alternadamente, em aceleração ou em travagem. É uma adrenalina e uma tentação. É o tipo de moto que nos põe a pensar nos riscos que nos faz correr... é preciso ter força de vontade para andar devagar.
Dei uma pequena volta com a Diavel... só vou dizer que é "hipersónica"! O motor 1200 deve ser um reator nuclear e não um motor de combustão... só pode! Não é, todavia, o tipo de moto a que me adapto melhor, porque a posição de condução é muito vertical e os poisa-pés estão muito à frente. Reconheço que a haver defeito é meu... a Diavel tem um feitio próprio e mesmo que não se aprecie, só olhar para ela já é um regalo!
Como a Monster 1200 S e a Panigale 899 tinham marcações, estava na hora de recolher... Só que por sorte do destino, houve uma desistência para a moto que eu mais curiosidade tinha em experimentar! Não, não era a Monster 1200 S (sinceramente, até acho que a adulteração do conceito base não faz sentido, a avaliar por uma pequena volta que dei na de um amigo há um mês atrás).
Nem estava em mim quando me pus em cima da Panigale 899! Ainda perguntei ao técnico que me deu algumas explicações sobre a moto (sim, porque isto da tecnologia nas motos tem muito que se lhe diga: set up de suspensões, acelerador, motor, abs, anti-wheelie, quick-shift, and so on!), se havia algum cuidado especial a ter, além do "rolar do acelerador". Estranhamente ele disse que não! Colocou a moto em "race" (o set up mais agressivo) e disse para eu "divertir-me"! Divertir-me?! Com uma moto de 148cv e 165kg?! Não me deveria dizer que eu tivesse cuidado e trazer a moto intacta?! Sempre são 15.000€ de moto...
Arranquei muito expectante... tinha ideia que tudo o que referi sobre a Monster 696 iria ser exponenciado a 10! E não poderia estar mais errado... Trata-se de uma das motos mais doceis que alguma vez guiei. Mais: uma das motos mais confortáveis que alguma vez guiei (à parte das cruisers e das tourings!). Mais ainda: uma das motos mais seguras que alguma vez conduzi. Podemos andar devagar, sem ter o motor aos soluços e a dar solavancos; podemos andar devagar sem sentir que todo o nosso peso está em cima dos pulsos, sempre que passamos por qualquer irregularidade. Podemos fazer uma rotunda descontraidamente, que não teremos dificuldade em acertar com a posição do acelerador. Mas não estava ali para "andar devagar"! E quando abrimos o acelerador, mesmo com violência, a moto é sempre previsível... e inesperadamente rápida! Curvas lentas ou AE, ao olharmos para o velocímetro, vamos significativamente mais depressa do que esperávamos, mas sempre com um feeling de segurança e estabilidade muito bom. Os travões estão para lá do imaginável... Por momentos, fizeram-me lembrar a KTM Superduke 900 (de há 8 anos atrás?!); mas na Ducati temos ABS! Cheguei a apertar forte com a manete direita, mas o ABS não se fez sentir. A agilidade, a leveza e facilidade com que mudamos de direção é incrível! Nunca tive aquele feeling de moto incontrolável e que vai acabar por nos atirar ao chão. Nunca senti nenhum receio durante o percurso e com facilidade passei os 200 kms/h. Vejam lá, que nem saí da moto a tremer, como tantas vezes nos acontece quando guiamos algo vertiginosamente rápido (lembram-se da Triumph Speed Triple 1050i?!). Tudo o que fiz, senti que estava muito longe dos limites da moto... Até porque sou especialmente zeloso nos test-drives e em estradas com trânsito (quase todos os meus amigos conduzem mais depressa que eu na estrada). Parei a moto com um sorriso até às orelhas, como se tivesse encontrado a minha alma gémea! O prazer de condução bateu lá no cimo da escala da satisfação. A única coisa que me apetecia dizer, era: "...posso ficar com ela? Esta mesmo; não me importa que já tenha 3.500 kms de testes, quero é leva-la agora; e sim, branca fica linda! E o som do bicilíndrico?! Delicioso...
Já tinha lido muito sobre esta moto e nunca acreditei no que li. Achei sempre que os jornalistas que fazem os testes, guiam tão melhor que eu, que naturalmente, os meus receios e limitações levariam a outras conclusões. Mas sobre esta moto, concordo com tudo... exceto num aspeto: dizem que não é uma moto para o dia-a-dia. Se a Panigale 899 não é, então as 5 primeiras gerações da VFR (tive uma da série III) também não o são... são mais pesadas e difíceis de manobrar, mais volumosas, sente-se mais calor, são mais cansativas para os pulsos e mais gastadoras de combustível. Tive uma Triumph Sprint 955i, que foi a moto que mais gostei até aos dias de hoje... pois... deixou de ser!
Sérgio
P.s.: lembrei-me de outro ponto a favor da Panigale 899: é monoposto!!!